Diz-nos a sabedoria popular que se apanha mais depressa um mentiroso do que um coxo.
Foi com esse sentimento que eu fiquei ao ouvir ontem a conferência de imprensa do Ministro Lacão e do Secretário de Estado Campos logo após o chumbo dos chips de matrícula.
Dizia, entre outras coisas, o Secretário de Estado, que tinha sido feito um grande investimento para ser possível cobrar as portagens através dos chips e que isso tinha de ser levado em conta.
Ora, segundo esta notícia do JN de Julho do ano passado, o MOPTC dizia que a montagem dos pórticos era da responsabilidade dos concessionários.
Aqui chegado, deixei de perceber.
A responsabilidade da instalação dos pórticos, segundo o Governo, foi dos concessionários mas, menos de um ano passado, o mesmo Governo vem dizer que foi feito um grande investimento nos pórticos...
Mas, desde quando, compete ao Governo preocupar-se com os investimentos que as empresas privadas fazem?
O Governo vai passar a preocupar-se com todos os investimentos de todas as empresas privadas, ou apenas com os investimentos de algumas delas?
E se são apenas algumas, qual o critério para serem essas as eleitas?
Ainda na mesma conferência de imprensa, tentou o Secretário de Estado fazer um número bacoco de magia ao mostrar um identificador da Via Verde e um do DEM (pomposo nome dado ao chip) dizendo que eram exactamente iguais, razão pela qual não percebia as objecções colocadas à utilização do DEM.
Infelizmente o Blogger não tem nenhuma ferramenta associada para fazer desenhos, pois, se a tivesse, eu faria aqui um bonequinho para explicar ao Secretário de Estado Campos a diferença entre os dois.
Mas, mesmo sem bonequinho, passo a explicar.
Nas auto-estradas e nos parques de estacionamento onde se pode utilizar a Via Verde há uma opção de não o fazer, optando pelo pagamento manual. Ou seja, mesmo tendo Via Verde e circulando numa via apta para utilizar a Via Verde, temos sempre a opção de a não utilizar, evitando assim os registos nos sistemas da Via Verde e dos bancos relativamente à nossa passagem em determinada estrada.
Com o DEM isso não acontece. Não existe a opção de não o utilizar. Ou, existindo a hipótese de nos mandarem a conta para casa através de fotografia da matrícula, continua a não existir confidencialidade.
Será que isto é assim tão difícil de compreender?
Concluindo, a história das portagens nas SCUT foi mal pensada desde o início, e o Governo nunca aceitou que o sistema que pretende instalar põe em causa valores fundamentais da privacidade de cada um. Teimosia qb com habitualmente.