Como ponto prévio, quero deixar claro que entendo que as relações entre estados e a política externa se regem mais por interesses que por princípios. Foi sempre assim e sempre será. Tal, não invalida a observação de uma reserva mínima de pudor. Troquemos por miudos: as grandes nações, como França e Grã-Bretanha, sempre contemporizaram com grandes tiranos e gente nada recomendável, desde que o interesse nacional inequivocamente o justificasse. Contudo, a arte da diplomacia prescreve que se actue com a moderação possível, com ajuizada discrição. Kissinger terá pedido a Suharto que o deixasse abandonar o solo indonésio antes de avançar sobre Timor...
Nos últimos dias, assistimos à negação de todos estes pricípios de prudência e ao pulverizar da tal reserva mínima de pudor por José Sócrates.
Compreendo que se tente assegurar uma posição portuguesa numa Angola em crescimento, para mais, tendo em conta a posição dominante de Angola, ou da familia dos Santos, em sectores fundamentais da economia portuguesa. O que eu já não entendo, é a verborreia bajuladora de Sócrates, a adulação despropositada, a obliteração desonesta da verdade. Ainda se arrisca a que algum desbocado ofendido lhe lembre algum Pétain da história...
A par do branquamento do tirano, criminoso e corrupto José Eduardo dos Santos, Sócrates desfaz-se em elogios a uma China que continua a triturar as liberdades mínimas, a impor-se na economia global através do desrespeito sistemático dos direitos humanos...
Para terminar, as loas ao amigo Kadhafi, um amigo exemplar, um modelo a ter em conta. Para Sócrates, que perante os meninos velhos da JS hoje se vangloriava da legalização do aborto, Kadhafi poderá ser um exemplo a seguir, para mim não é de certeza.
Concluo dizendo que compreendo as incursões da diplomacia e dos negócios a Angola, Venezuela, China ou Líbia. Havendo esta janela de oportunidade, Portugal tem obrigação estrita de a aproveitar. Tendo isto em conta, mas não esquecendo que cada um destes países é governado por gente da pior espécie, Sócrates teria obrigação de agir com a discrição possível, de ser eficaz nas negociações e económico nos elogios. Suspeito que tenha sido precisamente o contrário.
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