terça-feira, 1 de setembro de 2009

Paulo Teixeira Pinto

Gostei muito de ler a entrevista que Paulo Teixeira Pinto deu ao Weekend Económico no passado fim semana, em que, abordando uma multiciplicidade de assuntos diversos, deu a conhecer um pouco da sua face pessoal e mais recôndita: descobre-se alguém muito lúcido, com personalidade vincada, equilibrado, mas no fundo, triste.

Transcrevo aqui alguns trechos da entrevista que vale a pena ler:

Sobre a perda da sua fé:

«Há coisas na vida que funcionam quse como aquele rio que deixamos de ver porque nos aproximamos de um monte. Quando passamos esse monte e vemos água mais á frente sabemos que é o mesmo rio. Não sei se voltarei a ver esse rio. Sei que a minha relação com a religião foi um princípio fundamental de vida, mas já não é a mesma. Não sei dizer se será definitiva. "Nunca" e "sempre" são palavras que procuro utilizar com muita parcimónia.»

Sobre o seu divórcio:

«Tenho (…) presente a posição da Igreja sobre o divórcio mas tenho, também, presentes as palavras do Evangelho sobre quem julga os outros. Nunca fui um julgador da vida intima das outras pessoas.

Senti que muitas pessoas mudaram o seu comportamento em relação a mim. Não fiquei magoado por mim, fiquei desiludido por elas. Mas já sabia que a vida é mesmo assim.(…)

A minha medida para a vida é que ainda é a mesma: "Vive e deixa viver". A vida própria é suficientemente intensa para não precisarmos de viver a vida dos outros.»

Sobre a felicidade:

«A felicidade não se mede com graus comparativos. É um apelo do coração que é feito na diagonal e é comum a todos os homens, mesmo os que não o sabem. Depois podem chamar-lhe talento, glória, conhecimento, respeito, vaidade. No fim de tudo isso o que se procura chama-se felicidade. Tive na vida um embate de tal forma trágico que todas as outras coisas têm agora, uma dimensão mais relativa.»

Sobre Manuela Ferreira Leite:

«É indubitavelmente uma pessoa com grande capacidades humanas, uma grande noção de serviço publico e com capacidade afirmativa. Desejo que faça o melhor nestas circunstâncias politicas.»

Sobre o casamento dos homosexuais:

«Não me faz confusão, mas não creio que seja a melhor solução jurídica. O casamento por definição é um contrato entre duas pessoas de sexo diferente. Agora parece-me absurdo não reconhecer um estatuto de direito aos homosexuais (…). Não se trata apenas de não ser discriminatório. O que sucede é que não é o casamento a figura juridica para acabar com o preconceito e a discriminação, (…).»

Sobre a monarquia:

«Sou monárquico e presidente da Causa Real mas, antes de ser monárquico, sou português e sou também um institucionalista.

O rei personifica essa (900 anos de) História e projecta para o futuro essa comunidade de sonhos. Vejo muito mais o rei como representante popular do que como chefe de estado. (…)»

Sobre a "guerra" no BCP e a investigação criminal em curso:

«(…). Como lhe dizia há duas matérias, e a outra tem que ver com o que se passou internamente. (…) Mas basta tomar em consideração que foram contratadas agências de comunicação sem eu, enquanto presidente, estar envolvido. Está tudo dito sobre muito do que se escreveu.»

«É muito desconfortável. Apesar de não ter sido acusado do que quer que seja, sinto uma profunda revolta interior pelo vexame, pela falta de verdade e pela injustiça. Sobretudo por saber que não fiz nada de errado.»

Sobre os insucessos:

«São uma inevitabilidade. Há pessoas que dizem que não tem insucessos, não se arrependem de nada: ou não são lúcidos ou são mentirosos. Todos os dias a vida é um combate de sucessos e insucessos. Todos os dias por todas as frentes. Eu li, muito novo, um ditado árabe: " O que merece ser feito deve ser bem feito." A única medida bastante para fazermos as coisas é darmos o máximo. Não sou pessoa para ficar a meio das pontes. Ou fico do lado de cá ou do lado de lá.»

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