sábado, 2 de fevereiro de 2008

O PÁSSARO DA ALMA




No fundo,
bem lá no fundo do corpo,
mora a alma.
Ainda não houve quem a visse,
mas todos sabem que ela existe.
E não só sabem que existe,
como também sabem o que tem dentro.
Dentro da alma,
lá bem no centro,
pousado numa pata
está um pássaro.
E o nome do pássaro é pássaro da alma.
Dentro do corpo, no fundo, bem lá no fundo, mora a alma.

Ainda não houve quem a visse,
mas todos sabem que ela existe.
E ainda nunca,
nunca veio ao mundo alguém
que não tivesse alma.
Porque a alma entra dentro de nós no momento em que nascemos
e não nos larga
— Nem uma só vez —
Até ao fim da nossa vida.

Quando alguém nos ama,
O pássaro da alma dá pulinhos
De contente,
Para trás e para a frente,
Vai e vem.

E quando alguém nos abraça, o pássaro da alma
Que mora no fundo, bem lá no fundo do nosso corpo
Começa a crescer a crescer,
Até encher quase todo o espaço dentro de nós
Tão bom é para ele o abraço.

Decerto querem também saber de que é feito o pássaro da alma
Ah, isso é mesmo muito fácil:
É feito de gavetas e mais gavetas.
O pássaro da alma está pousado numa pata,
E com a outra – que em descanso está dobrada sob a barriga
Roda a chave da gaveta que quer abrir,
Puxa pelo puxador,
e tudo que está dentro dela
Sai em liberdade ...

E como tudo o que sentimos tem uma gaveta,
O pássaro da alma tem imensas gavetas
A gaveta da alegria, e a gaveta da tristeza
A gaveta da inveja e a gaveta da esperança
A gaveta da desilusão e a gaveta do desespero
A gaveta da paciência e a gaveta do desassossego
E mais, a gaveta do ódio, a gaveta da cólera e
A gaveta do mimo.
A gaveta da preguiça e a gaveta do vazio
A gaveta dos segredos mais escondidos
Uma gaveta que quase nunca abrimos
E há mais gavetas
Vocês podem juntar todas as que quiserem.

Agora já compreendemos que cada homem
É diferente do seu semelhante
Por causa do pássaro da alma que tem dentro de si.

E o mais importante é escutar logo o pássaro
Pois acontece o pássaro da alma chamar por nós, e nós não o ouvirmos
É pena. Ele quer falar-nos de nós próprios.
Quer falar-nos dos sentimentos que estão encerrados nas gavetas
Dentro de nós
Há quem o ouça muitas vezes
Há quem o ouça rara vezes,
E há quem o ouça
Uma única vez na vida.

Por isso vale a pena
Talvez tarde, pela noitinha,
Quando o silêncio nos rodeia,
Escutar o pássaro da alma que
Mora dentro de nós,
No fundo, lá bem no fundo do corpo.

in "O Pássaro da Alma"

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