A OCDE veio confirmar com números exactos aquilo que todos já tinhamos apreendido no nosso dia a dia: em Portugal agrava-se, cada vez mais, o fosso entre ricos e pobres.
Já aqui escrevi sobre esta mexicanização do país, sobre as preocupações sérias que esta gritante desigualdade deve suscitar. Hoje, é um dado adquirido que quem tem muito dinheiro tem acesso a melhor educação, melhor saúde e mais eficaz abordagem da justiça. Longe vão os tempos de saúde de primeira universal e gratuita, ensino de qualidade para todos e justiça digna desse nome. Para este estado de coisas, concorre a imoralidade de salários injustificadamente altos para alguns e desavergonhadamente baixos para a maioria. Morreu o sonho de uma sociedade mais justa e solidária, começa-se perigosamente a pensar se o estado assistencial e caritativo não será melhor que o actual estado de coisas.
A economia de mercado, quando encarada com principios, pode trazer benefício e desenvolvimento que são partilhados por todos. É o capitalismo de rosto humano que defendo. Podemos encontra-lo nos países nórdicos, na Alemanha, na Holanda... Nestes países cria-se riqueza sem complexos, mas salvaguarda-se o bem estar geral e a participação de todos nessa riqueza. Registe-se as advertências recentes de Merkel em relação a salários que teimavam subir acima do razoável, pondo em risco a coesão social. Olhemos para o Estados Unidos e verificamos facilmente que os periodos de desenvolvimento mais longo e sustentado foram os de maior harmonia de rendimentos.
Do outro lado, temos o capitalismo selvagem e sem princípios, temos patrões a mais e empresários a menos, o desmando desumano chamado neo-liberalismo. Temos seres humanos que são vistos como mero factor produtivo, de quem se espera representem o menor custo possível e cujo bem estar é um factor irrelevante para o desenvolvimento. O sonho desta classe dirigente é ter uma classe produtiva que trabalhe melhor, mais horas e por um salário menor. Assim, poderá a classe dirigente aumentar exponencialmente os seus rendimentos. A coesão social faz-se no limite minimo da contenção da greve no imediato, o futuro há-de ser como calhar.
A crise que vivemos não é alheia a estas concepções do mundo, começa na finança, mas tem raizes profundas nas concepções sociais individualistas e liberais.
Voltando a Portugal, a análise diz-nos que esta tendência se acentua a partir de meados de 80, mas agrava-se significativamente nos periodos de governação socialista, actualmente, de forma alarmante. Em Portugal, pode falar-se de uma esquerda dos interesses, dum socialismo patrocinador da desigualdade social, que nos afasta da Europa social para nos aproximar da América Latina. É a grande herança da suprema hipocrisía de Soares: governar para os mais ricos, mas sempre com os pobrezinhos na boca.
2 comentários:
"só" se esqueceu de dizer que os números são referentes a 2005.
Vá ser tendecioso para a sua terra.
Antes de mais, agradeço ao sardinha assada e rosada, o facto de ser leitor do nosso blog. Há coisas em que tem bom gosto. Depois, dizer-lhe que se escreve tendencioso e não tendecioso, a não ser que queira referir-se a algum tendão.
Mais importantante, sendo os numeros disponíveis de 2005, nem quero imaginar os de hoje. É que, caro sardinha, estará você assado, mas estamos nós cada vez mais fritos!
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