terça-feira, 4 de março de 2008

INFERNO


Confesso que o inferno sempre foi uma questão teológica que me deixou algo confusa, até porque no seio da própria Igreja parece não haver consenso quanto à sua existência e á sua “forma”. Em criança, fruto de uma catequese retrograda, imaginava o inferno como um local em chamas, com caldeirões, onde pessoas, à semelhança de Prometeu, eram eternamente torturadas. Mas a caminhada na fé fez-me perspectivar esta questão de uma outra forma. Claro que persistam dúvidas, até porque, nestas questões de fé há sempre o mistério para além do qual razão humana não consegue avançar.
Vejamos então a razão da minha confusão:
-Sta Teresinha de Lisieux, padroeira das missões e doutora da igreja, apesar de aceitar a existência do inferno porque a igreja assim ensinava, acreditava que o inferno estava vazio porque o amor de Deus era tamanho que faria de tudo para alguém não ir para lá.

-João Paulo II durante o seu pontificado, em 1999, corrigiu o conceito tradicional de Inferno. Para o Papa João Paulo II o Inferno "não é um lugar", mas antes " a situação de quem se afasta de Deus". Estas afirmações vêm na linha de Orígenes (185-253) que defendia que a salvação seria universal, isto é, todos os seres humanos, maus ou bons, têm um lugar no céu.

-Recentemente o Papa Bento XVI veio afirmar que o inferno existe e é eterno. O Papa disse que no mundo moderno muita gente, incluindo alguns crentes, esqueceram-se que se não "admitem a culpa e a promessa de não voltar a pecar", arriscam-se a uma “condenação eterna no inferno”. Veio assim contradizer as afirmações do seu antecessor ao afirmar que o inferno não está vazio.
Compreendo, de certa forma, as razões porque, Bento XVI, reabilita o inferno como local de condenação eterna. Perante a falta de valores e o relativismo que grassa na nossa sociedade, este vem dizer que a nossa opção entre aceitar Deus ou recusa-lo não é indiferente, que o bem e o mal são antagónicos e que aqueles que persistem no pecado terão a sua punição.
Acredito sinceramente que o inferno existe. Mas para mim, o inferno não é uma questão de eternidade mas uma questão de "aqui e agora".
Determinar o local do inferno não é importante, mais importante é sabermos que o inferno é algo de imanente ou interior ao homem; se o tormento máximo do inferno é o de não amar, o homem no seu intímo pode ser portador do inferno.

1 comentário:

CASUAL FRIDAY disse...

Prefiro que o Papa nos fale de Amor e de Esperança. Do Amor de Deus e não do temor. Tal como fez, tão bem, na Enciclica Spe Salvi - nos parágrafos n.º 45 a 47.
"O fogo que simultaneamente queima e salva é o próprio Cristo, o Juiz e Salvador."