terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Pontes para o futuro


A propósito do concurso promovido pela Câmara Municipal de Aveiro para a construção de uma nova ponte sobre o Canal Central, muito se tem escrito e discutido.
As opiniões variam e, como é natural, há arquitectos que gostam da ideia e outros que não, o mesmo se passando com planeadores, políticos, jornalistas e comuns cidadãos, tendo como traço comum a vivência que fazem de e em Aveiro. Tendo nascido na década de 60 do século passado, sou do tempo em que Aveiro tinha a ligar as margens dos diversos canais apenas 5 pontes: a ponte de pau (ainda do tempo em que era mesmo em madeira), a Ponte-Praça (ou as pontes, como também a conhecemos), a ponte da Dobadoura, a ponte de S. João e a ponte de Carcavelos.
Nos últimos 30 anos, Aveiro passou a ter, para além das pontes acima referidas, 7 pontes pedonais sobre o Canal Central, no troço entre a Ponte-Praça e o Cais da Fonte Nova, 1 ponte pedonal a ligar o Cais do Paraíso ao Cais dos Moliceiros, 1 ponte pedonal sobre o Canal de S. Roque, 1 ponte rodoviária também sobre este Canal, 1 ponte rodoviária na Rua da Condessa Mumadona e, por último, a nova ponte sobre o Canal das Pirâmides.
Passámos assim a ter, dentro da cidade, 17 pontes.
Pretende agora a Câmara Municipal construir uma nova ponte pedonal. E nasce uma discussão tremenda sobre um assunto que, na minha opinião é pacífico e resulta de uma decisão legítima de quem foi escolhido pelos Aveirenses para exercer o poder.
Se a ponte é necessária ou não, se é feia ou bonita, se deve ser naquele sítio ou noutro, se há ou não há dinheiro para a construir, enfim, há sempre razões para que as pessoas se manifestem e tentem fazer vingar as suas ideias, mas sempre esquecendo que o acesso ao poder se faz através de eleições livres, democráticas e, no caso das autárquicas, sem ser necessário o vínculo a partidos políticos.
O grande problema é pois a ausência dos Aveirenses nos actos em que podem influenciar o futuro da nossa terra, preferindo depois ficar com uma postura de “treinador de bancada”, falando de tudo, normalmente de uma forma crítica, pois é muito mais fácil falar do que decidir.
Acredito que, da parte da Câmara Municipal, também poderia ser dada uma maior atenção aos prazos de consulta pública para situações que, como a construção da ponte, possam vir a ser uma marca relevante no futuro de Aveiro. Mas também já passei pela experiência de que, mesmo com consultas públicas com os prazos e as publicações legais, o interesse dos Aveirenses é nulo, preferindo a comodidade de posteriormente virem reclamar com as decisões tomadas.
Quanto à nova ponte, julgo que é inquestionável a necessidade de uma ligação entre o Rossio e o Alboi. Sem ter conhecimentos técnicos para discutir a sua localização, também não é difícil reconhecer que ou se constrói no lugar projectado, ou então no zona do antigo edifício da EPA. Só que, nesta zona, como o canal é aparentemente mais estreito, a ponte teria de ter uma pendente mais íngreme, dificultando a sua transposição sobretudo a idosos e pessoas com uma mobilidade mais reduzida. E julgo que todos estamos de acordo que de pontes com pendentes radicais já Aveiro teve a sua dose mais que suficiente nos últimos anos.
Parece-me pois que não restam alternativas para a localização da nova ponte.
Vai mudar a imagem que todos temos do Canal Central? Sem dúvida. Mas é de mudanças que se faz a evolução das cidades e Aveiro tem de evoluir.
E se a opção for pela estagnação então talvez seja melhor construir uma réplica da Torre de Belém no Rossio, para que os nossos “Velhos do Restelo” tenham um local digno para manterem as suas discussões.

8 comentários:

Gil Moreira disse...

Caro Jorge Greno:

O enquadramento que faz da luta histórica pela permeabilidade dos canais é muito interessante. Mas permita-me alguns reparos: A ponte em causa não é "só mais uma" entre 17. E o problema da pendente é coisa para arquitectos e engenheiros resolverem. E avança-se, e resolve-se, como se resolve tudo aquilo que a cidade lhes delegar. O poder político tem toda a legitimidade para decidir. Os cidadãos têm toda a legitimidade para questionar os fundamentos das decisões. E a cidade, essa é de todos. Sem intervalos de 4 anos.

Jorge Greno disse...

Caro Gil Moreira
Obrigado pelo seu comentário que merece o meu quase total acordo. E se é um facto que os cidadãos têm legitimidade para qustionar as decisões do poder político, é também verdade que há espaços e tempos próprios para que isso acontecça. Tal como referi, o poder político pode, se quiser, alargá-los face ao quadro legal. Resta saber se isso iria resultar na melhoria do processo. Quanto aos intervalos de 4 anos entre as escolhas que fazemos é fruto de vivermos em democracia. Se o mandato devia ser mais ou menos prolongado, se devia haver ou não possibilidades de recandidatura, é uma discussão que se poderá levantar, na certeza porém que o modelo ideal, tal como a localização da nova ponte, será sempre objecto de contestação.

