domingo, 18 de janeiro de 2009

Congresso I


Passei o fim de semana em estado de congresso. É um estado algo estranho, em que, de repente, achamos que o mundo é uma sala azul. As leis por que nos regemos todos os dias transfiguram-se, os sorrisos, os apertos de mão, os beijinhos e os abraços têm cada um significado próprio, são medidos na duração e na intensidade, dizem nada ou muita coisa. Perdemos bons discursos em troca de conversas bacocas, stressamos por nada que valha a pena, tudo parece questão de vida ou de morte. Televisões perseguem congressistas e congressistas perseguem televisões. Vende-se a alma por um lugar que não se chega a ocupar, há zangas e pazes em grande abundância. Num certo sentido, os congressos são o grande souk onde se regateiam pequenas vaidades e ambições. Ah, e também se fala do país, pelo menos, o presidente, que é a pessoa que no congresso se sente incumbida de dar para fora uma ideia de normalidade, de respeitabilidade.
Mea culpa, padeço do vício, embora com intensidade moderada. Confesso que os congressos fazem parte da minha vida, queria-os mais emocionantes e disputados, imagino golpes que possam acabar com as malfadadas directas. Quase tenho pena de não fumar nestas alturas, porque congressista que fuma parece que leva mais a jogo. Tenho um prazer secreto em cumprimentar quem menos me agrada a seguir a um discurso inflamado e perguntar-lhe novas da terra ou pela família; sobre o discurso nem um piu.
No fim, todos dizemos com enorme hipocrisia: esperemos que não haja outro no próximo ano! Que seja daqui por dois como mandam os estatutos!
Agora é altura de arregaçar as mangas e fazer qualquer coisa, antes que os socialistas rebentem com isto de vez!

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