terça-feira, 18 de março de 2008

Iraque I


Deixo algumas considerações neste post, que não será único, abordando a passagem de cinco anos sobre a intervenção norte-americana no Iraque.

Como ponto prévio, esclareço que nunca concordei com esta intervenção militar. Tal não me impediu de friamente entender o posicionamento do governo português e de outros governos europeus de então, face ao aliado americano. A decisão da administração Bush estava tomada, Blair aderiu de corpo e alma, os outros países situaram-se no xadrez político de maneira a preservar da melhor forma os seus interesses nacionais.

Quanto ao Iraque própriamente dito, contráriamente ao que se aceita, o actual estado de coisas decorre muito mais de Saddam Husein do que de Bush. O país vivia um equilibrio apenas aparente, condicionado por uma fortíssima repressão; uma verdadeira panela de pressão em que a válvula precária era Saddam. Bush antecipou o calendário do caos, não foi a causa, limitou-se a retirar a válvula sem planificar a reacção à explosão. É muito mau, mas não é mais do que isto.

Quanto ao fundamentalismo islâmico, a intervenção no Iraque reforçou o longo argumentário do obscurantismo; diferente é dizer que é a causa do ódio islâmico ao mundo civilizado, ou que legitima quaisquer actos terroristas. É falso e desonesto branquear o fanatismo desta forma. Este choque de civilizações tem a ver, em termos simplistas, na incompatibilidade insanável entre as trevas e a luz (ainda que precária ou relativa!).

Quanto ao clima de insegurança internacional, a intervenção no Iraque, apesar de profundamente errada, não piorou nem melhorou a situação. Do ponto de vista político, fragilizou a imagem dos Estados Unidos, do ponto de vista prático pode até ter estimulado uma concentração da Al-Qaeda no território e evitado uma pulverização global; é difícil avaliar. Se no Afeganistão os resultados são evidentes e positivos, no Iraque a confusão é demasiada para conclusões.

Resumindo, Bush antecipou desnecessáriamente uma guerra a que os Estados Unidos seriam sempre chamados. Com isto, comprometeu todo o seu mandato e, salvo a improbabilidade milagrosa da captura de Ben Laden em área iraquiana, sairá como um dos piores presidentes de sempre. O mundo está pior porque tem mais uma guerra em curso e só por isso. Como todas as guerras, esta é uma guerra estúpida, significa morte, medo, privação. Apesar de querer ver Obama na Casa Branca, espero que a tese de McCainn neste particular vença; uma retirada precipitada pode significar um caos de proporções ainda maiores com o livre trânsito da má vizinhança na área. A ver vamos...

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