A euforia dos últimos tempos com Espanha irrita-me de sobremaneira. Talvez por influência da minha Avó, destacada para a fronteira por dever conjugal e contingências da guerra, fui de pequenino habituado a um olhar realista, alguns dirão crítico, sobre Espanha e os espanhois.
A primeira ressalva que faço abarca toda a Andaluzia, terra mágica, fronteira com mundos diversos, poiso de gente de raça, fonte de afición, reduto de elegância única, como está na moda dizer: DPM!
A segunda prende-se com honestidade, há coisas realmente boas em Espanha. A saber: as tapas, os pinchos, o iberico, os rioja, os ribera del duero, os cava, os bons restaurantes (não em tão grande numero como dizem), os puros mais baratos e em maior variedade, a gasolina mais em conta e as colónias de banho frescas. Coisas como o flamenco, os toiros, a verdadeira movida, são andaluzes e não as incluo na Espanha generalista.
O que sobra então? Um povo que ultrapassa o orgulho pátrio com uma vaidade pacóvia e injustificável, uma nação dividida radicalmente, ainda hoje, sob a matriz da guerra civil. Continuamos a ter católicos ferrenhos e anti-cristos primários, franquistas devotos e esquerdistas radicais, ultra-conservadores e pós-modernistas. Não há um verdadeiro equilibrio ou coesão social em Espanha, há a alternância do domínio de uma ou outra facção; tem havido o verdadeiro milagre de no topo da pirâmide estar a sintese negativa de todo o povo espanhol: D. Juan Carlos. Tem havido o verdadeiro milagre de junto do rei terem estado espanhois atípicos, com a arte de sintetizar o impossível: Suarez, Gonzalez e Aznar. Quando o povo escolheu um dos seus, o resultado está à vista e, com Zapatero, a Espanha é hoje um país demitido dos valores, sem rumo nem caracter no quadro internacional, um enorme estado que para nada conta, uma curiosidade pitoresca.
Para ter uma visão desta Espanha, basta uma ronda pela TVE, para os resistentes à depressão, umas horas de TV Galicia, uma volta pelos suburbios das grandes cidades, uma tarde no El Corte Inglés, um domingo numa qualquer plaza mayor entre abrigos de piel (todos padronizadamente iguales), uma qualquer romaria, um passeio maritimo onde pais todos iguais passeiam bébés torturados por rendas e brocados. Arghhhh...
Permitam-me, neste desmando, que aqui chame a velha conversa entre pai e filho:
- Hijo, que quieres ser un dia cuando hombre?
- Pués padre mio, quiero ser exactamente como usted!
- Hombre, qué contento me quedo! Y porqué?
- Pués padre, para tener un hijo como yo, porsupuesto!
Para terminar, e porque a fotografia diz bem do índice de desenvolvimento deste povo civilizadíssimo, fiquem sabendo que esta cena dignificante aconteceu hoje num porto de pesca quando os pescadores em protesto ofereceram peixe gratuitamente ao público. Lindo, não?