terça-feira, 29 de janeiro de 2008


Nos dias de aperto de Prodi escrevi sobre a oportunidade de Fini, hoje confirmo as minhas expectativas. O espectáculo da cena política italiana, entre a vitimização de Prodi e o folclore de Berlusconi, deixa o espectador em montanha russa entre o trágico e o cómico. Sabiamente, Fini tem sabido estar fora deste regabofe, resta saber se na política italiana compensa.

Lembro-me de em pequeno ver na televisão discursos de Mussolini, ainda hoje me fascina o estilo e a teatralidade, nada diferentes das dietribes dos irmãos Marx. Na mesma época, analisados em paralelo, Hitler falava com força e determinação para mobilizar um povo alemão ávido de progresso e afirmação no mundo, Franco mantinha em tom militar operacional a Espanha em reconstrução e a preparar um futuro sem horizontes definidos, Salazar em tom austero e monocórdico mantinha o povo manso com fé num mundo português prevísivel e certinho. Cada ditador falou para o seu povo e, controlando-o, foi também espelho das aspirações e desígnios do colectivo. Il Duce, Mussolini de seu nome, em qualquer outro país seria uma anedota, um louco á solta, nunca um líder. A pose, o gesto, o verbo, a encenação operática, o exagero demencial das suas aparições deixam perceber que se o seguiram é porque gostaram. Há povos assim. Pelo menos um.

Não estranhemos agora Berlusconi. Diz-se "o Jesus Cristo da política", alega que já fez mais do que Napoleão, com a vantagem de ser mais alto. No parlamento as moções fecham-se com deputados em cima das cadeiras e garrafas de champagne abrem-se com estrépito e euforia. Berlusconi é visto pelo resto do mundo como possivelmente os nossos avós terão visto Mussolini; Berlusconi, tal como Il Duce, são essencialmente homens de comunicação e conhecem o povo a que se dirigem.

E Prodi? Insistirá em arrastar o seu cadáver político por mais tempo? Por outro lado, a esquerda terá sucessor para o defunto? Terá investido durante esta prolongada agonia na formação de um novo acrobata ou ilusionista capaz de impressionar il popolo? A ver vamos.

Voltando ao principio, terá Fini, no seu estilo sério, racional e ponderado, possibilidades de seduzir tão exuberante povo? O mundo agradecia, mas o mundo é lá fora! Que será feito de Cicciolina?


2 comentários:

Anónimo disse...

Sem ofensa para os irmãos Marx, está muito do genero e tem razão é uma terra de loucos! Bravissimo!

Anónimo disse...

Belissimo video ao melhor estilo Monty Python! Bom post!