segunda-feira, 13 de abril de 2009

Playboy


Tenho por hábito comprar o primeiro exemplar das revistas e publicações de referência; guardo alguns, quando se justifica, e gosto de lá voltar passados anos. Tive desde muito cedo acesso aos Almanaques Bertrand e Lello do meu avô, às "Selecções" que se reliam Setembro após Setembro na quinta, o que me deu a noção muito clara de que as revistas, quando são boas, envelhecem bem e duram bem mais do que a semana ou o mês da edição.
A Playboy sempre exerceu em mim um fascínio inegável, não gosto de ser hipócrita. A ideia de mundo que Hefner ofereceu ao homem do século XX é tentadora: mulheres deslumbrantes, bom gosto, muita cultura, liberalismo de costumes, controvérsia e o tal toque pioneiro típico americano. O "homem Playboy" não é um burguês acomodado, machista e cinzento; como disse Hefner, é um homem que aproveita a vida a fundo e tem a coragem de gostar de mulheres que gostam de homens.
Posto isto, comprei o numero um da edição portuguesa com um misto de receio e entusiasmo. Deveria ter tido bastante mais receio do que entusiasmo; teria acertado. Ninguém compra a Playboy só por causa dos artigos, mas toda a gente espera bastante mais do que as meninas. Quanto às meninas, nada a dizer. Portuguesas bonitas e elegantes que nos deixam orgulhosos, apesar da pose púdica e demasiado distante.
Quanto ao resto, uma decepção absoluta. Salva-se um conto mediano de Pedro Paixão (pela edição americana passaram Updike, Capote, Murakami...) e uma nova cronista ousada que optou por ancorar-se no interessante Rui Henriques Coimbra para legitimar a sua crónica. É pouco. Muito pouco. É uma sombra pálida dos bons tempos da Playboy americana ou brasileira, menos conteúdos e piores conteúdos, nada entusiasmante mesmo.
Como não compro a edição original há uns anos, resta saber se há um declínio generalizado da revista, ou se é só mal da edição lusa, contudo, com o mesmo dinheiro havia obrigação de muito mais e muito melhor. É pena!

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