No fim de semana passado, ao perguntar aos meus sobrinhos se alinhavam numa ida á Legoland, tive uma resposta desconcertante: "O que é isso tio?"
Quando me refiz do choque, disse-lhes que era uma cidade feita em Lego. De imediato, levei com um: "Lego? O que é isso?". Depois, lá se lembraram de umas peças de encaixe coloridas que tinham em bébés, aquelas grandes e básicas que deveriam servir de recruta para os Lego de verdade. Não serviram. O meu irmão explicou-me não há espaço para Legos no meio dos digimons, dos monstros vários, dos wrestlers idiotas, da play station e afins. Senti-me velho e completamente out of tune com esta criançada.
Ainda hoje me babo perante uma caixa de Lego Technic, City ou Star Wars. O foguetão da Lego é mais fascinante do que o Apolo XI e o jipe da policia é mais cool que um Range Rover. A Lego é comparável a uma mind expanding drug, também vicia, abre os horizontes, mas tem a infinita vantagem de ninguém se atirar nú ás gargalhadas de um nono andar.
Devo à Lego horas infinitas de prazer, a criação de um mundo alternativo, tipo second life, e, sem presunções psicanaliticas, diria que era ali que se projectavam os sonhos, relativizavam frustrações e descarregava alguma violência latente, própria do processo de crescimento. Era também um meio de comunicação; quando no Natal recebia um set mais complicado, ficávamos horas, eu e o meu pai, a dar forma e sentido às pequenas peças.
O que se passará com estes miudos? O que terá de fascinante um tupperware com ranhoca verde lá dentro? Porque é que os monstros e seres disformes os fascinam tanto? Porque é que a violência, que consomem em doses absurdas, terá de ser tão absurdamente violenta? Onde é que foi que começamos a perder contacto?
Li hoje no The Guardian que os Lego estão de volta e a tentar um regresso às vidas da pequenada. Há a actualização que o marketing impõe, mas ainda assim fico feliz. É bom para todos e assegurará que a marca continuará, para felicidade de uma infinidade de adultos nostálgicos; como eu!
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