Unknown disse...

Caro Jorge Greno
A intervenção na cidade não se legitima só por vai de eleições.
No caso de grande decisões (projectos sensíveis ou planos de ordenamento) a lei prevê que haja um período de discussão pública.
Esse período existe para que os cidadãos possam ser informados, possam colocar questões e obter esclarecimentos.
E era isso que eu gostaria que tivesse acontecido (e várias pessoas fizeram essa sugestão em Julho de 2009).
Portanto, a minha crítica é sobretudo pela forma como o processo foi conduzido, que contradiz a forma como repetidamente se apela 'a formas de governação participadas'.
As dúvidas que hoje existem nunca tiveram oportunidade de serem esclarecidas sendo, por isso, absolutamente legítimas e devem merecer atenção por parte dos responsáveis.
Espero poder contar com a sua presença na tertúlia da próxima quarta-feira para apresentar os seus pontos de vista.
Um abraço
José Carlos Mota

clara disse...

Se me permite e com toda a simpatia, o que acontece é que esta ponte pedonal, no sítio que se projecta, vai pura e simplesmente contra o projecto Pólis, coordenado por um arquitecto que é, tão só o Nuno Portas.
É só isso.
Cumprimentos,
Clara Sacramento

Jorge Greno disse...

Em resposta aos 2 últimos comentários:
Caro José Carlos, parece-me que quanto à consulta pública estamos de acordo, pois também eu refiro que, em casos como o da ponte, se tal for legalmente possível, os mesmos devem até ser mais alargados do que aquilo que a lei prevê. Mas reforço também o que se passou no período em que estive na CMA. O interesse dos Aveirenses nestes processos de consulta pública é tendencialmente ZERO. Só se for algo que lhes vá passar à porta de casa ou se houver um "levantamento" organizado contra uma determinada medida, é que se verifica mais participação.
Cara Dra. Clara Sacramento
O Projecto Pólis teve os seus méritos e teve o seu tempo. Todos sabemos que nunca foi acabado. Pelo facto de ter sido elaborado pelo Arq. Nuno Portas, e pelo facto de ser sido consensual à época da sua elaboração, não me parece que o mesmo passe a ser considerado como inalterável.

clara disse...

Entendo o que diz. Sim, o poder político tem poder para isso mesmo:exercê-lo.
Pode pois alterar oque quiser e puder.
Como gosto tanto da cidade como muitas outras pessoas, peço-lhe, porque sei que é sensível e inteligente, para exercer a sua influência para que, já que não querem, ou podem, acabar o Projecto Pólis, feito por quem sabe, com provas dadas e aprovado, por favor não façam nada. É só isso:não façam nada.
Muito obrigada pela oportunidade que me deu para expressar a minha opinião.
Os melhores cumprimentos.

Unknown disse...

Peço desculpa por me meter nesta discussão. Sou aveirense, cagaréu. Moro perto de Lisboa, mas mantenho casa em Aveiro.
Pergunto: 1- Nos dias de hoje para que e a quem serve tal ponte naquele local? Exceptuando os habitantes do Rossio que queiram ir para o Alboi, ou vice-versa, a quem mais serve?
2- Vale a pena tapar e descaracterizar parte do canal central, um dos ex-libris de Aveiro, por causa de uma ponte que não é importante, que pouca falta faz aos aveirenses? O fluxo pedonal da maioria da cidade para o Alboi faz-se a Sul do canal central,nunca precisou nem lhe faz falta a ponte.
3- Julgo que por não se alinhar logo na primeira coisa que nos querem impingir, não nos transforma em Velhos do Restelo. Já se fez muita coisa em Aveiro muito mal feita de difícil solução futura, desde o edifício Vera-Cruz ao que suporta a capitania, aos edificios junto à ponte-pau; construção de edifícios desalinhados com os restantes da rua, como o "corno" implantado no Largo da Igreja da Vera-Cruz, até ao edifício onde está o café Merendeiro e a casa Martelo. Muita coisa bem feita foi realizada e hoje é já um postal de Aveiro, como a regularização do canal de S. Roque e a transformação do Rossio. Os jovens e velhos do Restelo sabem fazer bem. É só estudarem bem a matéria e não alinhar logo à primeira.
António Cruz

Unknown disse...

Caro Jorge
É verdade que esse alheamento é muito frequente. Mas também acontece o contrário. Ontem à noite o debate contou com a presença de muitas pessoas que partilharam opiniões contrárias de forma serena e civilizada e curiosamente, talvez tenham levado mais dúvidas que certezas!
E por isso entenderam solicitar ao poder político mais debate sobre a ponte e a praça, antes de se tomarem as decisões!
Um abraço
José Carlos