terça-feira, 15 de setembro de 2009

UMA BOFETADA DE LUVA BRANCA

Na 5ª feira passada, Filipe Pinhal, ex-presidente do BCP, deu ao Jornal de Negócios uma entrevista de promoção ao lançamento do livro que publica hoje, na qual dizia ter sido vítima inocente de uma conspiração manipulada na sombra pelo "Capitalismo de Estado e o Capitalismo de Familia, concorrentes directos do BCP" (sic). Instado a revelar se se referia ao BES, Pinhal escusou-se a responder, dizendo "o que escrevi está escrito. Quem quiser lê e interpreta. Se quisesse escrever tê-lo-ia escrito".
Com é bom de ver, Pinhal é de uma grosseria primária e de um descaramento atroz, se não fora hilariante.
Evidente é também que Pinhal continua a servir de pau mandado de quem permanece na sombra.
Hoje, Ricardo Espirito Santo Salgado responde áquela acusação velada através de carta publicada no mesmo jornal, e no dia do lançamento do livro de Filipe Pinhal.
A carta de Ricardo Salgado é uma autêntica bofetada de luva branca, magistalmente redigida com elevação e dignidade, inteligência e subtileza. Ricardo Salgado sempre me pareceu um Senhor. E o que parece é.
Eis aqui alguns trechos da resposta sublime que o banqueiro do BES endereçou a Pinhal e a quem este faz de office boy:
«(...) É de saudar que finalmente comecem a sair da sombra em que se acobertaram os protagonistas e autores de um circo mediático, que transformou uma indiscutível e respeitável história de sucesso, várias vezes elogiada por mim publicamente, numa lamentável comédia que destruiu a um nível sem precedentes o valor do banco que geriram; que pôs em causa a credibilidade do sector e do País; e que envergonhou todos aqueles que empenharam as suas vidas e o seu património numa profissão que faz da discrição e do sigilo, da contenção e da prudência, da fidelidade e do dever fiduciários, uma sagrada regra de vida.
(...) De facto o Dr. Pinhal pretende resgatar a honra perdida à custa da honra e da integridade de pessoas e de instituições que identifica sem nomear num exercício de cobardia e de hipocrisia.
A tese que percorre a entrevista asssenta no pouco que diz e no muito que promete vir a dizer e resume-se ao seguinte:
O quase colapso do BCP e a desonra do escriba deveu-se a uma conspiração tecida entre o Governo e a família Espírito Santo com o concurso de Reguladores adormecidos e tendenciosos e accionistas ávidos de conquistar um poder maior do que lhe caberia no quadro accionista.
É certo que não refere expressamente a Família Espirito Santo porque a todos toma por parvos(....). Mas não há ninguém que lendo o texto não veja o dedo apontado ao Banco Espírito Santo como um dos mandantes da execução sumária na praça pública e que o autor se confessa vítima inocente.
Nunca na sua história centenária o BES foi alvo de tão rematada calúnia e de tão baixa vilania. (....)
O Dr. Pinhal não precisa de inventar uma conspiração para explicar o terramoto do BCP. Toda agente sabe que foram as más opções e poventura as más práticas que destruíram a liderança e a coesão sem as quais qualquer projecto em qualquer sector está condenado á ruína.
O Dr. Pinhal procura no escuro aquilo que está á luz do sol e ao alcance de todos.
Há culpados na destruição de valor de um grande Banco? Com certeza que há e toda a gente sabe que os seus nomes constam das listas dos Órgãos de Governo Societário e dos registos de Accionistas do seu próprio Banco.
Perante esta evidência e com o objectivo de obter o resgate do seu nome culpa outros dos erros, má fortuna, simulação, falta de verdade e franqueza, que foi a imagem de marca e e impressão digital que deixaram no processo do BCP muitos dos que constituíram os seus Órgãos Sociais. Entre eles, obviamente o Dr. Pinhal que
- onde devia responder, interroga-se
- onde devia culpar ameaça
- onde devia falar claro, disfarça e fala por enigmas
A forma leviana como se pronuncia e acusa sobre um assunto de tal gravidade mostra bem que se pode passar uma vida inteira numa profissão e passar ao lado do que são os seus valores essenciais. Talvez isto explique muitas das coisas que hoje estão sob escrutínio na História do BCP.
Não me cabe defender os Reguladores nem o Governo com quem o autor aproveita a Campanha Eleitoral para ajustar contas. O BES nunca andou a comprar participações noutros bancos para impor soluções de aquisições mais ou menos hostis. O BES cresceu, como é sabido, por via orgânica. (....)
As causas do que aconteceu ao BCP e a si próprio deve o Dr. Pinhal procurá-las na sua consciência e nas práticas de muitos com quem partilhou o pão, o trabalho e os prémios durante dezenos de anos.
(...)
Tem dúvidas o Dr. Pinhal que a documentação que alimentou a quase destruição do Banco veio a público pelas mãos daqueles com quem esteve ombro a ombro na Administração do Banco ? Sabe o Dr. Pinhal onde estão esses responsáveis? Muitos estão entre aqueles que solidariamente o acompanham com votos e abraços no lançamento do seu livro.
Neste País em que a ambição foi substituída pela inveja é corrente tentar manchar o sucesso dos outros pela nódoa da suspeição e da dúvida.
O Dr. Pinhal achou que a teoria da conspiração o absolveria das suas responsabilidades e lhe restituiria a honra perdida,
Enganou-se, mais uma vez, no caminho que escolheu. (...)
Ao contrário do que é costume nestas andanças, no BES não vai pedir inquéritos nem vai perseguir judicialmente o Dr. Pinhal. Não é preciso. Ele encarregou-se de escrever por sua própria mão a pior condenção que um profissional pode fazer não apenas dos seus erros recentes mas de todo um percurso de vida.
Ricardo Espirito Santo Salgado»
Palmas!!

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