sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Não brinca quem quer. Brinca quem pode... ou quem tem!


Quando, passando os olhos pela blogosfera no final de um dia de trabalho, me deparo com isto, pretensamente uma brincadeira, um post irónico, digamos uma manifestação do mais puro british humor, aliás característico do autor, e reparo no título - À espera de Godot - imediatamente um pequeno excerto me surgiu, não a título de resposta, que há sempre quem não a mereça, mas em jeito de outra brincadeirinha:

"O sinal verde acendeu-se enfim, bruscamente os carros arrancaram, mas logo se notou que não tinham arrancado todos por igual. O primeiro da fila do meio está parado, deve haver ali um problema mecanico qualquer, o acelerador solto, a alavanca da caixa de velocidades que se encravou, ou uma avaria do sistema hidráulico, blocagem dos travões, falha do circuito eléctrico, se é que não se lhe acabou simplesmente a gasolina, não seria a primeira vez que se dava o caso. O novo ajuntamento de peões que está a formar-se nos passeios vê o condutor do automóvel imobilizado a esbracejar por trás do pára-brisas, enquanto os carros atrás dele buzinam frenéticos. Alguns condutores já saltaram para a rua, dispostos a empurrar o automóvel empanado para onde não fique a estorvar o transito, batem furiosamente nos vidros fechados, o homem que está lá dentro vira a cabeça para eles, a um lado, a outro, vê-se que grita qualquer coisa, pelos movimentos da boca percebe-se que repete uma palavra, uma não, duas, assim é realmente, consoante se vai ficar a saber quando alguém, enfim, conseguir
abrir uma porta, Estou cego."

José Saramago, in "Ensaio Sobre a Cegueira"

E assim é, de facto; nada de importante ou maléfico aqui se deseja; bem antes pelo contrário; o que certamente se pode concluir é que o verdadeiro literato, brincalhão, autor de posts de tão elevado nível, deve andar tão ocupado e a falta de jeito para a condução deve ser tanta que o seu pópó foi abaixo há já uns mesitos e o seu Godot lá passou tranquilamente na passadeira e ninguém deu por ele; e atrás passou o primo, e depois o tio e a tia e a avó a agora deve estar a chegar a vez do filho do tio dele. Digo eu, que realmente fico espantado com tamanha ironia.

Continuo a achar que o Senhor Lincoln tinha razão. Às vezes é melhor estar calado...

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