sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Não brinca quem quer. Brinca quem pode... ou quem tem!


Quando, passando os olhos pela blogosfera no final de um dia de trabalho, me deparo com isto, pretensamente uma brincadeira, um post irónico, digamos uma manifestação do mais puro british humor, aliás característico do autor, e reparo no título - À espera de Godot - imediatamente um pequeno excerto me surgiu, não a título de resposta, que há sempre quem não a mereça, mas em jeito de outra brincadeirinha:

"O sinal verde acendeu-se enfim, bruscamente os carros arrancaram, mas logo se notou que não tinham arrancado todos por igual. O primeiro da fila do meio está parado, deve haver ali um problema mecanico qualquer, o acelerador solto, a alavanca da caixa de velocidades que se encravou, ou uma avaria do sistema hidráulico, blocagem dos travões, falha do circuito eléctrico, se é que não se lhe acabou simplesmente a gasolina, não seria a primeira vez que se dava o caso. O novo ajuntamento de peões que está a formar-se nos passeios vê o condutor do automóvel imobilizado a esbracejar por trás do pára-brisas, enquanto os carros atrás dele buzinam frenéticos. Alguns condutores já saltaram para a rua, dispostos a empurrar o automóvel empanado para onde não fique a estorvar o transito, batem furiosamente nos vidros fechados, o homem que está lá dentro vira a cabeça para eles, a um lado, a outro, vê-se que grita qualquer coisa, pelos movimentos da boca percebe-se que repete uma palavra, uma não, duas, assim é realmente, consoante se vai ficar a saber quando alguém, enfim, conseguir
abrir uma porta, Estou cego."

José Saramago, in "Ensaio Sobre a Cegueira"

E assim é, de facto; nada de importante ou maléfico aqui se deseja; bem antes pelo contrário; o que certamente se pode concluir é que o verdadeiro literato, brincalhão, autor de posts de tão elevado nível, deve andar tão ocupado e a falta de jeito para a condução deve ser tanta que o seu pópó foi abaixo há já uns mesitos e o seu Godot lá passou tranquilamente na passadeira e ninguém deu por ele; e atrás passou o primo, e depois o tio e a tia e a avó a agora deve estar a chegar a vez do filho do tio dele. Digo eu, que realmente fico espantado com tamanha ironia.

Continuo a achar que o Senhor Lincoln tinha razão. Às vezes é melhor estar calado...

Aeroporto


Com tantas forças ocultas a pairar sobre Alcochete, aquilo está pior que o triângulo das Bermudas. Aeroporto novo? Nem pensar!

Factos Indesmentidos

Não sei se o primeiro ministro José Sócrates andou envolvido em suborno e corrupção no caso Freeport, mas estou ciente de cinco factos indesmentidos:

1) O processo de aprovação do estudo de impacto ambiental do Freeport foi o mais rápido de entre todos os processos da Agência Portuguesa do Ambiente;

2) A essa velocidade supersónica, esse estudo de impacto ambiental foi aprovado 3 dias antes das eleições que retirariam o PS do Governo;

3) João Cravinho, que pertence ao PS, quer saber o que terá levado um governo de gestão a tomar essa decisão de aprovação;

4) Foram formalizadas no mesmo dia de Março de 2002 a decisão de licenciamento do Freeport e a decisão de alteração da zona de protecção especial do estuário do Tejo, e esta última, despachada pelo então secretário de Estado Pedro Silva Pereira, já tinha por objectivo expresso “uma intervenção urbanística requalificadora da área”- ou seja, o Freeport.

5) As autoridades britânicas enviaram uma carta rogatória às autoridades portuguesas onde afirmam que o Eng. Sócrates é suspeito de ter "facilitado, pedido ou recebido" o pagamento de subornos.

Com a declaração de ontem, Sócrates explicou as dúvidas que estes factos geram para si próprio? Não me parece.

Sabendo-se que a crise económico-financeira é grave, e que o País precisa de um Primeiro Ministro com liderança forte, este estado de coisas é inquietante. Porque o primeiro-ministro devia estar concentrado nas soluções para a crise e não a defender-se de acusações.

Lamentável

Aceito os que defendem a honorabilidade de Sócrates, eu próprio acredito nela. Mas, não ajuda nada defender a seriedade de forma pouco séria.
Na Sic Notícias, Mário Betencourt Resendes, no afã de defender Sócrates, disse o indizível:"não podemos esquecer que a policia inglesa que acusa José Sócrates é a mesma que matou um brasileiro por engano no metro de Londres."
Daqui à cabala das forças ocultas é um passinho...
Lamentável!

