segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Denny Crane


Quem se der ao trabalho de ver a fotografia que uso no meu perfil aqui do blog, percebe que a minha amiração por William Shatner vem de longe. A escolha de Spock tem dois significados; o primeiro é a tentativa da supremacia da lógica na dialética com a sensibilidade e bom senso de Kirk, o segundo tem a ver com o gesto, a saudação do Vulcano sempre me fascinou pela simplicidade e grandeza: "live long and prosper!".
Se, sem complexos, posso dizer que Kirk é um personagem estruturante na formação da minha personalidade, não é menos verdade que o processo de evolução do Shatner pós-kirk me fascinou e fascina. A recusa da facilidade e a busca de um espaço para o verdadeiro Shatner é exemplo de coragem. Em vez de apascentar o infinito e rentável rebanho de trekkies, Shatner escreve o manifesto de libertação "Get a Life". Os anos 80 e 90 são um caminho de expiação e libertação com picos interessantíssimos, do teatro ao controverso cantor-diseur.
Eis-nos chegados a "Boston Legal". Ao lado de James Spader, Shatner cria mais uma vez um dos mais interessantes personagens de sempre: Denny Crane. O super-advogado a viver os seus últimos dias, condenado por uma doença progressiva e terminal - madcow, exuberante, sedutor, genial e controverso.
Denny Crane é o homem do inesperado, do aproveitamento da histeria dos media, do apalpão no rabo sedutor, da indumentária extravagante e cara, o repúblicano de sempre, o defensor das armas, da caça, do marialvismo, dos charutos e do whisky, acima de tudo, da intensidade que se recusa a negar a cada minuto. Mas, é também um homem a aprender a lidar com a aproximação do fim de uma vida de glória, a encaixar as limitações, a valorizar a amizade e os sentimentos, a devolver ao rio o peixe fisgado, a adiar a irresistível queca por uma conversa sincera e profunda, a aprender a expressar os afetos entre baforadas num churchill e golos lentos de whisky sob o céu noturno de Boston.

Denny Crane: I don't fear death - never have. But I do fear being hooked up to a machine ... would you want to live like that?
Alan Shore: No, Denny, if it came to that, I'd pull the plug.
Denny Crane: Pull the plug? That's no way to die. I want you to shoot me!

2 comentários:

Anónimo disse...

Fabuloso! Fez-me chorar.

Anónimo disse...

Muito inspirado e inspirador. Não conheço mas o seu post torna o conhecimento urgente. Obrigado! LV