O Prof. Doutor Daniel Serrão completou ontem 80 anos. Que juntam numa só muitas vidas diferentes. A do jovem amante de poesia, a do estudante, a do professor dedicado, a do especialista em anatomia patológica. E a mais conhecida, na defesa da ética. Membro dos Comités de Bioética do Conselho da Europa e da Unesco, da Academia Pontifícia para a Vida e do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, lutou contra a legalização do aborto. Ontem recebeu uma homenagem na Universidade Católica do Porto.
Para conhecer melhor o Homem e o Professor, recomendo a visita ao site www.daniel serrao.com e às entrevistas e conferências ali publicadas. Entretanto, transcrevo aqui uma parte da entrevista ontem concedida ao JN:
« JN - Há dez anos, disse que os 70 anos eram a idade da morte civil em Portugal. Aos 80 anos, vai dar aulas. Não morreu civilmente…
Daniel Serrão - Não! Não morri! Bem quiseram matar-me, mas não. E, olhe, vou publicar um livro sobre essa tentativa. Chama-se "Um saneamento político exemplar – 33 anos depois". Espero que saia mesmo no dia 23 de Junho, em que faz 33 anos que fui demitido (por não se submeter, palavras do próprio, a "interesses mesquinhos e conluios meramente políticos). Fui reintegrado ao fim de um ano e pago por aqueles meses em casa. (…).
JN: Ao cabo de tantas vidas, diria que a sociedade hoje está melhor ou pior do que antes?
Sempre melhor. Não há sociedade que não tenha simultaneamente capacidades e riscos. A nossa obrigação é minimizar os riscos e potenciar as capacidades.
JN: Mas hoje legalizou o aborto, caminha-se a passos largos para a permissão da eutanásia, pesquisa-se em embriões…
Aborto houve sempre. A única coisa que posso dizer é que hoje temos muitas condições para que o abortamento possa acabar. A contracepção hormonal tornou-o um absurdo.
JN: Essa parte piorou, portanto…
Nesse aspecto, a sociedade piorou. Porque não há situações em que a mulher tenha legitimidade para dizer que não quer, depois de estar grávida. Tem que dizer antes. Se fica é porque quer ou está-se nas tintas. E se se está nas tintas, não merece consideração alguma da sociedade.
JN: E a eutanásia?
Também houve sempre a ideia de que, a dada altura da vida, o melhor a fazer por uma pessoa é matá-la. Há aquela história popular do filho que leva o pai para o cimo do monte para morrer de fome. Dava-lhe uma manta para não ter frio. E o pai pediu ao filho para cortar a manta a meio. "Para dares ao teu filho quando ele te vier trazer cá". Não estamos autorizados a fazer aos outros aquilo que não queremos que nos façam a nós. Não interessa discutir a eutanásia, interessa discutir os cuidados paliativos e perguntar à ministra da Saúde quando é que desenvolve os cuidados paliativos domiciliários. Porque as dores são tratáveis, a vida até à morte pode ser digna e feliz.
JN: A evolução da genética não obriga a mudar o conceito de ética?
De um modo geral, a genética é benéfica. Só uma pequena parte do ser humano é condicionada pela informação genética. A diferença é que, quanto mais sabemos sobre o homem, mais aprofundada é a reflexão ética. Porque é a ética é descritiva, não deliberativa. Propõe soluções. Se fosse deliberativa, transformava-se em poder e ficaria condenada à morte. E hoje está em crise porque quer os políticos, quer as religiões querem apoderar-se dela.
As religiões?
Veja o que se passa com o islamismo. Passou a ser ética aquilo que entende que deve ser feito. Mas a nossa obrigação é ver qual a melhor solução ética para uma dada questão. Se não estiver de acordo com a religião, aí opta-se. A ética não pode ser confundida com religião. »
Daniel Serrão - Não! Não morri! Bem quiseram matar-me, mas não. E, olhe, vou publicar um livro sobre essa tentativa. Chama-se "Um saneamento político exemplar – 33 anos depois". Espero que saia mesmo no dia 23 de Junho, em que faz 33 anos que fui demitido (por não se submeter, palavras do próprio, a "interesses mesquinhos e conluios meramente políticos). Fui reintegrado ao fim de um ano e pago por aqueles meses em casa. (…).
JN: Ao cabo de tantas vidas, diria que a sociedade hoje está melhor ou pior do que antes?
Sempre melhor. Não há sociedade que não tenha simultaneamente capacidades e riscos. A nossa obrigação é minimizar os riscos e potenciar as capacidades.
JN: Mas hoje legalizou o aborto, caminha-se a passos largos para a permissão da eutanásia, pesquisa-se em embriões…
Aborto houve sempre. A única coisa que posso dizer é que hoje temos muitas condições para que o abortamento possa acabar. A contracepção hormonal tornou-o um absurdo.
JN: Essa parte piorou, portanto…
Nesse aspecto, a sociedade piorou. Porque não há situações em que a mulher tenha legitimidade para dizer que não quer, depois de estar grávida. Tem que dizer antes. Se fica é porque quer ou está-se nas tintas. E se se está nas tintas, não merece consideração alguma da sociedade.