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Todos os nomes


O escritor e censor do prec, José Saramago, saiu-se com mais uma extraordinária ideia. Desafiou Hillary Rodham Clinton a deixar cair o nome Clinton, como forma de se afirmar com plena individualidade na vida política. Mais, desafiou todas as mulheres casadas a deixarem cair os nomes dos maridos. Só não o decretou porque o prec já lá vai...
Compreendo que, vivendo num naco de terra espanhol perdido no meio do mar em frente ao grande deserto africano, Saramago tenha de vociferar para ser lembrado. Berrar o disparate tem sido uma técnica suficiente e lá vai relembrando o velho censor.
O caso escolhido é, no mínimo, infeliz. Os Clinton são assumidamente uma marca; se alguem aspirasse à emancipação seria Bill. Sou insuspeito para falar de Hillary, de quem não gosto, mas o seu carisma, a sua personalidade e protagonismo remeteram Bill para a história. Clinton hoje é Hillary. Saramago não percebeu.
Este claro complexo de Saramago poderá ter a ver com dois factores bem claros. Primeiro a sublimação da frustração pela sua Pilar... DEL RIO. Depois, por mais uma bajulação saloia à tradição castelhana, onde o nome matriarcal prevalece sobre o do homem.
A escolha e adopção de nomes, é hoje um acto de vontade e liberdade; Saramago, ao fim de tantos anos, continua a não conseguir compreender este tipo de atitudes.

Imprensa e Freeport

Com toda esta história do Freeport, está a passar-se algo pouco habitual em Portugal.
É sabido, e penso que consensualmente aceite, que os governos PS têm, normalmente, a chamada "boa imprensa" e que os governos de direita têm mais dificuldade em fazer passar a sua mensagem.
Com o actual governo também foi assim até há pouco tempo.
De repente sabe-se lá porquê, a imprensa começou quase toda a apontar armas a este caso.
O que terá falhado na relação entre as assessorias de imprensa do governo e o chamado 4º poder?
Vamos esperar mais algumas semanas para ver se terá sido apenas um arrufo de namorados ou se, pelo contrário, a imprensa terá percebido que não se pode prestar ao triste papel que por vezes tem desempenhado.

A INGENUIDADE, segundo Almada Negreiros



O Valor da Ingenuidade

"O maior perigo que corre o ingénuo: o de querer ser esperto. Tão ingénuo que cuida, coitado, de que alguma vez no mundo o conhecimento valeu mais do que a ingenuidade de cada um.
A ingenuidade é o legítimo segredo de cada qual, é a sua verdadeira idade, é o seu próprio sentimento livre, é a alma do nosso corpo, é a própria luz de toda a nossa resistência moral.
Mas os ingénuos são os primeiros que ignoram a força criadora da ingenuidade, e na ânsia de crescer compram vantagens imediatas ao preço da sua própria ingenuidade.
Raríssimos foram e são os ingénuos que se comprometeram um dia para consigo próprios a não competir neste mundo senão consigo mesmos.
A grande maioria dos ingénuos desanima logo de entrada e prefere tricher no jogo de honra, do mérito e do valor. São eles as próprias vítimas de si mesmos, os suicidas dos seus legítimos poetas, os grotescos espanatalhos da sua própria esperteza saloia.
Bem haja o povo que encontrou para o seu idioma esta denunciante expressão da pessoa que é vítima de si mesma: a esperteza saloia.
A esperteza saloia representa bem a lição que sofre aquele que não confiou afinal em si mesmo, que desconfiou de si próprio, que se permitiu servir de malícia, a qual como toda a espécie de malícia não perdoa exactamente ao próprio que a foi buscar.
Em português a malícia diz-se exactamente por estas palavras: esperteza saloia.
Parecendo tão insignificante, a malícia contudo fere a individualidade humana no mais profundo da integridade do próprio que a usa, porque o distrai da dignidade e da atenção que ele se deve a si mesmo, distrai-o do seu próprio caso pessoal, da sua simpatia ou repulsa, da sua bondade ou da sua maldade, legítimas ambas no seu segredo emocional.
Porque na ingenuidade tudo é de ordem emocional. Tudo.

