quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008


Este singelo post vem no seguimento dos posts da Casual Friday e do RA. Neste início de Quaresma o Papa Bento XVI relembra-nos que fomos criados a fim de vivermos não para nós próprios, mas para Deus e para os irmãos. É por isso que vale a pena relembrar este grande vulto da nossa história: o padre António Vieira (1608-1697). Um dos maiores escritores de língua portuguesa, deve ser lembrado não apenas pelas suas palavras, mas pela sua obra. Homem de coração universal empenhou-se na defesa dos mais fracos, dos desvalidos e dos oprimidos. Fonte de inspiração para todos os que se dizem cristãos; compreendeu o verdadeiro sentido das palavras de Jesus Cristo: estar ao serviço do homem, pois só através do homem se chega a Deus.
O Pe. António Vieira é uma referência da humanidade: homem dotado de enorme grandeza intelectual, espiritual e humana, foi missionário, político, diplomata, orador e intelectual, num século conturbado e inquietante.
Homem de fé, foi exemplar na dedicação e defesa dos índios do Brasil. Quando poucos viam nos índios sequer seres humanos, o Pe. António Vieira esteve a seu lado, aprendendo as suas línguas e correndo perigos inimagináveis nas selvas profundas do Maranhão. Usou da sua autoridade para moderar os excessos da inquisição portuguesa. Reconhecendo as injustiças e erros praticados nos processos judiciais do tribunal, o Sumo Pontífice chegou a suspender a inquisição durante 7 anos (1675-1681).
Intensamente empenhado no destino da sua Pátria, foi pragmático na política e controverso na diplomacia, mas acabou sempre à margem do politicamente correcto. Desafiou o futuro e, procurando perscrutar os seus caminhos, imaginou novos mundos. Estando no mundo, o Pe. António Vieira não era daquele mundo. Com base na mensagem de Cristo, idealizou para o mundo a construção de uma espécie de civilização do amor, onde o respeito e a fraternidade para com os outros, para com o diferente, assim como a relação harmónica com a natureza fossem as formas de estar quotidianas.
O Padre António Vieira é uma herança preciosa para o terceiro milénio. Como na sua época, o desafio do multiculturalismo, da defesa da diversidade, do diálogo entre crentes e não crentes, bem como a promoção da dignidade humana são desafios em agenda num mundo cada vez mais global e, ao mesmo tempo,mais desumanizado.


«Palavras sem obras são tiros sem bala; atroam, mas não ferem. (…) Para falar ao vento bastam palavras; para falar ao coração são necessárias obras» .

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