JN: E a eutanásia?
Também houve sempre a ideia de que, a dada altura da vida, o melhor a fazer por uma pessoa é matá-la. Há aquela história popular do filho que leva o pai para o cimo do monte para morrer de fome. Dava-lhe uma manta para não ter frio. E o pai pediu ao filho para cortar a manta a meio. "Para dares ao teu filho quando ele te vier trazer cá". Não estamos autorizados a fazer aos outros aquilo que não queremos que nos façam a nós. Não interessa discutir a eutanásia, interessa discutir os cuidados paliativos e perguntar à ministra da Saúde quando é que desenvolve os cuidados paliativos domiciliários. Porque as dores são tratáveis, a vida até à morte pode ser digna e feliz.
JN: A evolução da genética não obriga a mudar o conceito de ética?
De um modo geral, a genética é benéfica. Só uma pequena parte do ser humano é condicionada pela informação genética. A diferença é que, quanto mais sabemos sobre o homem, mais aprofundada é a reflexão ética. Porque é a ética é descritiva, não deliberativa. Propõe soluções. Se fosse deliberativa, transformava-se em poder e ficaria condenada à morte. E hoje está em crise porque quer os políticos, quer as religiões querem apoderar-se dela.
As religiões?
Veja o que se passa com o islamismo. Passou a ser ética aquilo que entende que deve ser feito. Mas a nossa obrigação é ver qual a melhor solução ética para uma dada questão. Se não estiver de acordo com a religião, aí opta-se. A ética não pode ser confundida com religião. »
Existe algum receio por parte das pessoas em realizarem testes de ADN devido à possibilidade de terem doenças geneticamente transmissíveis na família, algo que pode levar a uma discriminação por parte de não só das seguradoras responsáveis pelos seguros de saúde, como também dos empregadores.
O interesse na utilização de testes de pesquisa genética está a aumentar entre as entidades empregadoras, que os vêem como um instrumento de avaliação dos seus potenciais funcionários. Razões não lhes faltam. Os empregadores estão interessados em reduzir os custos de produção e em aumentar a rentabilidade dos investimentos. Para isso, têm de evitar vários factores, como por exemplo: a ineficiência do trabalhador, a perda do investimento por incapacitação prematura e os custos das comparticipações por doença, invalidez ou morte.
Por exemplo, algumas companhias químicas alegam que estes testes poderão servir para medir a sensibilidade genética dos trabalhadores a ambientes altamente tóxicos. Preocupadas com o elevado custo da cobertura dos seguros de saúde, com os pedidos de indemnização por incapacidade e com o absentismo, as empresas encontram aqui a solução para eliminar os funcionários que possam estar mais predispostos à doença.Também as empresas que fazem grandes investimentos na formação dos funcionários pretendem saber se obterão retorno desses investimentos, nomeadamente garantindo que os futuros colaboradores estejam imunes a doenças muito debilitantes durante o período abrangido pelo contrato de trabalho. A grande preocupação prende-se com o facto de não quererem desperdiçar tempo nem recursos com um funcionário que sabem a priori que não será capaz de prosseguir na carreira dentro de poucos anos.
Algumas instituições que requerem um alto nível de estabilidade emocional por parte dos seus funcionários, como é o caso de escritórios de advogados, companhias aéreas e departamentos policiais, vão interessar-se, certamente, pelos testes genéticos para detectarem predisposições para alcoolismo ou depressão, além de distúrbios comportamentais e de humor. Para tal basta argumentarem que é do interesse público saber se um controlador de tráfego aéreo, um piloto ou um polícia sofre, ou poderá algum dia vir a sofrer, de uma doença do foro mental.
Do mesmo modo, o isolamento dos traços genéticos e das predisposições que condicionam a personalidade, como a extroversão ou a capacidade de suportar emoções fortes, poderá ser bastante útil a empresas que precisem de contratar pilotos de teste, guias turísticos ou vendedores.
Privar os profissionais dos seus empregos com base nos genótipos poderá levar à criação de um novo grupo de trabalhadores expropriados neste «século da biotecnologia». Com o elevado número de informação genética disponível, torna-se praticamente inevitável que alguns empregadores utilizem os dados para seleccionar e escolher os futuros funcionários. Provavelmente, o «passaporte genético» desempenhará no futuro um papel significativo e, em alguns casos, determinante nas decisões de recrutamento em muitos sectores.Para evitar a possibilidade de criar uma nova classe de desempregados do ponto de vista genético, deve dedicar-se especial atenção ao estabelecimento de limites e criar mecanismos que impeçam as instituições de praticarem discriminação genética. Terão de ser promulgadas leis em todos os países que proíbam os as entidades patronais de realizar e aceder a testes genéticos sobre os seus funcionários, actuais e potenciais, e de discriminar seres humanos com base em predisposições que poderão vir ou não a manifestar-se.
Sem comentários:
Enviar um comentário