O 5 de Outubro é data que não augura nada de bom, o discurso de Cavaco provou-o. É evidente a minha distância de Cavaco, como é evidente o meu respeito pelas qualidades que lhe reconheço. Não há um segundo de espontaneidade na vida de Cavaco, pelo menos na vida pública, todas as suas palavras são milimetricamente pensadas, cada intervenção cuidadosamente pesada, cada sinal friamente ponderado. O discurso de ontem, mais do que um sinal de afastamento prudente de Sócrates, é um primeiro aviso a todos os portugueses, é o anúncio de tempos bem mais negros do que qualquer um de nós quer admitir.
Friamente, Cavaco começa a ponderar que Sócrates poderá ser engolido pelo tsunami da crise e Ferreira Leite poderá acabar em S. Bento por exclusão de partes. Menos friamente, sente-se tentado com a submissão absoluta que Ferreira Leite tem praticado, sugerindo um futuro governo coordenado a partir de Belém. A jogada é arriscada, mas inteligente. Ferreira Leite desde cedo percebeu que não é a desejada de ninguém, entre aquecer o lugar de outro e jogar os seus trunfos, decidiu jogar, um direito mais que legítimo. Assim, perante a ameaça de grave crise, assume o seu apagamento na esperança de vender ao país um presidencialismo informal, na ânsia que o país compre um Cavaco timoneiro da nau nas fortes tormentas. É um dado novo, interessante e, conhecendo o nosso povo, capaz de produzir frutos.
No presente, vamos ver como reagem melhor os portugueses; se ao optismo que Sócrates mantém, se ao revisitado discurso da tanga de Cavaco.
O problema real é que, desta vez, é Cavaco quem está a dizer a verdade.
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