Deixo, como ponto prévio, o meu distânciamento de muito do que Constança Cunha e Sá escreve, o que não me impede de livremente concordar quando as nossas opiniões coincidem e, acima de tudo, reconhecer que é uma mulher livre, inteligente e com um lugar merecidamente conquistado na crónica política em Portugal.
Quanto a Fernanda Câncio, lembro-me de ter concordado uma ou duas vezes com os seus escritos e ter pensado que um de nós não estaria muito bem na altura. É uma jornalista engajada, militante e sectária; os seus escritos enquadram-se mais rápidamente no panfleto do que na crónica. Confesso que nutro uma profunda antipatia pela senhora, pelo que escreve e pelo que representa.
Posto isto, e declarada a minha dificuldade de um julgamento isento, elenco alguns critérios de avaliação. O cronista, para mim, é dotado de estrutura autónoma e personalista, escrevendo livremente, com fidelidade aos seus princípios, podendo, obviamente, situar-se dentro de determinada área ideológica. O panfletário, usa o espaço que publica para, de forma comprometida e parcial, veícular o "caderno de encargos" onde se filia, os anlo-saxónicos usam o termo "his master's voice".
Tudo isto a propósito de mais um panfleto de Fernanda Câncio no DN de hoje. Quanto à matéria escrita, claro está, a minha discordância é total; é mais um passo do mandato jacobino que tem, mais uma série de impropérios do calibre a que, infelizmente, já nos habituou. O que ressalta na peça e no título é a confusão de estatutos, golpe astuto e de uma arrogância inusitada! Ao afrontar de forma nominal e directa Constança Cunha e Sá, Câncio pretende elevar-se a um despique entre iguais. Isto é, eu poderei livremente discordar e criticar o Prof. Marcelo, dizer mal de Vasco Pulido Valente; nunca o poderei fazer partindo de um patamar de igualdade de relevância pública e de exercício de funções. É aqui que Câncio, para além de todos os seus defeitos, mostra mais um, e pior, o pretensiosismo de quem não conhece o seu lugar.
Haja paciência!
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