segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Clara Ferreira Alves e a irrelevância cavaquista


Quem se tiver dado ao trabalho de ler o que vou escrevendo sabe que não sou admirador de Cavaco Silva. Não admirar Cavaco, não gostar do seu estilo, não me identificar com quase nada do que pensa, honestamente, não me permite que o tente denegrir a partir de qualquer pedestal de pretensa superioridade. É aqui que Clara Ferreira Alves se espalha ao comprido e com estrondo.

Clara Ferreira Alves é, pior que Cavaco, uma das faces da pequenez nacional; rainha de petit-comité, onde grassa a sobranceria, a soberba e uma confrangedora estreiteza mental. A ideia que Ferreira Alves e os seus pares fazem de si próprios não cabe neste pequeno Portugal, a sua realidade, porém, caberia bem num T2 no Fogueteiro. Pior, Ferreira Alves, na intocabilidade que o seu meio lhe garante, não cura sequer das aparências: deleita-se babada com Soares nos ecrãs públicos e malha sobranceira em Cavaco no Expresso.
Mas, o mais importante é a falta de critério e lucidez que o torpor soarista lhe induz.
Goste-se, ou não, Cavaco Silva é tudo menos o burro que Clara apresenta. Cavaco é um homem determinado, com uma ambição muito concreta, com uma análise fria e calculista do país e uma interpretação do sentir popular que lhe permite atingir com sucesso os seus objectivos pessoais. A política também se pode fazer assim e, neste domínio, Cavaco é objectivamente inteligente e eficaz. Pensar-se que foi à Figueira rodar o BX é de uma estupidez confrangedora, Cavaco saiu de casa para ser presidente do PSD, em condições que planeou rigorosamente. Se houve mérito de Cavaco, foi ter um início de presidência do partido relativamente livre do baronato e de pressões.
O erro de Clara é confundir cultura com inteligência. De facto, Cavaco é ostensivamente inculto, tal como Sócrates, tal como o povo parece gostar. Salazar, homem de uma cultura clássica notável, escondia-a dos portugueses e aparecia de férias na aldeia rodeado de galinhas, muito rural e muito povo. Em tempos difíceis os portugueses parecem gostar de feitores de aldeia, rígidos no porte e aparentemente rigorosos nas contas. Sá Carneiro, Soares e Sampaio são homens de outro momento, da revolução, da novidade, do grande debate ideológico. Deixam um legado infinitamente mais interessante e rico do que Cavaco mas, repito, isto não faz de Cavaco um burro. Cavaco não precisou de uma mundividência esclarecida para atingir os seus objectivos, mais, o seu desprezo pelo "bom pensamento" estreita os seus laços com todos os incultos que, são, infelizmente, em numero avassaladoramente maior que os cultos.
Depois, há a falta de vergonha de Clara. Chama, sem pudor, economista mediano a Cavaco; ela a quem não se conhece percurso para além da lingua afiada e venenosa; ela que idolatra Soares, um advogado menos que medíocre. Inventa a inviabilidade de Cavaco governar qualquer outro país europeu, esquecendo, por exemplo, John Major em Inglaterra. Aliás, tal como Cavaco, um apreciador de Albufeira and yet prime minister of the United Kingdom. A democracia tem destas coisas que, pelos vistos, Clara digere mal.
Clara Ferreira Alves terá razão quando diz que Cavaco não tem mundo, que é ostensivamente inculto, que não foi o bom governante que quis fazer parecer. Faltou-lhe ir buscar D. Maria Cavaco; de facto, a imensa piroseira do quadro, quase legitima todas as barbaridades que apeteçam dizer. Quase.
Ter opinião é legítimo, não gostar de uma ou de outra figura pública é natural, apontar-lhe os defeitos é normal, o que não fica bem a quem critica é a arrogância sem limites, a cegueira desonesta e, ao fim e ao cabo, a mediocridade do ataque que iliba o criticado.
Nestes casos, mais vale dizer como eu digo de Soares: O homem irrita-me até à medula, não gosto dele, sonho todas as noites que lhe atiro um ovo podre! Infelizmente, para ser honesto, não lhe posso chamar burro. Nem a Cavaco.

1 comentário:

zé das enguias disse...

Saíu-te bem. Saíu-te mesmo muito bem! Li o artiguinho e se já achava a fulaninha execrável...
É como escreves "...a mediocridade do ataque que iliba o criticado."