Estudos cientificos demonstram que quando se trata de escolher um candidato político, a inquietação, o entusiasmo e a identificação pesam mais do que a razão ou a lógica dos argumentos e dos programas eleitorais. No confronto entre a razão e o coração, ganha o coração.
É, dizem os entendidos, um principio assente da psicologia política: os eleitores conhecem mal, muito mal as opiniões dos candidatos sobre as questões políticas. As posições e os programas eleitorais dos candidatos não são o principal critério de decisão.
O facto de as pessoas padecerem de “limites cognitivos”, (assim eufemisticamente denominados), e não conseguirem reter as opiniões dos candidatos, significa que os eleitores substituem por qualquer coisa aquela falta de conhecimento, relata a Newsweek. E, essa “qualquer coisa” assume crucial importância na decisão de voto. Por isso, essa “qualquer coisa” tornou-se objecto ávido de análise por estrategas eleitorais e centros de sondagens, que estudam o processo da tomada de decisão.
Sabe-se que grande parte dos eleitores recorre ao critério do partido político como substituto para aquele desconhecimento: cerca de 60% do eleitorado escolhe o candidato somente ou largamente em função do partido político. O segundo critério mais utilizado é o posicionamento dos candidatos face a específicas questões: os eleitores que escolhem em função de uma determinada matéria, não votarão nunca num candidato com o qual não estejam de acordo nesse ponto.
Mas, sempre que não se trate de votar num partido, e/ou não exista uma óbvia diferença entre as posições políticas dos candidatos, então a escolha é feita sobre outras motivações. Dizem os politólogos que é nesse momento que as pessoas votam por heurística (recurso cognitivo) e, indo atrás de motivações instintivas, seleccionam o candidato com que mais se identificam. Segundo esta teoria, tal é que sucede actualmente nestas primárias americanas voláteis e imprevisíveis: não são as posições analíticas que determinam a escolha, sobretudo entre os Democratas em que são mínimas as diferenças de opinião entre Hillary e Obama.
Os candidatos vencedores serão aqueles que lograrem causar nos eleitores sentimentos de entusiasmo, empatia, e paradoxalmente, mesmo ansiedade ou inquietação. Porque os eleitores baseiam-se na chamada “racionalidade instintiva”.
Durante um debate com Bill Clinton na campanha de 1992, quando George H W Bush olhou para o relógio de pulso, a mensagem que a “racionalidade instintiva” recebeu foi que Bush não tinha vontade de estar ali, e os eleitores sentiram que ele já não compreendia o país, o que gerou desconfiança. Inversamente, durante o debate, Bill Clinton dirigiu-se a alguém do público que lhe tinha colocado uma questão. Enquanto Clinton respondia, olhando-a nos olhos, a pessoa anuía com a cabeça, acenando afirmativamente uma e outra vez. Ninguém se lembra do que é que Clinton disse, mas toda a gente recorda aquela expressão de concordância. Estes aspectos aparentemente de pormenor provocaram mudanças de sentido de voto em centenas de pessoas, a favor de Clinton. Como este exemplo, há muitos outros que indicam que os eleitores seguem o seu instinto. “Saber o que as pessoas sentem é mais importante do que saber o que pensam” dizem os peritos.
Ao avaliar as posições dos candidatos, os eleitores são sobretudo atraídos por aquele que apazigue a inquietação, e transmita segurança e esperança.
No âmbito do poder da emoção, os sentimentos mais fortes são o medo e a inquietação – essenciais á sobrevivência - e gerados nas regiões mais primitivas do cérebro. Segundo a investigação desenvolvida, a inquietação leva as pessoas a procurar novas informações. Se, p.ex. estiverem preocupados e inquietos com o estado do País e com as suas finanças pessoais, os eleitores tendem a querer saber mais sobre a personalidade dos candidados, e prestam maior atenção ás informações e debates. Isto pode ajudar a explicar certos falhanços das sondagens: o estado de inquietação sobre o futuro pode levar os eleitores a procurar saber mais sobre os candidatos, a re-avaliar cada um deles, e, portanto, conduzir a uma alteração da escolha inicial.
Mesmo quando a preocupação emerge de uma questão específica, p.ex. o receio de uma recessão iminente, o efeito é de incitar os eleitores a saber mais sobre a pessoa do candidato, e não apenas sobre o seu programa eleitoral. Os politólogos defendem que foi precisamente isto que se passou recentemente com Rudi Giulianni: quando os eleitores perspectivaram Giulianni sob este novo prisma, começaram a olhar também para certos aspectos da vida pessoal do candidato (vai no terceiro csamento e é sabido que os filhos não lhe falam).
Os eleitores preocupados e inquietos que avaliam e re-avaliam, e tornam a analisar os candidatos explicam ainda um outro fenómeno: a decisão tardia, tomada á boca das urnas por uma relevante percentagem de votantes. E, nestas decisões de ultima hora pesa mais a emoção do que a razão, ou seja, são decisivos certos aspectos da pessoa dos candidatos, em detrimento das suas opiniões sobre questões de fundo.
