400 Euros mensais é o valor que define em espaço europeu o limiar da pobreza. Sócrates, com pompa e circunstância, veio anunciar que no próximo ano o salário mínimo nacional seria actualizado para aproximadamente 450 euros. Tal anúncio não traz novidade, resulta dos acordos de concertação social assinados faz muito tempo. Envolve um compromisso prévio do governo, dos sindicatos e do patronato.
São cerca de 300.000 os trabalhadores directamente influenciados pela actualização, mas ascenderão a cerca de um milhão os indirectamente benificiados, por terem o seu salário directamente indexado ao salário mínimo.
Importa dizer que este é dos salários mínimos mais baixos de toda a UE, e o mais baixo se nos reportarmos à antiga ideia de Europa Ocidental. Os trabalhadores portugueses, quando comparados com os outros trabalhadores europeus, ganham mal e porcamente.
Apesar do momento de crise, Vanzeller veio confirmar que os acordos são para cumprir, pede apenas uma reunião de definição de implementação. Tentativa dilatória? Esperemos que não.
Francamente, não consegui até hoje encontrar uma razão para o dislate de Ferreira Leite ao classificar a actualização do salário mínimo como uma irresponsabilidade. Pelo menos, lata não lhe falta, até para as maiores barbaridades. É de facto séria, diz o que pensa. O problema é que o seu pensamento não presta, não serve ao país. Não se conhece a esta senhora uma critica ao escândalo dos salários milionários e desajustados que por aí proliferam; contudo, preocupa-se com a actualização do salário mínimo. A bem das contas, deixa o muito a quem tem demais, e compõe o resultado tirando a quem mais precisa. É inqualificável.
A crise terá custos incontornáveis; para não passar dramáticamente do plano económico para o social, terá de implicar solidariedade e medidas de patrocínio da coesão social. Deverá haver uma preservação de mínimos para sustentabilidade da ordem e de alguma tranquilidade social.
Sócrates não está a dar nada a ninguém, nunca o fez. Neste caso, está a cumprir os mínimos que até o patronato nacional entende serem correctos. Ferreira Leite, para além de se revelar incapaz para as funções futuras a que se propõe, falha na função presente ao inflacionar o valor real da medida do governo. O seu salário é manifestamente alto para a qualidade revelada no desempenho das funções. Esse sim, uma irresponsabilidade!