terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Em busca da escola perdida


Não vale a pena fazer grandes comentários relativamente à entrevista que aparece no Caderno P2 do Público de hoje.
A entrevista ao reitor da Faculdade de Educação da Universidade de Boston, EUA, Charles Glenn, é por si propría esclarecedora.
Basta ler os excertos desta entrevista, que a seguir transcrevo, para perceber que o governo Português tem uma visão da educação diametralmente oposta à que Charles Glenn defende. Se olharmos para as últimas medidas educativas, relativas ao ensino especial e ao ensino musical, concluiremos que caminhamos no sentido contrário.
Charles Gleen veio a Portugal falar da autonomia e da experiência norte-americana, já com 20 anos, relativamente às "charter schools", ou seja, escolas privadas que têm contratos com o Estado.

Mas o que é uma "charter school"? “É uma escola privada financiada por dinheiros públicos. Ou uma escola pública que opera como uma privada. É fundada por pais, professores ou empresas, que apresentam um programa específico e dizem como querem que a escola opere e como deve produzir resultados, bem como medi-los.”

“Conhece o sistema português, considera que está preparado para uma experiência semelhante?" -"Primeiro é preciso que haja liberdade na diversidade das escolas do Estado. Sei que existem escolas privadas com contratos [para receberem os alunos de uma região onde não há oferta pública], mas é esperado que façam exactamente como as do Estado. Isso não pode ser porque se querem ser melhores têm de fazer coisas diferentes....”
“Porquê? A minha experiência... mostrou-me que as escolas públicas se tornavam melhores se fossem diferentes. E fizemos isso, sobretudo para integrar as minorias étnicas e não por questões de qualidade, mas a educação melhorou porque havia pais e professores empenhados ...”

“E Portugal está preparado para ter escolas privadas financiadas totalmente pelo Estado, para fazerem o que quiserem?" -"Uma sociedade livre como a portuguesa deve aceitar que os pais que tenham uma visão diferente, sejam respeitados e possam escolher. A sociedade deve perceber que as escolas são mais eficazes se forem diferentes, porque servem públicos distintos e que podem chegar aos mesmos resultados por caminhos diferentes....”
"... Não acredito que haja igualdade de educação nas escolas portuguesas. Nem mesmo nas escolas públicas. Portanto, isso não pode ser uma desculpa para não haver diversidade.”

“É verdade que nos EUA há estudos que indicam que os alunos mais desfavorecidos têm melhores resultados nas escolas católicas? Porquê?" -"Ninguém sabe porquê, mas a verdade é que tem sido feita muita investigação e que tem sido exaustiva. As conclusões a que têm chegado é que os alunos de origem afro-americana têm melhores resultados nas escolas católicas. Os brancos também têm melhores resultados, mas não se dão tão bem como os negros.”

“The advancement and diffusion of knowledge is the only guardian of true liberty.”
James Madison

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