No pólo oposto, o entusiasmo por um candidato tende a fechar o espirio do eleitorado à informação adicional. O entusiamo pode imobilizar os eleitores, pois não os empurrra a procurar saber mais.
Mas, a pequena lágrima de Hillary Clinton mesmo antes das primárias de New Hampshire veio iluminar um outro factor de influência na tomada de decisão dos eleitores: a identificação com o candidato.
Naquele momento, a emoção da Sra. Clinton tornou patente a sua condição de mulher, e isso fez com que numerosas mulheres se identificassem com ela. Quando Hillary, que anteriormente frustrara os estéreotipos sobre o género, verteu uma lágrima, as mulheres acorreram porque se identificaram com ela. Sobretudo as mulheres com mais idade, pois naquele instante sentiram uma ligação á candidata: "a batalha dela é a minha".
Só que, os aspectos que determinam a identificação podem mudar todas as semanas, todas as horas até, consoante a característica a que se faz apelo: num primeiro momento, a lágrima de Hillary colocou o tema do género na ribalta, e por identificação feminina, o voto das mulheres favoreceu-a; mas depois, nas primárias da Carolina do Norte, a focagem incidiu sobre a questão fundamental da raça, e então as mulheres negras votaram massivamente em Obama.
Nas sondagens á boca das urnas pergunta-se aos eleitores em quem e por que razão votam em tal candidato. Mas as suas respostas tendem a ser inadequadas e falsas, porque as pessoas não reflectem sobre as suas próprias emoções e motivações mais profundas. As pessoas dizem "aquele partilha dos meus valores" ou "eu acho que aqueloutro é sincero", ou ainda "gosto das posições que ele defende" - mas estas são motivações racionais. As verdadeiras razões, de génese emocional, são mais dificeis de admitir, mas são as decisivas, a final.
Por isso, dizem os peritos, as campanhas eleitorais têm por alvo o coração, mesmo que pareçam dirigir-se ao cérebro do eleitorado. É que os peritos sabem que a campanha eleitoral que melhor explorar o poder do coração e da emoção sobre os eleitores será a vencedora.
O facto de as pessoas padecerem de “limites cognitivos”, (assim eufemisticamente denominados), e não conseguirem reter as opiniões dos candidatos, significa que os eleitores substituem por qualquer coisa aquela falta de conhecimento, relata a Newsweek. E, essa “qualquer coisa” assume crucial importância na decisão de voto. Por isso, essa “qualquer coisa” tornou-se objecto ávido de análise por estrategas eleitorais e centros de sondagens, que estudam o processo da tomada de decisão.
Sabe-se que grande parte dos eleitores recorre ao critério do partido político como substituto para aquele desconhecimento: cerca de 60% do eleitorado escolhe o candidato somente ou largamente em função do partido político. O segundo critério mais utilizado é o posicionamento dos candidatos face a específicas questões: os eleitores que escolhem em função de uma determinada matéria, não votarão nunca num candidato com o qual não estejam de acordo nesse ponto.
Mas, sempre que não se trate de votar num partido, e/ou não exista uma óbvia diferença entre as posições políticas dos candidatos, então a escolha é feita sobre outras motivações. Dizem os politólogos que é nesse momento que as pessoas votam por heurística (recurso cognitivo) e, indo atrás de motivações instintivas, seleccionam o candidato com que mais se identificam. Segundo esta teoria, tal é que sucede actualmente nestas primárias americanas voláteis e imprevisíveis: não são as posições analíticas que determinam a escolha, sobretudo entre os Democratas em que são mínimas as diferenças de opinião entre Hillary e Obama.
Os candidatos vencedores serão aqueles que lograrem causar nos eleitores sentimentos de entusiasmo, empatia, e paradoxalmente, mesmo ansiedade ou inquietação. Porque os eleitores baseiam-se na chamada “racionalidade instintiva”.
Durante um debate com Bill Clinton na campanha de 1992, quando George H W Bush olhou para o relógio de pulso, a mensagem que a “racionalidade instintiva” recebeu foi que Bush não tinha vontade de estar ali, e os eleitores sentiram que ele já não compreendia o país, o que gerou desconfiança. Inversamente, durante o debate, Bill Clinton dirigiu-se a alguém do público que lhe tinha colocado uma questão. Enquanto Clinton respondia, olhando-a nos olhos, a pessoa anuía com a cabeça, acenando afirmativamente uma e outra vez. Ninguém se lembra do que é que Clinton disse, mas toda a gente recorda aquela expressão de concordância. Estes aspectos aparentemente de pormenor provocaram mudanças de sentido de voto em centenas de pessoas, a favor de Clinton. Como este exemplo, há muitos outros que indicam que os eleitores seguem o seu instinto. “Saber o que as pessoas sentem é mais importante do que saber o que pensam” dizem os peritos.
