Hoje um dos canais nacionais passou uma excelente reportagem sobre os meninos escravos do lago Volta. É-nos mostrado um daqueles mundos que nos empenhamos em obliterar no dia a dia, daqueles que tornam os combustíveis e os subprimes risíveis.
Estes meninos são vendidos pelas mães a troco de umas dezenas, raramente uma centena de dolares, e são levados para desde os quatro anos serem escravos. Muitos deles nem sabem o seu verdadeiro nome ou que idade realmente têm. Vivem resignados, vergados ao trabalho, longe da infância que a ONU consagrou mas não garante.
Nos rostos destes meninos que nos fazem querer partir numa fúria justiceira e libertadora, vê--se calma e sente-se a sabedoria dos santos e dos mártires.
Com um nó na garganta que ainda não se desfez, retive o diálogo com um destes meninos:
"- Quando vieste para cá?
- Há muito tempo.
- Como foi?
- Foram á nossa aldeia comprar crianças para trabalhar. A minha mãe passava muito mal e vendeu-me.
- Estás zangado com a tua mãe?
- Não, gosto muito dela."
É por isso que, quando um destes meninos feito homem, arrisca a vida, atravessa selva, desertos e mares para se libertar, eu nunca terei coragem, muito menos vontade, de lhe fechar a porta.
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