terça-feira, 11 de março de 2008

Frágil


Manter uma atitude optimista perante o próximo e perante a vida é o desejável. Por vezes, é um luxo, na melhor das hipóteses, um enorme desafio. Vem isto a propósito de um país, de dois homens e de um sonho que se desfaz, tudo por causa da infinita estupidez humana.
África do Sul, país com enormes potencialidades, crescimento económico invejável e beleza natural de tirar o fôlego, encontra-se numa das piores encruzilhadas da sua atribulada vida. Depois de Mandela e Tutu, depois de um horizonte de esperança, começa o esquecimento da superior lição que estes dois homens deixaram.
Mandela, uma das figuras mais inspiradoras da actualidade, descrito na perfeição por Adriano Moreira como o homem que escolheu a politica como caminho de santidade, vê o país afastar-se do caminho de reconciliação e pacificação que viveu e legou.
Desmond Tutu é hoje um homem afastado, "exilado" da nova realidade.
Tabu M'Beki, outrora uma enorme promessa da política, falha redondamente; no plano interno, com a insegurança, a pobreza, a desigualdade e o flagelo da sida; no plano externo, com a condescendencia e cumplicidade com o vizinho Mugabe e com a atitude de desconfiança e tensão em relação ao que agora chama as "potências colonizadoras". O espirito da "Commonwealth" é essencial à nova África do Sul, este afastamento deixa adivinhar o pior.
À frente do ANC está agora Jacob Zuma, político populista e demagógico, envolvido em esquemas de corrupção, com um passado vergonhoso. Dirigiu a instituição nacional de luta contra a sida e foi publicamente descoberto por ter tido sexo desprotegido com uma mulher seropositiva. Alegou que no final tomou um bom duche, estamos conversados!
Contibuindo de forma decisiva para o aumento da tensão social, um grupelho de imbecis racistas, desculpem o pleonásmo, lança o fogo no mundo universitário e no país. Em Free State (curioso nome!), um grupo de brancos afrikaners da irmandade/residência Reitz faz um video-manifesto, para consumo interno, em que os quatro alunos obrigam violentamente uma aluna negra a beber uma mixórdia que continha, entre outras coisas, urina dos quatro. Esta humilhação selvagem, indigna de qualquer primata conhecido, seria um manifesto anti-integração. Reitz é conhecida como uma das residências universitárias que, ainda hoje, mantêm oficiosamente o estatuto white only. Pedir ao jovens universitários negros que escolham o caminho de Mandela em vez dos apelos de Malcom X, é uma missão nobre mas pouco realista. Toda a gente tem um limite.
África do Sul só pode continuar um projecto de país viável se praticar uma política efectiva de reconciliação, de promoção de paz social e distribuição justa das suas enormes riquezas. Governada por políticos populistas, demagógicos, de tendência isolacionista e incendiada pelos afrikaners saudosistas do horror que foi o apartheid, nada de bom se poderá esperar.
Que falta faz um novo Mandela!

1 comentário:

Ruah disse...

Bem escrito.A humanidade parece não ter solução.Tanta estupidez e tanta intolerância são sinais de um futuro "negro" para este pais; tão rico e tão pobre ao mesmo tempo.