O que não acontece com as outras espécies de conhecimento onde tudo é de ordem intelectual.
Na ordem intelectual é possível reatar um caminho que se rompeu.
Na ordem emocional, uma vez roto o caminho, já nunca mais se encontrará sequer aquela ponta por onde se rompeu.
O conhecimento é exclusivamente de ordem emocional, embora também lhe sirvam todas as pontas da meada intelectual."
Almada Negreiros, in "Ensaios"

É. A fria e seca análise da natureza humana, por um génio, português por sinal, perfeitamente aplicável então e nos dias de hoje. Sobretudo, quando somos surpreendidos por palavras e atitudes que nos atiram, sem hipótese de recuar, para a nossa irremediável ingenuidade...

INTELIGÊNCIA vs INCONSCIÊNCIA


“A consciência da inconsciência da vida é o mais antigo imposto à inteligência. Há inteligências inconscientes - brilhos do espírito, correntes do entendimento, mistérios e filosofias - que têm o mesmo automatismo que os reflexos corpóreos, que a gestão que o fígado e os rins fazem de suas secreções”
Fonte: "Livro do Desassossego"
Autor: Pessoa , Fernando

Mentirinha...

Ontem á tarde, enquanto Paulo Rangel desmentia a encenação de Sócrates sobre o "relatório da OCDE", a página electrónica do PS na internet foi alterada de modo a corrigir a informação que lá constava: em vez de "relatório da OCDE" passou a constar "relatório sobre a politica educativa para o primeito ciclo (2005-2008) realizado por peritos internacionais independentes".
Esta correcção foi estratégicamente introduzida depois de, logo no início do debate parlamentar, Paulo Rangel ter suscitado a questão da verdadeira autoria do relatório. Antes daquela correcção, o titulo da notícia no site do PS era "Relatório da OCDE elogia politica de educação do Governo de Sócrates".

Sócrates ainda gritou que o estudo "foi elaborado por peritos internacionais independentes e que foi assinado pela chefe de devisão das politicas educaticvas da OCDE". Mas, afinal nem isso era verdade.
Afinal, a amiga Deborah só assinou o prefácio ....

Sentir...


Se sou alegre ou sou triste?...

Francamente, não sei.

A tristeza em que consiste?

Da alegria o que farei?

Não sou alegre nem triste.

Verdade, não sei quem eu sou.

Sou qualquer alma que existe e sinto o que deus fadou?

Afinal, alegre ou triste?

Pensar nunca tem bom fim...

Minha tristeza consiste em não saber bem de mim...

Mas a alegria é assim...


Fernando Pessoa

Desígnio Nacional

Não é uma ideia nova, nem minha. Contudo, se antes era uma opção entre várias, hoje afigura-se-me como um imperativo moral, um desígnio nacional.
O Eng. Sócrates, para mim, não é um bom primeiro-ministro, muito longe disso. Tal não faz dele uma pessoa menos séria, ou menos respeitável quanto à sua honorabilidade. Contudo, a teia confusa para onde o seu nome é arrastado, com toda a injustiça que possa estar implicita, fere gravemente a sua imagem política.
Não estamos a falar de um ministro, de um ex-ministro, muito menos de um periodo normal da governação. Trata-se do primeiro-ministro encarregado de governar, com medidas dificeis, num tempo de excepcionais dificuldades. Podemos discordar de opções políticas, mas estamos todos de acordo que quem lidera o governo da nação tem de ser forte, inquestionável no caracter e ter a estabilidade suficiente para se concentrar nos grandes objectivos; Sócrates não reune estas condições.
Sendo público e notório que o país não se revê, nem confia, na Dra. Ferreira Leite;
Que a tradição eleitoral não permite a expectativa realista de uma transferência massiva de votos para um dos partidos de menor dimensão;
É urgente que o espaço político não socialista faça um esforço sério para oferecer aos portugueses uma alternativa credível para o governo da nação.
Tal esforço passaria pela elaboração de um programa de governo conjunto das forças democráticas à direita do PS. Um programa sério, rigoroso, abrangente, que possa apelar à maioria dos portugueses.
Depois, com abnegação, com a coragem de afrontar barões e aparelhos, encontrar o mais capaz entre os melhores e apresentar ao país um candidato comum a primeiro-ministro. Um candidato apoiado pelos líderes partidários, que se comprometa com o país, garanta o cumprimento do programa comum de governo e, de preferência, dê a conhecer o essêncial da sua equipa.
Dir-me-ão que nunca tal foi feito; pois não. Também é a primeira vez que vivemos um momento de tão profunda gravidade, chega como motivo.
É um desígnio nacional. Os portugueses saberiam corresponder.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

É de mim, ou...?

