Para quem não teve oportunidade de ler a entrevista de Alberto Souto ao "O Aveiro", aqui fica a transcrição da opinião que Alberto Souto tem do presidente da concelhia e a confirmação do ambiente de estabilidade e concórdia que se vive no PS. Perante uma entrevista destas, qualquer comentário é superflúo.
É por desagrado à política de Aveiro que tem mantido ultimamente algum recato nos comentários políticos?
Eu tenho um estatuto, como tem o dr. Girão e o professor Celso Santos, de ex-presidente da Câmara de Aveiro. E esse estatuto não só me permite como me obriga a nunca despir a camisola. Portanto, sempre que há temas suficientemente importantes que me levem a intervir, acho que devo sair a terreiro e não vejo que tenha de ficar inibido de dizer aquilo que penso. Mas de facto, acho que neste momento as coisas estão desinteressantes. As picardias sistemáticas e as tricas diárias eu deixo para quem tem gosto nelas. Eu não tenho.
Engloba o PS de Aveiro nas críticas?
Conhece aquela célebre frase do Churchill? No parlamento britânico ele dizia que os adversários estavam na bancada em frente e que os inimigos estão na bancada de trás, ou seja, na própria bancada. Isto, obviamente, não é assim tão simples. Tenho grandes amigos dos dois lados e tenho duas ou três pessoas que, por razões que eles entenderão, são verdadeiros inimigos e que fazem tudo por isso.
Como é que é criou essas grandes inimizades?
Quando se está nas funções em que eu estive, e se está para defender o interesse público e a verdade, a certa altura temos que afrontar interesses e desmascarar desonestidades intelectuais e políticas. E eu tive de fazer isso de uma forma muito séria em meia dúzia de situações. Um dia eu contarei… É uma vergonha. As situações com que tive de lidar são vergonhas para os próprios que os perseguem a vida toda. E essas pessoas sabem que o fizeram e devem sentir um enorme peso na consciência por isso. A forma de sublimarem essa desqualificação moral é denegrirem quem os desmascarou.
Está desiludido com algumas pessoas do PS Aveiro?
Retenho muito boas recordações. Enriqueci muito com as pessoas que conheci. Claro que também se enriquece humanamente com os desapontamentos que se tem. E nesta fase da vida política aveirense, quando o meu nome é referido, há várias motivações que aparecem: há o receio da Coligação de que eu possa ser candidato de novo e, depois, há o receio de algumas pessoas que têm ambições naturais de serem candidatas pelo PS e que também fazem coro com a Coligação no sentido de tentar, de alguma forma, deslustrar o trabalho que se fez e o legado que se deixou. Tenho pena porque as pessoas que não têm a humildade e a honestidade de reconhecer o trabalho dos outros são pessoas que se vão estatelar rapidamente. Quem tem muito calculismo político, rapidamente acaba por cair na primeira rasteira. Há um conjunto de pessoas do PS que neste momento estão a ter essa atitude. E eu sou magnânime. Perdoo isso tudo. Compreendo o que se está a passar e espero que as coisas estabilizem.
Raul Martins e a táctica do "eucalipto"
Como analisa o estado actual do PS de Aveiro?
Demarco-me completamente da gestão política do dr. Raul Martins. Tem sido um desastre. O dr. Raul Martins está a funcionar como um eucalipto. Está a secar tudo à volta, está a afastar todas as pessoas válidas que o PS tinha e está completamente isolado. É uma pena que a política em Aveiro, em decisões que podem ser fundamentais para o nosso futuro, neste momento esteja dependente praticamente de uma pessoa que tem as características que tem. Neste momento, são duas ou três as pessoas que estão muito mais preocupadas em gerir o seu próprio futuro político e as carreiras políticas dos jovens turcos que estão nesse grupo, do que propriamente em gerir politicamente o futuro. E quando a política se faz desses cálculos mesquinhos é um desastre.
O Partido Socialista está fragmentado?
Curiosamente eu diria que o PS de Aveiro se está a reunir em torno da crítica a essa forma de gerir o partido que é isolacionismo, segregador e desmobilizante. E tão mais grave isto é quanto é certo que esta Coligação, e em particular a total decepção que está a ser o dr. Élio Maia, permitiria facilmente conquistar a Câmara de Aveiro. E o PS, em vez de capitalizar isso e de captar as pessoas para a construção de um projecto alternativo, diverte-se com pequenas tricas e sem defender o património político que o executivo ao qual tive a honra de presidir deixou.
Não tem havido oposição nestes últimos três anos?
Não tenho visto da parte do dr. Raul Martins, à parte de umas entrevistas que lhe fazem nos jornais de quando em quando… Não respeita os presidentes de Junta eleitos pelo PS… Julgo que não passa do blog. E não é com o blog, sendo um meio importante para quem lê os blogs, que se ganham eleições. É preciso ir para o terreno, para as freguesias, ir para as associações, ouvir as pessoas, saber o que elas pensam, explicar as coisas, defender o trabalho político que a Câmara a que o PS presidiu fez em vez de deixar o passado arder em lume brando, o que é um erro político tremendo. Portanto acho que de facto não tem havido oposição consistente. Excepto ao nível da vereação. Acho que o Nuno Marques Pereira tem feito um excelente trabalho, tem sido combativo, persistente, e isto apesar da falta de condições e de toda a falta de transparência e de articulação que há com o dr. Raul Martins.
Diz que não é tarde para o PS conquistar a Câmara. O que terá de acontecer ao partido socialista para que isso aconteça?
Neste momento não acredito que com a direcção do dr. Raul Martins o PS possa ganhar as eleições. Portanto, das duas uma, ou ele tem a felicidade de encontrar um candidato que seja um nome ele próprio capaz de criar uma dinâmica política que faça as pessoas esquecerem o que se passou e que seja uma personalidade capaz de motivar, de entusiasmar e de congregar, ou então poucas pessoas estarão dispostas a ir para um projecto político que seja liderado pelo dr. Raul Martins. Se for ele próprio o candidato será uma humilhação. Acho, aliás, que ele é suficientemente inteligente e não corajoso para nunca ser ele o candidato.