quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Mais do que um amontoado de células?



Ontem, cansada de um dia de trabalho deitei-me no sofá fazer zapping. Parei no programa da Oprah: falava dos milhares de pessoas que nasceram e nascem, todos os anos, nos EUA, fruto da inseminação artificial heteróloga com semén de um doador. Fiquei atónita e confusa.
Imaginem só esta situação: um doador de esperma, que recebeu dinheiro pela sua” generosidade”, já casado e com filhos, recebe um dia um telefonema de uma jovem que diz ser sua filha. De repente, passados 18 anos torna-se pai de uma jovem que vivia angustiada por não saber quem era o seu pai biológico, apesar de ter um pai e uma mãe!... Existe um site que ajuda pessoas, nascidas da doação de esperma, a procurarem o seu pai biológico e eventuais irmãos. Neste site existe o registo de um doador de esperma que tem 60 filhos!...
Para além, das inúmeras questões éticas e jurídicas que esta situação acarreta, pergunto-me; será que vale a pena? Sei que criticar é fácil, quando não se é confrontado com o drama da infertilidade. Mas quem recorre à doação de esperma não são apenas casais nesta situação mas também mulheres solteiras que querem ter um filho. E depois, imaginar estas pessoas com o portfólio dos doadores, no qual são descritas as características físicas, intelectuais e o historial clínico do doador "give me the creeps". Até que ponto, este pseudo serviço prestado pela ciência ao homem não põe em causa a dignidade da pessoa? Na realidade, os bancos de esperma são um negócio lucrativo que se aproveita da fragilidade humana, originando dramas pessoais em catadupa.

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