D. Sofia é das figuras mais amadas de Espanha. Poucos recordarão que é uma ortodoxa convertida ao catolicismo, uma grega de ascendência alemã, de real sangue vincado, tornada espanhola pelo casamento. A indentificação do povo com su Reina é fortíssima.
D. Sofia era apreciada pela aparente imperturbabilidade com que convivia com as facadas matrimoniais de D. Juan Carlos, pela discreta gestão que fazia de algum desmando dos infantes, pela tranquilidade pública que transmitia nas alturas de crise privadas. Uma Senhora. Um exemplo nem sempre seguido pela monarquia europeia.
Contudo, aos setenta anos, sete decadas do tal papel exemplar, la Reina decide falar, mais, como alguém bem disse, a opinar sobre o humano e o sagrado. Renunciou à figura esfíngica, revelando que dentro há uma pessoa.
Durante setenta anos la Reina viu o mundo mudar radicalmente. Viu como as muheres, as outras mulheres, conquistavam o seu lugar no mundo. Viu aparecer a televisão e como esta se transformou numa máquina ávida, pronta a proteger ou a destruir a sua família. Os filhos partiram e ficou só no seu enorme palácio, porque sabe-se, el Rey é um "espirito livre". Escondeu sempre as emoções e espantou os espanhois ao deixar fugir umas escassas lágrimas no enterro do sogro, D. Juan de Borbón.
Agora que la Reina falou, caiu o Carmo e a Trindade. O gays ofenderam-se, os políticos retorceram-se, a igreja surpreendeu-se, a sociedade ficou atónita.
Do que li da longa entrevista a Pilar Urbano, acho que foi um exercício de afirmação pessoal, de análise existêncial que vem dar conteudo a toda uma vida. Não será uma coisa ao gosto de Jaime Peñafiel, mas ninguem poderá honestamente dizer que é uma traição à instituição. Não é um golpe de Diana, uma tonteria de Stephanie nem um bikini de Letizia. É a vida mais interior de uma mulher que aos setenta anos decidiu reivindicar o direito à opinião e que, não duvido, seguirá sendo la Reina.
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