sexta-feira, 15 de agosto de 2008




Durante, quase 15 dias, algumas enguias abandonaram as águas escuras e lodosas das rias do norte e rumaram a Sul para as águas azul turquesa da praia do Ancão.Deitadas ao sol escaldante, tornaram-se pouco esguias e abandonaram as suas profundas dissertações críticas sobre o estado do nosso "Pântano plantado à beira mar". Neste penúltimo dia de praia, junto a um "Mar que não tem tamanho" e "ao sol que arde", lembrei-me desta belissima música do Vinicius. Não é a praia de Itapuã, eu sei, mas também é boa. Neste "encontro de céu e de mar", "Foi bom sentir a preguiça no Corpo". Saio daqui,com um ar de enguia grelhada, bem tostada, mas pronta para enfrentar as águas lodosas do próximo ano.

BOAS FÉRIAS, fiquem com este belissimo poema:

Um velho calção de banho
O dia pra vadiar
Um mar que não tem tamanho
E um arco-íris no ar
Depois na praça Caymmi
Sentir preguiça no corpo
E numa esteira de vime
Beber uma água de coco

É bom
Passar uma tarde em Itapuã
Ao sol que arde em Itapuã
Ouvindo o mar de Itapuã
Falar de amor em Itapuã

Enquanto o mar inaugura
Um verde novinho em folha
Argumentar com doçura
Com uma cachaça de rolha
E com o olhar esquecido
No encontro de céu e mar
Bem devagar ir sentindo
A terra toda a rodar

É bom
Passar uma tarde em Itapuã
Ao sol que arde em Itapuã
Ouvindo o mar de Itapuã
Falar de amor em Itapuã

Depois sentir o arrepio
Do vento que a noite traz
E o diz-que-diz-que macio
Que brota dos coqueirais
E nos espaços serenos
Sem ontem nem amanhã
Dormir nos braços morenos
Da lua de Itapuã

É bom
Passar uma tarde em Itapuã
Ao sol que arde em Itapuã
Ouvindo o mar de Itapuã
Falar de amor em Itapuã


Vinicius de Moraes

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