De repente, deu-me uma nostalgia danada das velhinhas Selecções. Setembro está aí e era o mês da redescoberta perpétua dos mais antigos exemplares desta fabulosa revista.
Nenhuma revista tinha a intemporalidade desta, exceptuando talvez os magníficos almanaques Aillaud & Bertrand.
As Selecções ganhavam a imortalidade ao passar a fronteira da porta do quarto de banho ou da quinta da familia.
A ideia de momentos longos, numa retrete confortável, entre azulejos brancos, isolado do mundo exterior, com as Selecçõe na mão, ainda hoje me transmite paz e bem estar: o quarto de banho era o spa-refúgio da nossa rudimentar infância; o safe place onde ninguém nos incomodava, onde saboreavamos pela primeira vez o conceito de privacidade.
Depois, havia a segunda quinzena de Setembro na quinta. Aí, liamos nos idos de 70 e de 80 as Selecções de 50 e 60. Na sombra fresca do alpendre granítico, perdiamo-nos com as maravilhas da vida americana, com evidências de discos voadores e de marcianos, com milagres da boa vontade humana e anedotas breves e inocentes.
As Selecções viviam do drama e do optimismo. Vendiam um mundo melhor com um sorriso imaculadamente branco; esse mundo era uma miragem de América que nos protegia e guardava dos horrores do comunismo soviético, uma América onde as pessoas triunfavam pela força de vontade, onde a alta tecnologia estava sempre presente, onde aconteciam os mais diversos milagres e factos extraordinários, onde se encontraria a cura para as mais terríveis doenças.
O mundo mudou e a América também, as Selecções foram perdendo importância, seguem pelos caminhos da auto-ajuda, do new-age e da caça a Bin Laden; reinventam-se e fazem o seu próprio aggiornamento, mas a ideia de uma vida melhor e mais fácil está lá desde o princípio.
Há anos que não passo na quinta a última quinzena de Setembro, no meu quarto de banho está a Vanity Fair ou outra coisa trendy, mas há dias assim, dias em que nos apetece fugir para um mundo mais descomplicado e linear...