Deixo aqui, sem comentários, dois títulos do DN de hoje.
"Matou pai à machadada para se defender de catana"
"Ladrão ameaçou matar-se e pediu última cerveja"

Casamento homossexual

Suspeita-se que os meios mais conservadores do PS estejam a negociar com Sócrates a questão do casamento entre homossexuais.
Como o primeiro-ministro nunca falta à palavra dada, apoiará o casamento entre homossexuais, mas tudo indica que na próxima legislatura só admita discutir e aprovar o casamento entre homossexuais de diferentes sexos. O casamento entre um gay e uma lésbica, dado o caracter privado da orientação sexual dos conjuges, já é possível hoje, mas Sócrates poderá dar-lhe a visibilidade e notoriedade que ninguém deseja!
A bem da transparência, não está previsto nenhum tipo de benefício para os nubentes homossexuais que comprem o enxoval no Freeport.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

John Updike


Morreu John Updike. Confesso que o descobri há muitos anos, aí uns 26, depois de vistas 400 vezes as playmates e bunnies, nas páginas da Playboy. Updike publicava na Playboy os contos mais ousados, que a New Yorker não permitia. Como Kerouac, Murakami, Theroux, Borges, Gordimer e tantos outros grandes, deixou parte do seu legado impresso na criação de Hefner.
Com uma vida que nos deu mais de 50 livros e uma imensa série de contos, poemas e crónicas, foi distinguido por duas vezes com o Pulitzer e por outras duas com o National Book Award. Considerou sempre a publicação do seu conto "Friends from Philadelphia", o primeiro publicado pela New Yorker juntamente com um poema, como "the ecstatic breakthrough of my literary life."
O que sempre me atraiu em Updike, como em Carver, como em Ford, foi a intensidade com que pintou quadros de um realismo transcendente. A temática recorrente centra-se, nos seus principais livros através de Rabbit, no americano anónimo, classe média, na vida urbana de uma cidade-tipo e a forma como estas pequenas realidades ganham vida própria em paralelo com um século pleno de grandes acontecimentos. Como gostava de dizer: "My subject is the American Protestant small town middle class, I like middles. It is in middles that extremes clash, where ambiguity restlessly rules."
Como somos todos chegados a este culto dos recém partidos, é boa altura para ler ou reler a saga de Rabbit Angstrom, ou passear pela poesia inspirada e fotográfica do autor.

Verdades inconvenientes I

It is now 40-odd years since Peter Bauer taught us that aid is “a transfer of money from poor people in rich countries to rich people in poor countries.” Nothing that’s happened in those years has contradicted his judgment.

Just because


...And if a ten-ton truck
Kills the both of us
To die by your side
Well, the pleasure - the privilege is mine...

Como resistir?


Está a dar na RTP1 o Prós e Contras com o sugestivo título: "Como resistir?".
Entre os convidados, o ministro Manuel Pinho, especialista na matéria. Pela ordem natural das coisas, não seria ministro há já muito tempo, mas resiste... resiste...

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Denny Crane


Quem se der ao trabalho de ver a fotografia que uso no meu perfil aqui do blog, percebe que a minha amiração por William Shatner vem de longe. A escolha de Spock tem dois significados; o primeiro é a tentativa da supremacia da lógica na dialética com a sensibilidade e bom senso de Kirk, o segundo tem a ver com o gesto, a saudação do Vulcano sempre me fascinou pela simplicidade e grandeza: "live long and prosper!".
Se, sem complexos, posso dizer que Kirk é um personagem estruturante na formação da minha personalidade, não é menos verdade que o processo de evolução do Shatner pós-kirk me fascinou e fascina. A recusa da facilidade e a busca de um espaço para o verdadeiro Shatner é exemplo de coragem. Em vez de apascentar o infinito e rentável rebanho de trekkies, Shatner escreve o manifesto de libertação "Get a Life". Os anos 80 e 90 são um caminho de expiação e libertação com picos interessantíssimos, do teatro ao controverso cantor-diseur.
Eis-nos chegados a "Boston Legal". Ao lado de James Spader, Shatner cria mais uma vez um dos mais interessantes personagens de sempre: Denny Crane. O super-advogado a viver os seus últimos dias, condenado por uma doença progressiva e terminal - madcow, exuberante, sedutor, genial e controverso.
Denny Crane é o homem do inesperado, do aproveitamento da histeria dos media, do apalpão no rabo sedutor, da indumentária extravagante e cara, o repúblicano de sempre, o defensor das armas, da caça, do marialvismo, dos charutos e do whisky, acima de tudo, da intensidade que se recusa a negar a cada minuto. Mas, é também um homem a aprender a lidar com a aproximação do fim de uma vida de glória, a encaixar as limitações, a valorizar a amizade e os sentimentos, a devolver ao rio o peixe fisgado, a adiar a irresistível queca por uma conversa sincera e profunda, a aprender a expressar os afetos entre baforadas num churchill e golos lentos de whisky sob o céu noturno de Boston.

