quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

O.O.P.


Escrevi aqui no blog que o segredo de Obama era ser um outstanding ordinary guy. Não me sentindo minimamente interessado ou motivado por qualquer V.I.P., tenho um interesse enorme, fascínio mesmo, por outstanding ordinary people.
Vem isto a propósito desta reportagem, a história da Tia Preta.
Num mundo virado para dentro ou às avessas, numa altura em que os sinais de esperança são um luxo, esta Senhora lembra-nos do que é verdadeiramente importante, do que é a riqueza de uma vida com significado. A Tia Preta vive num bairro em Chelas e o seu T2 funciona como open house para meninos que aí encontram educação, afecto, alegria e pertença. Comem lá, dormem lá, aderem voluntáriamente às regras da casa da Tia Preta, regras que os farão adultos mais bem preparados que outros meninos sem eira nem beira. A Tia Preta brinca, salta, educa e ama. A Tia Preta tem uma figura que mistura a fragilidade do movimento a uma transcendente força interior; deve ser esse o segredo da sua elegância. Tem o porte aristocrático da verdadeira nobreza, a do ser.
A Tia Preta faz quimioterapia duas vezes por mês, padece de cancro da mama, e perguntamo-nos rápidamente onde estaria Deus no momento deste aparente infortúnio. A Tia Preta explica, diz-nos da dureza dos tratamentos e do conforto da companhia dos seus meninos, diz-nos da importância que a doença tem tido ao permitir ensina-los a lidar com as dificuldades e limitações da vida.
A acabar a reportagem, diz-nos da sua pena de não ter constituido família, nem ter sido mãe; eu, apanhado ainda pela emoção e fascínio, não consigo imaginar uma família mais bonita, nem uma vida mais fecunda.

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