quinta-feira, 3 de julho de 2008

Grande Tempestade

I.
No mesmo dia em que José Sócrates apareceu muito sorridente e confiante na TV, o Prof. Daniel Bessa, ex-ministro do primeiro Governo de António Guterres, pronunciou-se sobre o actual estado recessivo da economia portuguesa numa conferência para uma plateia de empresários e gestores. Vale a pena deixar aqui alguns excertos do cenário traçado por Daniel Bessa:

Alertando que não queria ser o "paladino da desgraça", o economista avisou também que não podia "deixar de dar conta do que está a acontecer": uma recessão.
"- Perante o que se está a passar no mercado de capitais e na economia em geral, sinto-me como qualquer ser humano perante uma grande tempestade".
E acrescentou não ser "capaz de dizer que amanhã será melhor". "- A coisa transcende-nos absolutamente e sentimos que somos capazes de muito pouco, se de alguma coisa", mas foi adiantando que não sabe quando vai acabar a "tormenta" que se abateu sobre a economia nacional e internacional.

Dos vários dados que influenciam a crise, o conferencista fez referência à inflação como uma questão preocupante.
E nesse sentido afirmou "que seria um absurdo total se o Banco Central Europeu (BCE) não subisse as taxas de juro. Conto com elas". É preciso controlar a inflação ou teremos a lei da selva. Já devia ter sido há mais tempo".

Mas é no passado que o ex-ministro do primeiro Governo de António Guterres vai buscar as explicações para a crise agora instalada: "- Há coisas sobre as quais não vale a pena chorar, estão feitas e agora temos as consequências". Criticando o modelo seguido por Portugal na década de 90, frisou que "as estratégias de crescimento puxadas pelo consumo são um caminho para o desastre" e esse foi o "modelo adoptado em Portugal especialmente na segunda metade dos anos 90" pelo goverrno socialista de então.

Traçado este negro cenário do país, o economista Daniel Bessa projecta o futuro afirmando que este está nas mãos das empresas portuguesas, das nossas competências e capacidades:
"- O meu respeito vai para quem produz aqui - disse - isto porque o capital estrangeiro, acho que nos abandonou. O nosso crescimento esteve apoiado também no capital estrangeiro, que foi importante para a evolução e desenvolvimento, graças a ele podemos falar de balança tecnológica , sublinhou Daniel Bessa, mas esses investidores consideraram que já tinham cumprido o que se propunham a fazer aqui e foram embora. Resta esperar por novas oportunidades. Enquanto isso, dependemos das empresas portuguesas, boa notícia pequena, porque está tudo muito atrasado."

II.
Uma nota sobre o anunciado pacote de obras públicas previstas para o país:
José Sócrates respondeu ás críticas do PSD dizendo que se tratam de investimentos "modernizadores" e "reprodutivos" para a economia e exemplificou - com quê? Com as barragens e os parques eólicos ! Claro, com a sua proverbial demagogia, Sócrates deu como exemplos casos em que todo o investimento é assumido por privados que pagam uma remuneração ao Estado pela utilização do domínio público.

E o novo aeroporto, o TGV, a nova ponte de travessia do Tejo, as novas auto estradas também são investimentos igualmente "modernizadores" e "reprodutivos"?
O PM nada disse. Ninguém sabe, e porventura nem ele mesmo saberá.
O que todos sabemos é que os custos de tais investimentos megalómanos têm de ser assumidos pelo Estado – ou seja, todos nós – e, que não geram retorno.
E o que todos admitimos e intuímos facilmente é que o país não precisa destas obras magalómanas, ou não precisa delas já, e sobretudo não tem dinheiro para as pagar.

Infelizmente, os numeros mostram que Portugal é, em termos relativos, um dos países da Europa com mais investimento público, mas com menor crescimento e maiores índices de pobreza. É uma ilusão pensar que as obras públicas fazem crescer a economia de forma sustentada. Basta andar pelo país para ver o desperdicio de dinheiros públicos feito pelos governos e câmaras: auto estradas pouco frequentadas, rotundas por todo lado, pavilhões polidesportivos às moscas e estádios de futebol desertos.
Basta de demagogia.

Sem comentários: