terça-feira, 24 de março de 2009

A Cadeira


Todos nós temos ambições e desejos que nem ás paredes confessamos. Coisas que ficam dentro da lei, mas nem por isso as achamos respeitáveis. Catalogamo-las como as nossas pequenas taras, guardamo-las no nosso intimo com medo do ridículo, achamos que somos os únicos no mundo com pensamento tão extravagante. Engano puro; para cada um destes fetiches há sempre uma pequena legião que a internet se encarregou de unir e de "normalizar".
Com a revelação recente do New York Times, senti-me encorajado a partilhar um sonho de toda a vida. Um objecto de desejo, uma miragem de prazer e realização: A Cadeira!
Não vos falo de uma cadeira qualquer, mas dA Cadeira. Tenho em casa as Cantilever do Mies van der Rohe, a chaise longue do Le Corbusier, a minha mulher ainda não desistiu da Wassily do Marcel Brauer, sabemos os dois que não teremos coragem de gastar o dinheiro na fabulosa poltrona de Charles e Ray Eames, mas o que eu gostava mesmo é da cadeira que nunca poderei ter: a do Comandante Kirk.
A cadeira do Comando da SS Enterprise é algo de mágico. A sua rotação bi-direccional de 90º e o seu balanço frontal, são pura sensualidade. Daquela cadeira vê-se o painel aberto para o universo, tomam-se as decisões que podem alterar o curso da galáxia. É o centro de tudo, para onde convergem todas as atenções aquando de uma instrução difícil, ou um lugar isolado onde Kirk pensa solitário alheio ás movimentações de Sulu, Spock ou McCoy. Quem se senta naquela cadeira, está in charge, não é questionável. Da panóplia de botões dos seus braços, depende a Enterprise e a vida daqueles humanos in search of new worlds and civilizations.
Não será por acaso que muitas vezes Kirk se apoia em pé nas costas da cadeira, sem chegar a sentar-se.
Não terá sido por acaso que escolhi a imagem de Spock, obviamente pela saudação de Vulcano "Live long and prosper", mas pela aceitação de que, por muito que pensasse na cadeira, não me iria sentar nela em pleno direito.
Por esta altura, a minha mulher deverá estar a pensar o mesmo que Barbara, a mulher de Paugh, um dos entrevistados pelo NY Times: “Personally, I think my husband is a nerd.”
Contudo, confesso que me faria um homem particularmente feliz, depois de uma lição dada e ganha em mais um encontro com os Klingon, recostar-me na cadeira, olhar com fascínio e intriga o painel estelar á minha frente e decretar: Mr. Sulu, straight ahead, Warp 5!

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