sexta-feira, 4 de julho de 2008


Tudo o que ficou da longa entrevista de Manuela Ferreira Leite foi a sua oposição aos casamentos gay. Foi manifestamente pouco, em tudo o resto ficamos a saber que pouco ou nada difere de Sócrates, sendo mais pessimista, recuperando o discurso da tanga de muito má memória. Diminuição da carga fiscal nem pensar, alterações profundas das políticas de saúde, educação e segurança: zero. Valeu-lhe a lucidez de contestar o TGV, essa agradecemos.
Sócrates, incompetente, mas politicamente hábil, agarrou a oportunidade. Percebendo que Ferreira Leite só terá agradado a um público ultra-conservador diminuto, Sócrates atirou-se de cabeça ao seu eleitorado típico. Vitimizou-se, falou do social com aparente coração e anunciou um pacote de falsas medidas para os mais carenciados. Não sei medir a eficácia, mas falou do rigor com optimismo, dos sacrifícios com esperança.
Para mim, tudo em Sócrates é plástico e não convence, mas em termos de análise política pura, terá seduzido alguma esquerda e fixado o centro. A ver vamos.

Resta a única notícia da entrevista da nova líder laranja: os casamentos gay.
Concordo com a posição de Ferreira Leite e acho que a inabilidade de expor o seu raciocínio lhe terá valido um injusta crítica geral. Há muito tempo que defendo um estatuto legal que reconheça direitos e atribua deveres a uniões de facto, independentemente da opção sexual dos seus constituintes. O estado e a sociedade não podem nem devem distinguir, positiva ou negativamente, ninguém pela sua orientação sexual. Entendo que duas pessoas que vivem em união de facto deverão ter a possibilidade de aderir a um regime contratual que lhes permita uma partilha e comunhão de direitos e obrigações. Para muita gente, para além dos aspectos práticos, é o passar da clandestinidade para ordem legal e social vigente, não lhes devemos negar isso.
Se quiserem criar um novo nome, inventar uma nova palavra que defina estas uniões de facto e o acto de celebração legal das mesmas, por mim, tudo bem. Não concordo é que lhe chamem casamento. O casamento tem uma tradição histórica e cultural muito concreta, é um conceito, uma palavra, que serve para identificar uma realidade conhecida e muito especifica; é aquela e não outra. O factor de bom senso de preservação do conceito de casamento tal como o conhecemos, não tem sequer de hierarquizar a sua situação em contraste com outros tipos legais de vida comunitária. O casamento só deverá ser descriminado positivamente se frutificar e aí já será a família própriamente dita, e não o casamento, a usufruir de algum benefício; é um efeito de um dos pressupostos do casamento ser a possibilidade natural de gerar descendência, ou não.
Acho que é isto que interessa a todos: enquadramento social e legal das relações que se transformam em comunidades de vida que perduram, faça-se; mas não é necessário adulterar nem confundir conceitos. Se somos todos iguais na diferença, evitemos falsas uniformizações que só levam a equívocos e se perdem na sua frivolidade.

1 comentário:

Anónimo disse...

Há valores que são inegociáveis meu caro...
PG