Há vários dias que a minha caixa de correio é invadida por convites e sujestões para o dia de S. Valentim. Jantares de luxo com ementa alusiva à data, festas com gente cor de rosa (pelos vistos, uma nova raça, a primeira que me faz pensar em racismo com alguma benevolência), presentes estafados, programas de spa, etc., etc..
Em Gondomar, S. Valentim é sinónimo de frigorifico novo, maquina de lavar oferecida e micro-ondas à lagardére.
Francamente, irrita-me esta invenção, esta falsa tradição, que grassa entre nós desde os idos de 80, década associada à piroseira, ao kitsch e aos Modern Talking. O nome Valentim vai bem com a indumentária da época, o espírito Fame e as lendárias Bombokas recheadas a espuma de barbear. Os anglo-saxónicos chamam-lhe apenas Valentine Day, comemoram-no há muito mais tempo e o Sinatra salvou-o do ridículo ao cantar My Funny Valentine; até no mau eles são melhores...
É um optimo dia para ficar em casa, protegido, e, aí sim, até pode "pintar" algum romance, independente da data, ou não, porque forçado pelas circunstâncias: não dá para jantar fora normalmente, ir ás compras nem pensar, ligar o televisor é risco de invasão velentiniana garantido.
Acredito que haja uma legião de cinzentos que precisa da imposição de uma data para levar a namorada a jantar fora, para lhe oferecer flores ou um postal standardizado. Depois, esta horda segue ordeira para os restaurantes que se enchem de pares celebrantes à volta de um mesmo menu padronizado: o menu especial de S. Valentim! Geralmente, o Monte Velho acompanha, avançando os mais ousados até uma garrafa de magnífico Asti Gancia. Yesssss!
Tenho a felicidade de nunca me ter sido pedido para engrossar a legião indiferenciada dos sãovalentinistas, só diz bem de quem não me pede, espero que diga algum bem de mim...
Deixo aqui público apelo às empresas de todo o género que nos invadem com as ditas sugestões: Por favor, parem! Não há nada que me corte tanto o romantismo como a lembrança deste dia nefasto.
P.s.: No Brasil, o dia dos namorados é a 12 de Junho, festejando S. António, o casamenteiro. Cá, como lá, datas estratégicas para animar o comércio em periodo baixo. Pelo menos lá, a preocupação de evocar um santo luso.
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