Tenho acompanhado com algum interesse algumas opiniões colocadas online no blog dos Amigos d'Avenida quanto à qualidade e quantidade das vias cicláveis em Aveiro.
Desde já manifesto o meu desconhecimento prático sobre a questão visto que, pela comodidade e com prejuízo para a saúde, costumo andar de carro na cidade.
Mas não deixo de contribuir com a minha opinião para a discussão. E contribuo com exemplos daquilo que vou vendo um pouco pelas cidades que conheço.
Parece-me que querer reduzir a zona central da cidade à Avenida, como local para poder pedalar é demasiado redutor. Porque será que para vir do Rossio à Estação, de bicicleta, é necessário subir toda a Avenida? Porque não vir pelo Canal de S.Roque (o piso é bom) e depois seguir pela Avenida da Força Aérea e Rua de Viseu até à Estação? É apenas um exemplo, mas certamente que se encontram mais.
Visito com alguma regularidade Bolonha. Na zona central da cidade, convivem "pacificamente" centenas de bicicletas, motas, automóveis e autocarros. Não há pistas cicláveis nem os passeios, pela sua configuração, permitem que se ande de bicicleta. O piso das ruas é, em grande parte, em paralelo. Não é por causa disso que as bicicletas não circulam.
Um exemplo diametralmente oposto é o de Londres. Onde se faz um grande esforço para substituir parte do transporte poluente pela circulação em bicicletas e cujo exemplo vem do próprio Presidente da Câmara.
Mas, apesar das ruas bem asfaltadas e do pouco trânsito, há sempre a possibilidade de acontecer um acidente estúpido. Basta ver estas imagens.
Face a estes exemplos, parece-me que o radicalismo que às vezes se empresta a algumas afirmações deve ser substituído pela mentalização das boas práticas de circulação, quer por parte dos automobilistas, mas também pelos ciclistas e pelos peões. Há espaço para todos e a mudança de mentalidades demora muitos anos.
Devemos trabalhar todos para partilhar o espaço que é de todos. E, aos poucos, certamente que cada vez mais serão os que vão optar pelos meios de transporte não poluentes. E eu talvez também alinhe nessa pedalada.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
1 comentário:
O discurso sobre criação de ciclovias e o seu impacto na promoção da mobilidade ciclável tem, de facto, várias leituras e pode induzir alguns equívocos.
Existe quem defenda que a criação de ciclovias (‘dedicadas’) protege o ciclista e transmite uma ideia de segurança ao seu utilizador, estimulando uma maior utilização da bicicleta.
Acontece que os utilizadores de bicicletas, mais tarde ou mais cedo, têm de se cruzar com os automóveis (passagens, cruzamentos) e existem estudos que dizem que é aí que se dão os mais graves acidentes (por falta de contacto, excesso de confiança do ciclista, abuso do condutor,…).
Por isso há quem defenda que: se tenha de fazer reduzir a velocidade do automóvel na cidade; estimular um maior uso da bicicleta (quantos mais utilizadores menos acidentes), mas com uma condução defensiva; alterar o código da estrada (que não protege os ciclistas em quase situação nenhuma); investir na educação ciclável e em campanhas junto dos automobilistas;
Eu tenho algumas dúvidas sobre a solução ideal. Acho que, em alguns casos, pode fazer sentido criar algumas faixas cicláveis pintadas no chão (sobretudo em grandes corredores de utilização – no caso de Aveiro, por exemplo, na ligação UA-Estação), mas isso não implica que sejam esses os únicos canais cicláveis (aliás, a cidade deve ser toda ela ciclável).
Quanto às pistas cicláveis dedicadas (isto é só para bicicletas) julgo só em situações em que a relação com o tráfego automóvel é perigosa (velocidades acima dos 50Km/h) ou porque se tratam de percursos de natureza especial (por ex: circuitos de lazer ou turismo).
Agora a mudança de hábitos pressupõe um forte investimento na educação ciclável, em particular junto das escolas (porque é aí que se criam novos hábitos de mobilidade), e em campanhas dirigidas à segurança rodoviária junto dos automobilistas (estimulando práticas de condução lenta <30Km/h) e no ‘projecto de vias’ numa lógica de espaço partilhado (vale a pena conhecer melhor as experiências de ‘shared space’ que se estão a fazer no Norte da Europa).
Um abraço
José Carlos Mota
Enviar um comentário