sexta-feira, 25 de abril de 2008

MITOS


Pedro Santana Lopes confirmou hoje a candidatura à liderança do seu PPD/PSD. Digo confirmou porque Luís Delgado já a tinha anunciado há dois dias na SIC Notícias. O processo foi mais reflectido do que aparenta, o teste de Delgado, um indefectível muito próximo de Lopes, visou colher reacções e marcar território, essencialmente, dar um sinal a um Jardim em delírio.
Se é verdade que PSL não consegue virar as costas a um bom desafio, esta candidatura é muito mais do que isso; goste-se ou não, PSL é de uma resiliência notável. Vamos a factos.
PSL, na altura apelidado de pára-quedista, ganhou a câmara e transformou a face da Figueira da Foz, contra tudo e contra todos.
PSL, na altura acusado de exagerada audácia, ganhou a câmara da capital, recuperando-a para o seu partido e para a direita.
PSL, na altura acusado de leviandade, deixou entre as gentes da cultura real mais saudades do que qualquer outro governante da área.
PSL chegou a Primeiro-Ministro nas piores condições, condicionado pelo trânsfuga Barroso, contra os interesses políticos pessoais de Cavaco e com a antipatia notória de Sampaio. Barroso quis condicionar o futuro provocando um governo de legitimidade reduzida. Cavaco quis o PSD fora do seu caminho para Belém, teria de "matar o enteado" se quisesse ser presidente; assim fez. Sampaio, em final de mandato, esperava apenas a queda de Ferro para deixar o governo ao seu PS; assim foi. PSL não aguentou a pressão, não brilhou no cargo.
Vale a pena, ainda assim, fazer um exercício honesto e compará-lo a José Sócrates: tivesse Santana feito um décimo ou aparecido em apenas um dos "casos" de Sócrates e seria certamente crucificado.
Pedro Santana Lopes comete muitos erros, contudo, tem também qualidades inegáveis; dá a cara nos momentos difíceis, não nega que tem contas a ajustar com o passado recente e vai á luta, eu respeito pessoas assim.
Do outro lado, o mito de Ferreira Leite. O mito convém a todos os que, aguardando por 2011, se escondem hoje atrás da sua candidatura. Se transpusermos a analogia Santana/Sócrates para Ferreira Leite/Teixeira dos Santos, estamos conversados. A mesma imprensa e opinião publicada que diabolizou Santana, tratou de mitificar Ferreira Leite. Ninguém é bom só porque Pacheco Pereira o diz, Ferreira Leite foi, de facto, uma governante sem rasgo, um bluff com rosto esfíngico; votos, legitimidade popular, nunca os teve até hoje. Estas poucas linhas chegam para falar de Ferreira Leite, todos dizem que tem uma imagem sólida de mulher séria, é bom, mas manifestamente insuficiente.
Todo este exercício de análise é desapaixonado, a garantia é a mais séria: eu não votarei PSD em circunstância alguma, é uma questão inultrapassável, como se diz agora, um problema de pele.

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