quinta-feira, 5 de junho de 2008

Censura


O CDS apresenta uma Moção de Censura ao governo Sócrates. Interessa dizer algumas coisas sobre esta Moção.
Primeiro, a Moção estará, salvo grande surpresa, aritmeticamente condenada. Tradicionalmente, a extrema-esquerda não descristalizará e os contestatários de dentro do PS não ousarão falar tão grosso. Restam os partidos do arco da governabilidade e sabemos que CDS mais PSD, tendo obrigação de fazerem uma demonstração de força, impondo à esquerda o ónus da cumplicidade com Sócrates, não chegam para fazer passar a moção.
Perguntar-se-á para que serve a moção. Em política nem tudo se resume a aritmética pura; a prerrogativa da moção, uma por sessão legislativa, é o instrumento mais forte que cada partido com representação parlamentar dispõe para afrontar o Governo. Neste momento, de descalabro absoluto, o CDS entendeu ser a altura para dar o cartão vermelho ao Governo, traduzindo o que entende ser o estado de profundo descontentamento da esmagadora maioria dos portugueses.
Esta Moção surge em plena crise dos combustíveis, com todos os efeitos laterais (das pescas aos particulares), mas é mais do que isso, muito mais. Esta Moção dá corpo ao descontentamento absoluto com a política educativa do Governo, à preocupação com a segurança cada vez mais precária que enfrentamos, ao desacordo com o rumo que a saúde pública tem levado, à discordância com os devaneios das obras públicas, à repugnância do fanatismo fiscal, ao esquecimento dos mais desfavorecidos, em particular os mais idosos. Dando uma imagem, um copo que foi enchendo, tendo agora chegado a gota que o fez transbordar.
Este sinal tem obrigatoriamente de ser dado, credibiliza o Parlamento porque dá formalmente corpo às legítimas reivindicações do povo que representa. Só assim as coisas fazem sentido, esclarece-se quem representa o quê, quem realmente se constitui como alternativa.

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