Ao avaliar as posições dos candidatos, os eleitores são sobretudo atraídos por aquele que apazigue a inquietação, e transmita segurança e esperança.
No âmbito do poder da emoção, os sentimentos mais fortes são o medo e a inquietação – essenciais á sobrevivência - e gerados nas regiões mais primitivas do cérebro. Segundo a investigação desenvolvida, a inquietação leva as pessoas a procurar novas informações. Se, p.ex. estiverem preocupados e inquietos com o estado do País e com as suas finanças pessoais, os eleitores tendem a querer saber mais sobre a personalidade dos candidados, e prestam maior atenção ás informações e debates. Isto pode ajudar a explicar certos falhanços das sondagens: o estado de inquietação sobre o futuro pode levar os eleitores a procurar saber mais sobre os candidatos, a re-avaliar cada um deles, e, portanto, conduzir a uma alteração da escolha inicial.
Mesmo quando a preocupação emerge de uma questão específica, p.ex. o receio de uma recessão iminente, o efeito é de incitar os eleitores a saber mais sobre a pessoa do candidato, e não apenas sobre o seu programa eleitoral. Os politólogos defendem que foi precisamente isto que se passou recentemente com Rudi Giulianni: quando os eleitores perspectivaram Giulianni sob este novo prisma, começaram a olhar também para certos aspectos da vida pessoal do candidato (vai no terceiro csamento e é sabido que os filhos não lhe falam).
Os eleitores preocupados e inquietos que avaliam e re-avaliam, e tornam a analisar os candidatos explicam ainda um outro fenómeno: a decisão tardia, tomada á boca das urnas por uma relevante percentagem de votantes. E, nestas decisões de ultima hora pesa mais a emoção do que a razão, ou seja, são decisivos certos aspectos da pessoa dos candidatos, em detrimento das suas opiniões sobre questões de fundo.
No pólo oposto, o entusiasmo por um candidato tende a fechar o espirio do eleitorado à informação adicional. O entusiamo pode imobilizar os eleitores, pois não os empurrra a procurar saber mais.
Mas, a pequena lágrima de Hillary Clinton mesmo antes das primárias de New Hampshire veio iluminar um outro factor de influência na tomada de decisão dos eleitores: a identificação com o candidato.
Naquele momento, a emoção da Sra. Clinton tornou patente a sua condição de mulher, e isso fez com que numerosas mulheres se identificassem com ela. Quando Hillary, que anteriormente frustrara os estéreotipos sobre o género, verteu uma lágrima, as mulheres acorreram porque se identificaram com ela. Sobretudo as mulheres com mais idade, pois naquele instante sentiram uma ligação á candidata: "a batalha dela é a minha".
Só que, os aspectos que determinam a identificação podem mudar todas as semanas, todas as horas até, consoante a característica a que se faz apelo: num primeiro momento, a lágrima de Hillary colocou o tema do género na ribalta, e por identificação feminina, o voto das mulheres favoreceu-a; mas depois, nas primárias da Carolina do Norte, a focagem incidiu sobre a questão fundamental da raça, e então as mulheres negras votaram massivamente em Obama.
Nas sondagens á boca das urnas pergunta-se aos eleitores em quem e por que razão votam em tal candidato. Mas as suas respostas tendem a ser inadequadas e falsas, porque as pessoas não reflectem sobre as suas próprias emoções e motivações mais profundas. As pessoas dizem "aquele partilha dos meus valores" ou "eu acho que aqueloutro é sincero", ou ainda "gosto das posições que ele defende" - mas estas são motivações racionais. As verdadeiras razões, de génese emocional, são mais dificeis de admitir, mas são as decisivas, a final.
Por isso, dizem os peritos, as campanhas eleitorais têm por alvo o coração, mesmo que pareçam dirigir-se ao cérebro do eleitorado. É que os peritos sabem que a campanha eleitoral que melhor explorar o poder do coração e da emoção sobre os eleitores será a vencedora.
1 comentário:
Cara T., curiosamente, os States neste capítulo vão ao arrepio da tradição anglo saxonica e nórdica/luterana em que há um peso forte dos factores racionais na determinação do voto. George W foi eleito por ser "uma americano como nós", Reagan por ser o proto-super-heroi capaz de representar os valores americanos no mundo pré-perestroika e por aí fora... No meio de todos os factores, mais ou menos determinantes, há um que é sempre o fundamental e é sempre emocional: a confiança. A partir daqui compõe-se o todo com mais ou menos empatia. Obama tem um perfil mais interessante, a confiança que inspira é boa mas não decisiva, a empatia é fortissima, mas arrisca tudo num campo novo: "vender" um sonho a um mundo desiludido. Can he?
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