domingo, 28 de junho de 2009

À volta da Avenida

Nos últimos meses o estado da Avenida Dr. Lourenço Peixinho e o seu futuro foram trazidos novamente para a primeira linha das preocupações dos Aveirenses, fruto principalmente do trabalho efectuado pela Associação Comercial, pela Câmara Municipal e também de um movimento de cidadania reunido em torno do blog Amigos d’Avenida.
A realidade que todos nós constatamos é a de que a Avenida regrediu nos últimos 20 anos, tendo passado do verdadeiro centro da cidade, para uma artéria onde vamos ocasionalmente a um banco ou a um dos ainda resistentes estabelecimentos comerciais.
É pois necessário não só repensar a Avenida mas também decidir e passar à acção.
Mas o repensar da Avenida, ou pelo menos daquilo que eu tenho lido ou ouvido sobre o assunto, está, na minha opinião, a esquecer que a cidade mudou bastante e os cidadãos ainda mais.
Recuemos no tempo 20 anos. O que era a Avenida e Aveiro nessa altura?
Era onde se ia ao café (à semana e ao fim-de-semana, depois do almoço ou depois do jantar). Trianon, Tangará, Zig-Zag, Tico-Tico, Maravilhas, Bolinão ou Gelataria Recolecta eram alguns dos locais que, habitualmente estavam cheios. Quem não se lembra das esperas ao sábado, depois de almoço, para arranjar mesa no Zig-Zag? Ou de estar a jogar matraquilhos no Maravilhas à espera que vagasse uma mesa de bilhar?
Era também na Avenida o único sítio onde se ia ao banco, pois não havia balcões bancários espalhados pela cidade.
E era também na Avenida que se ia ao cinema (Aveirense, Avenida, Oita, Estúdio 2002) e, após o encerramento do Avenida enquanto cinema, podia-se ir ao bingo.
Mas Aveiro tinha outros pontos de encontro menos próximos do centro, normalmente cafés, mas onde também se encontravam regularmente vários grupos. Falo dos cafés com bilhares Taco, Ramona e Convívio ou também do Palácio que era o ponto de encontro não só das pessoas cuja vida profissional se passava junto ao Tribunal, mas também dos estudantes universitários que nele faziam uma das suas bases.
A população era menor, mas estes espaços estavam todos normalmente cheios.
Mas havia mais.
Esgueira e Beira-Mar na 1ª divisão de basquetebol, São Bernardo e Beira-Mar na 1ª divisão de andebol, Beira-Mar na 1ª divisão de futebol, com pavilhões regularmente cheios e os estádio bem composto. E o torneio de futebol de salão do Beira-Mar? Cerca de 2 meses de duração com 5 jogos diários e normalmente bastante gente a assistir.
Os Aveirenses, 20 anos atrás, iam. Saiam de casa, conviviam, iam ao cinema, ao café ou a espectáculos desportivos. Liam também mais jornais locais, como o Litoral, o Jornal de Aveiro ou o Correio do Vouga (3 semanários), o Diário de Aveiro, nascido nessa época, sem esquecer que os jornais diários do Porto tinham todos delegação em Aveiro.
Aproveito para recomendar, a quem quiser relembrar esse passado recente, para visitar o site de um projecto da Aveiro Digital que tem disponíveis em formato digital, milhares de jornais locais e regionais. Trata-se do projecto bibRia, disponível em http://bibria.cm-aveiro.pt/Forms/Highlights.aspx.
O verbo ir, hoje, tomou direcções diferentes. Perdeu-se o espírito de tertúlia, perdeu-se o hábito de sair de casa para conviver e, naturalmente, também a envolvente destes espaços que tinham uma frequência regular de pessoas, se ressentiu. É o que sucede na Avenida.
E, na minha opinião, a culpa não se pode encontrar apenas nos novos espaços comerciais da periferia que vieram naturalmente mudar a forma de vida dos aveirenses.
É necessário questionar e compreender os novos hábitos das pessoas para que se possam adaptar a esses novos hábitos, novas realidades culturais, comerciais, residenciais e de mobilidade. Quando soubermos aquilo que os Aveirenses anseiam então podemos partir de uma forma mais segura para fazer uma Avenida para o século XXI.

1 comentário:

Unknown disse...

Post citado nos Amigosd'Avenida.
Um abraço
JCM