sexta-feira, 13 de junho de 2008

União Europeia


À hora a que escrevo, tudo parece indicar que no referendo irlandês venceu o Não.
E já começaram os discursos políticos sobre a ingratidão que esta malta alimentada a carneiro, cerveja e whisky tem perante o sonho europeu.
Vou ficar sentado à espera que algum político apresente um raciocínio lógico (duvido que haja, daía que fique sentado).
Para mim é muito simples.
Os senhores do poder em 27 países europeus acham que, do alto dos seus tronos, estão mandatados para decidir o nosso futuro como eles o entendem.
E como eles estão tão alto, não percebem o que se passa cá em baixo. Ou então percebem muito bem, daí a opção que 26 dos 27 países fizeram em não consultar as suas populações sobre esta questão.
Quando se fala numa União Europeia, o Zé (sim, esse mesmo, aquele amigo do Senhor Presidente da Comissão que há uns anos atrás andou por cá em campanha eleitoral) e a sua Maria, pensam, se calhar correctamente, que vamos ter todos os mesmo direitos e obrigações, as mesmas regalias e que estaremos todos mais próximos uns dos outros.
No caso do Zé e da Maria portugueses, como na maior parte dos casos só conhecem a realidade do único país com o qual fazemos fronteira, não percebem qual o motivo pelo qual ganham 25% menos do que o Paco e a Conchita para efectuarem o mesmo trabalho (se calhar na mesma empresa). Não percebem porque é que têm de pagar a gasolina mais cara (apesar de ambos serem fiéis devotos do cartão de pontos da GALP). Não percebem porque é que o mesmíssimo VW Golf custa lá 30 ou 40% menos do que cá. E percebem ainda menos qual a razão pela qual as batatas, as couves, a carne ou peixe custam o mesmo ou menos em Espanha do que em Portugal.
Mas o Paco e a Conchita também não percebem porque é que o Pepe (não o nosso), seu primo, médico de profissão a exercer em Portugal, sempre que vê uma brigada da GNR na estrada corre o risco de ver o seu carro de matrícula espanhola (seu país de origem e de residência) ser apreendido pelo simples facto de trabalhar em Portugal.
Estes são alguns dos problemas reais dos 350 milhões de Europeus. E ninguém tem interesse em dar-lhes resposta.
Quando o fizerem e nos explicarem tintim por tintim a razão de todas estas discrepâncias e os timings para as abolirem, será o momento certo para que todos os Europeus decidam sobre o seu futuro. E aí a resposta deverá ser esmagadora a favor do sim.
Porque, ao contrário do que os senhores do poder pensam, os povos não são estúpidos, gostam é de perceber a realidade dos factos e de ver respondidas as suas questões.

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