Mais um fim de semana em que o verão teima em não chegar. Coisas da crise, este sol laboral e este cinzento nos sábados que o sr. belmiro quer usurpar...
Foge-me o pensamento, ao som da Ana Carolina, para uma praia. A minha praia, a nossa praia. Chama-se Valdevaqueros e ainda lá está, magestosa, selvagem, em permanente e intenso romance com o levante, o primo dos ventos do deserto, forte e inclemente.
Fomos pela primeira vez, a medo, uns três dias em junho, fresco, invejamos os hóspedes do Hurricane e decidimos que o Alameda, bem mais barato, seria a nossa casa. Comemos kebabs e pitas do Aziz, aqueciamos com o chá de menta do café Central e decidimos voltar em Agosto.
Poucas terras me agarraram como Tarifa, magias do vento, sedução das gentes, das cores, dos cheiros, da liberdade.
Voltamos em Agosto com a Kika e com o Paulo e a Paula. Como prometido, instalamo-nos no Alameda. O António, amigo de abraço, de joder e coño na ponta da afiada lingua andaluz, deu-nos um quarto com terraço de onde se mirava hacia el estrecho. Do outro lado, as montanhas de África provocavam as maiores divagações entre cervejas de final de tarde. No meio, os barcos que cruzavam o estreito carregados de histórias à nossa escolha.
Nos anos seguintes continuamos a voltar ao Alameda, com os pais, com irmãos, primos, consolidando a "casa".
O ritual matinal, depois das tostadas e jugo na esplanada, passava pela compra das sandes na panaderia francesa e dali seguiamos para Valdevaqueros.
Os dias de praia passavam-se entre mergulhos, escaladas da duna grande e banhos de lama na fonte "medicinal" que nos melhorava a pele, transformando-nos em guerreiros de terracota. As conversas fluiam a condizer, ao longe, contrastando com a nossa areia branca, impunha-se o Maghreb sobre o mar azul.
Já conheciamos os que regressavam, como nós, uns de Madrid, outros de Roma, outros de...
Aquele pedaço era mesmo nosso e era tão bom.
Ainda hoje não realizei completamente porque o troquei pela Quinta do Lago, uma amante loira, jactante e muito cara.
Vou fantasiando que lá regressarei um dia, depois dos sessenta, sem gravatas nem apertos, de chanatas e djelabas, para ficar, bebericando chá de menta sem recusar um kif de quando em vez. Quem sabe?
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