«.. a arte de esquecer a inutilidade em que se traduz a maior parte das inquietações que consomem o nosso tempo reduz as recordações a tão pouco, que muitas vezes se contam num gesto, e sem palavras.
É assim que os que se amam (...) adoptam uma espécie de código secreto e breve que resume num instante anos de convívio. Porque quase tudo se concentra num resumo sem grande importância, depois de ter parecido que justificava canseiras demoradas, debates prolongados, vigílias de angústia, pontos finais. Nisso se gasta a maior parte daquilo a que chamam o nosso tempo, e que é simplesmente a nossa vida, porque é em unidades de vida que o tempo se mede.
Entretanto descura-se o essencial nos nadas a que não sabemos quem nos obriga. É por isso que os livros de memórias tantas vezes parecem mais um protesto do que um testemunho, ás voltas com a espuma do tempo, tempo perdido, tempo doado, unidades de vida. (....)»
A Espuma do Tempo Memórias do Tempo de Vésperas
Adriano Moreira
Em tempo de férias, estas palavras sábias de Adriano Moreira parecem-me um retrato certeiro de alguns dos meus dias de stress laboral. Em que a concentração no trabalho é tão absorvente que este se torna o mote dos meus dias, tirando-me espaço e disponibilidade mental para tudo e todos, que são afinal quem mais me importa, de quem mais gosto e o que mais gosto de fazer com o meu tempo.
Uma vez mais, as férias relembram-me a necessidade de continuar á procura do equilíbrio, para conseguir em cada dia não descurar o que é verdadeira e realmente essencial para mim.
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