Denny Crane: I don't fear death - never have. But I do fear being hooked up to a machine ... would you want to live like that?
Alan Shore: No, Denny, if it came to that, I'd pull the plug.
Denny Crane: Pull the plug? That's no way to die. I want you to shoot me!

sábado, 24 de janeiro de 2009

Vicky Cristina Barcelona


É uma rotina anual. Para Woody Allen, fazer um filme; para mim, ir vê-lo.
Allen já não consegue fazer um mau filme, desenvolveu um estilo próprio e uma legião de seguidores, onde me incluo. Tem necessidade de fazer um filme por ano, alimenta os seguidores mas, ultimamente tem matado a fome, sem saciar ninguém.
A obra de estreia na Europa, Match Point, foi brilhante. Allen captou Londres com o mesmo feeling com que sempre filmou Nova Iorque. E, se o argumento lembrou muito o genial Crimes and misdemeanors, a forma como o filmou, a nova musa Scarlet Joahnnson e a filmogenia de Londres, garantiram um filme memorável. A segunda experiência londrina é para esquecer.
Esta primeira incursão a Barcelona resulta num objecto curioso, mas confuso. Em Londres, Allen não se travestiu de Ivory; em Barcelona, o filme foi tomado pelo fantasma de Almodovar. Desde a amoralidade e caracter freaky do triângulo amoroso com epicentro em Bardem (lucky bastard!), a uma certa estética e cadência da acção, é impossível não "ver" Almodovar; é estranho.
Depois, há coisas curiosas. Uma fala de Scarlet (Crsitina) na avionete a caminho de Oviedo é arrepiante porque parece um decalque, no tom e no modo, de uma qualquer fala de Allen nos filmes que protagonizou. A musica espanhola escolhida para a banda sonora, tem o swing típico dos velhos standards de jazz que Allen sempre usa nos seus filmes.
No lado menos bom, o filme tem o seu quê de encomenda do "Turismo de Barcelona", tem uma visão um tanto ou quanto ridícula do espirito local, tem um mau espanhol em Bardem e, mais triste, tem Penélope Cruz num mau papel. Para frustração de algum imaginário masculino, os beijos de Penélope e Scarlet não têm clima, Allen não é um cineasta do erotismo e, se em Match Point Scarlet esteve de uma sensualidade estonteante, aqui apareceu distante e baça.
No lado bom, tem o bom gosto natural de Allen e dos seus personagens, tem Scarlet Joahnsson herself e tem a deslumbrante descoberta de Rebecca Hall.
Como há tempos disse dos irmãos Coen, este ano não foi ano de Barca Velha, mas Woody Allen ficou-se por um Esteva que só a custo lembra o Douro.

Porto Franco

Segundo o que consta no site da APDL é um porto aberto a carga/descarga de mercadorias provenientes de qualquer parte do mundo, estando isentas de taxas de importação/exportação.
Será que em inglês técnico, freeport significa porto franco?
E será que não há outras isenções de taxas?

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Um ABRAÇO, Manel Correia. Um Grande e Forte ABRAÇO.

A mulher de César

Não quero com este post levantar qualquer tipo de suspeita sobre a eventual ligação de José Socrates ao caso Freeport.
Contudo, em política e na coisa pública, há outros factores a ter em conta. Estou a lembrar-me do aproveitamento político que o PS fez do caso Moderna, estou a lembrar-me de todas as outras inventonas que visaram descredibilizar ministros do governo PSD/CDS.
Na altura, Paulo Portas, Luis Nobre Guedes e Telmo Correia apressaram-se a encontrar os meios para o esclarecimento cabal da verdade. Ainda assim, há gentalha da laia de Ana Gomes que persiste na insídia e na calúnia. Que dirá esta gentalha agora?
O caso Freeport está a tornar-se insustentável para Sócrates, as buscas de hoje, a informação que vai saindo, são ameaças letais à credibilidade de um primeiro-ministro silencioso. Provavelmente, Sócrates nada terá a ver com qualquer ilegalidade, mas está na pele da mulher de César, e a prática dos seus camaradas abriu precedentes que não se esfumam facilmente.
Vamos aguardar, apesar do tempo correr contra Sócrates.
Por muito, muitíssimo menos, Sampaio expulsou Santana de São Bento... Para que Sócrates entrasse!

