In the Valley of Elah

Paul Haggis did it again! Depois do extraordinário Crash, Paul Haggis volta a surpreender com um filme único e brilhante. Não lhe chamo ainda obra-prima porque estas coisas precisam de tempo e ainda estou no turbilhão do pós-filme, foi hoje ao final do dia.

O Vale de Elah, hoje Wady es Sunt, na Palestina, foi o local onde um dia David terá enfrentado, e vencido, Golias. David, o pequeno, terá vencido Golias, o gigante, pela coragem ou pelo medo?

Uma bandeira nunca deve tocar o chão, quando hasteada ao contrário significa um pedido de auxilio urgente, crise profunda.

Numa altura em que os americanos começam a fazer a catarse da guerra do Iraque, este filme é uma poderosissima e incómoda abordagem. Não consigo deixar de pensar em Apocalipse Now, um dos filmes da minha vida, de estética radicalmente diferente, de acção completamente oposta, ambos fazem a mesma abordagem: "the war inside". É do homem que ambos falam, do homem na circunstância da guerra, da sua transfiguração perante a negação do humano. O esboroar das crenças adquiridas, a desconstrução dos mitos, a perda das referências. Qualquer tiro é um mero adereço. Há um ponto em Kurtz se perde na neblina densa da selva asiática, tal como há um ponto sem retorno para Mike numa rua poeirenta do Iraque. Depois, nada resta...

De salientar que Tommy Lee Jones, que não aprecio, está soberbo num papel que só se julgaria bem interpretado por Clint Eastwood, Susan Sarandon, que não gosto, está muitissimo bem no papel de mãe, exemplo de contenção e emotividade serena. Charleze Theron, talvez bonita demais para o papel, a cumprir muitissimo bem. Junte-se uma fotografia muito particular e marcante, perfeitamente sintonizada com a intensidade do filme e temos uma obra de excepção.

Nota final deste post, que ao filme voltarei, Haggis, ao contrário de Costa-Gavras ou de Oliver Stone, foge ao filme-panfleto, e, em vez de um manifesto político, filma o homem e a sua circunstância. Brilhante!