Temos a já tradição familiar de passar os últimos dias do ano em Salamanca. Como costumamos dizer, vimos a termas. Fazemos uma verdadeira cura: livros, tempo para ler, jamon iberico, tapas gourmet do Momo, cava, cruzeta y pluma de iberico no Patio Chico, um Rioja que se chama Orgasmus no Erasmus, chocolate con churros no Novelty, iguarias chanceladas pelo Adriá no Pecado, com sorte, ainda tempo para uma perdiz no Rio de la Plata. A mistura com a monumentalidade impressionante, o frio seco, como eu gosto, e a tradicional movida, tornam a receita perfeita.
Mas, há também o resto. Espanha vive o primeiro ano de crise e anúncio da recessão; o "paro" está a níveis assustadores, os preços mais altos que nunca, vai-se mais "de vitrines" que "de tiendas". A tormenta chegou aqui.
Contudo, a forma como os espanhois enfrentam as dificuldades é única. A Plaza Mayor e as ruas circundantes enchem-se como sempre. Os abrigos de piel vêm de melhores anos e resistem às más noticias; os puros podem já não ser Montecristo, mas continuam acesos; as raciones passam a tapas, mas não se deixa de passar no café para encontrar os amigos e dar duas de conversa. Lembro-me das histórias da minha avó, observadora privilegiada dos castelhanos em plena guerra civil, que me contava da afición, da vaidade, da alegria com que esta gente, mesmo com fome, saía á rua, convivia, e seguia em frente.
Não é definitavamente o nosso estilo, não sei se me identifico, mas não deixa de me fascinar.
1 comentário:
Talvez um dia comeces a pensar como eu...
Para já, sou eu que concordo integralmente com o texto (ou com a mensagem nele contida) e com o título que, aliás, acho fantástico: Tan cerca y Tan lejanos...
Acrescentaria, talvez, um "hace ya demasiado tiempo"!
Un Abrazo y Buen Año para ti y toda tu familia!
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