Ao contrário de muito McCainiac que para aí anda, eu, confesso admirador de Obama, fascino-me acima de tudo com a dinâmica da política norte-americana. Já aqui disse que nutro simpatia por McCain, que o teria preferido a Hillary Clinton, mas isso já é história. O que me leva a escrever hoje, depois do sucesso arrebatador da convenção democrática, é o ticket republicano: Sarah Palin.
Sarah Palin é a mulher com quem qualquer um de nós casaria se não tivessemos casado com a nossa mulher. É inteligente, bonita, elegante, transmite dignidade, é boa mãe e construiu uma carreira de sucesso. Não é pouco. Para além disto, é uma mulher de valores e convicções firmes, muitos dos quais partilho. Tem, depois, aquelas contradições muito americanas de conseguir ser uma pro-lifer convicta e, ao mesmo tempo, membro da National Rifle Association... Gostaria de saber o que pensa da pena de morte... Do outro lado, Obama também me baralha ao acolher os abortistas, embora sem entusiasmo, e, ao mesmo tempo, ser crítico da pena de morte... De registar, também, o lamentável faux pas de Palin ao elogiar demagogicamente Hillary de quem disse tão mal há tão pouco tempo. Nem tudo se perdoa a uma cara bonita...
Temos assim, apesar de tudo, uma excelente candidata ao lado de McCain, de alguma forma, um efeito Obama ao jeito repúblicano. Do lado de Obama, um Biden a lembrar McCain, dir-se-ia uma inversão de ticket. É a escolha entre a tradição com arzinho tímido de modernidade, ou a escolha da novidade que não despreza a tradição.
Há, contudo, importantes diferenças a reter: Obama decidiu há muito tempo que queria ser candidato a presidente e construiu com determinação, com inteligência, contra ventos e marés, uma fortíssima candidatura; Sarah Palin, com todas as suas qualidades, nunca aspirou a ser mais do que governadora do Alasca. Obama é natural e auto-determinado; Palin foi convidada e, apesar das suas enormes qualidades, é um golpe de marketing dos repúblicanos. Talvez daqui por quatro anos, confirmadas as qualidades de Palin, surja como potencial candidata à presidência, talvez até dispute primárias com uma Condoleezza Rice entretanto justamente reabilitada, who knows? Mas, falamos do agora, de eleições dentro de três meses.
Depois, mais importante, as políticas repúblicanas mantêm-se estáticas, conservadoras no erro, erradas no método. Os Estados Unidos têm urgência absoluta na restauração da coesão e justiça social para, regenerando por dentro, se reafirmarem como grande potência a nível externo. Neste momento, só os democratas mostram vontade de fazer a mudança necessária, a América e o mundo precisam desta viragem. McCain e Palin são rostos estimáveis de uma política esgotada, sem soluções para o presente, muito menos para o futuro. Acho sinceramente que os republicanos precisam destes quatro anos de folga para fazerem uma actualização programática e se prepararem para o futuro.
Por fim, mais um sinal da grandeza da onda Obama, alguém acredita que Palin estaria onde está sem o efeito Obama?
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