terça-feira, 12 de agosto de 2008

O SAPO E A ENGUIA

Em fim de tarde bucólico, descansando os olhos nos belos canais da Ria, deu-me uma de LaFontaine cagaréu e comecei a imaginar a fábula da enguia e do sapo, gordo por sinal.

A enguia, esguia, ágil e viva, a todos agrada; o sapo gordo, pesado, já entradote e chocarreiro é criatura pouco estimável.
A enguia nada na ria, escolhe a margem onde descansa, mergulha livre; o velho sapo gordo não sai do pântano e, imaginando-se mais além, até onde o pântano acaba, inventa (procura?) uma margem esquerda onde pára a coaxar, tentando inefavelmente caçar a sua mosca com a língua mais comprida de que há memória.

Vem de longe a inveja que o sapo, este sapo, tem da enguia, esta enguia; tanta que um dia, escondendo ser o batráquio que é, fez tudo para acabar com a ria, tentando que a enguia se confinasse a um sapal.

Mas, mudaram os ventos e com eles as marés e um marujo veio que expulsou o batráquio; lá se salvou a ria, onde nada feliz a enguia.

O sapo é que não descansa, e do seu pântano insiste em coaxar aos quatro ventos coisas que ninguém ouve, ou a que ninguém presta atenção, nem mesmo os outros sapos, que lhe comem as moscas mais suculentas, ocupam a melhor parte do pântano e dele se riem zombeteiros!
Moral da história (porque tem sempre de haver uma, uma história e uma moral): quem nasceu sapo, não chegará nunca a enguia!

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