Há casamentos felizes. Nada sei da vida sentimental de Bernard Pivot, nem me interessa; a sua dimensão pública oferece-nos desde os idos de 60 do século passado uma sucessão de casamentos felizes. Os históricos televisivos Apostrophes e Bouillon de Culture, as marcantes entrevistas de grande fôlego, a incontornável Lire... Bernard Pivot tem sabido casar uma carreira sólida com um factor de novidade permanente, coisa rara. Não será estranho ter sido o primeiro não-escritor a receber o Goncourt. Sou um dos admiradores incondicionais de Pivot, a figura elegante, inequivoca sem ser pretensiosa; o modo, incisivo sem ponta de agressão, vivo sem sombra de deslumbramento; a palavra, natural e sempre a melhor de entre as disponíveis, inteligente e a suscitar a inteligencia. Raro. Até numa ida conversa com Soares, Pivot me manteve cativo e vi, e gostei, de Pivot.
Há um novo motivo, sublime, para falar de Pivot: Diccionário Sentimental do Vinho. Não é difícil imaginar Bernard Pivot com um copo de vinho, rodando pensativo entre os dedos, pousado entre livros abertos, bebido em pequenos golos de prazer. É um privilégio seguir esta viagem em tão ilustre companhia por lugares tão apaixonantes. O livro ensina e estimula, diverte e educa, não sei se o aconselhe para mesinha de cabeceira, dá uma vontade danada de ser acompanhado de um bom copo, aula prática. Aconteceu-me o mesmo no Sideways de que um dia aqui falarei. O cruzamento do vinho com a vida é frequentemente interessante, quando os melhores vinhos se cruzam com uma vida de excepção... Vão lá comprar o livro! Já está disponível, o lançamento oficial é só hoje, daqui a umas horas, no Instituto Franco-Português com Pivot lui-même.
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