terça-feira, 6 de maio de 2008

Etty Hillesum

Este é um livro a não perder.
Etty Hillesum, jovem judia holandesa, morreu em Auschwitz em Novembro de 1943. Em Julho desse ano, no campo de concentração de Westerbork, escreveu o seguinte:

"Sim, a angústia é grande e no entanto acontece-me muitas vezes á noite quando o dia passou e mergulhou atrás de mim nas profundezas, vou seguindo, com passo ligeiro, as linhas do arame farpado, e sinto sempre subir do meu coração – não posso fazer nada, é assim, vem de uma força elementar – o mesmo encantamento: a vida é uma coisa maravilhosa e grande, depois da guerra teremos de construir um mundo inteiramente novo e, a cada nova exigência, a cada nova crueldade teremos de opor um pequeno suplemento de amor e de bondade a conquistar sobre nós mesmos. Temos o direito de sofrer mas não de sucumbir ao sofrimento. E se sobrevivermos ilesos de corpo e alma, de alma sobretudo, sem amargura, sem ódio, nós teremos também a nossa palavra a dizer depois da guerra.
(…) A artéria principal da minha vida estende-se já muito longe diante de mim e alcança um outro mundo. Dir-se-á que todos os acontecimentos presentes e futuros já foram tomados em conta em qualquer parte de mim, eu já os assimilei, já os vivi e já trabalho para uma sociedade que sucederá a esta. A vida que levo aqui quase não corta o meu capital de energia – claro que o físico se degrada um pouco e cai-se por vezes em abismos de tristeza – mas, no centro do nosso ser, tornamo-nos cada vez mais fortes. (….)."
- carta a Johanna e Klaas Swelik.

E foi no horror de Auschwitz que Etty Hillesum escreveu no seu Diário:
"Se Deus deixar de me ajudar, eu estarei aqui para ajudar Deus."
E também:
"…a gente não quer reconhecer que chegados a um certo ponto, já nada se pode fazer, mas só ser e aceitar."
É todo um testemunho espiritual de amor e grandeza de alma que suscita toda a minha admiração, desde a pequenez da minha fé e da minha imperfeição.


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