Oliveira


Na ultima pagina da Vanity Fair deste mês, o curioso Proust Questionnaire é feito a Dustin Hoffman.
Quando lhe perguntam a tradicional "Wich living person do you most admire?", Dustin Hoffman responde: "The Portuguese director Manoel de Oliveira, who is 100 years old and still working."
A idade ajuda, mas esta confirmação de Hoffman, depois de Clint Eastwood, confirmam o prestigio internacional do realizador portuense.
E eu desconfio que nem se sabe lá fora que esteve para ser avô da Claudia Jacques....

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Inauguration Day


Depois da intoxicação da festa, umas horas de paz para reflectir. Uma legião de observadores atentos, na qual me incluí, esperava mais do discurso de Obama. Queriamos o anuncio de medidas concretas, de políticas, de calendários. Pensávamos que ontem seria o início da acção.
Nada disto aconteceu. Tivemos um belíssimo discurso, quanto a mim, uns furos abaixo do discurso da vitória, mas ainda assim, muitíssimo bom. Quanto ao anúncio detalhado das soluções para os problemas do mundo: nada!
Honestamente, nunca tinha acompanhado o "inauguration day" com atenção. No final do dia de ontem, percebi que o discurso de Obama não poderia ter sido diferente. A circunstância só permite aquele formato e o discurso que eu esperava teria sido desperdiçado e inadequado. O dia foi de parada, de pompa, bailes e cerimónia; foi dia de simbologia, de politica e de história, neste ritual não caberia o plano de acção, virá a seguir.
Do que ficou do discurso: pragmatismo, lucidez, prudência e muito equilibrio. Ficou o anúncio de principios e valores que regerão o governo da América. Ficou alguma retórica, mas tambem compromisso e uma linha de rumo. Se tal acontecesse por cá, faria uma enorme diferença.

Finalmente, gostei de ver a forma segura e descomplexada com que igreja participa nos grandes momentos da vida pública. Não resisti a postar acima a fotografia do serviço religioso de ontem. Fico curiosíssimo para saber a opinião que sobre isto têm os jacobinos portugueses que oportunisticamente se colaram a Obama...

O Desgoverno Ou Uma Verdade Inconveniente

O País vai gloriosamente a pique por obra e graça deste Governo. A crise que o mundo atravessa é muito posterior aos desastres sucessivos da governação socialista em Portugal. Antes dessa crise, já Portugal estava a meter água por todos os lados. E o que se passa hoje no mundo não pode ser um álibi para o Governo português, por muito que ele tente convencer-nos do contrário.(....)

Temos a pior governação da Europa. A mais incompetente. A mais fracassada. A mais mentirosa. Essa governação preparou a catástrofe em todos os sectores da vida nacional. De facto, essa catástrofe foi provocada pela irresponsabilidade continuada e pela teimosia obstinada e aldrabona do Governo socialista em termos que não têm paralelo em qualquer dos outros países afectados pela crise.

Portugal não está apenas a perder a solvabilidade, a produtividade e a competitividade. O Governo socialista lançou Portugal num exercício de auto-encolhimento e de descrédito. O País está a perder a esperança, a confiança e a auto-estima. Se continuar assim, acabará por lhe minguar a capacidade de sobrevivência. E com o Governo socialista, sem dúvida continuará a resvalar nesse plano inclinado e fatal numa imparável aceleração. (...)


Vasco Graça Moura – Desgovernar e Mentir in DN, 21-01-2009

Futebóis


Não sou um espectador atento do mundo do futebol, por isso, admito ter ouvido ou interpretado mal; mas, se ouvi bem, acho que é de mandar interditar o Madaíl.
Será possivel que o sr. Gilberto tenha a pornográfica lata de advogar a construção de mais um estádio de futebol???
Será que alguem está a pensar que o tal campeonato nos pode servir para mais do que re-encher um ou outro estádio e chamar os turistas para os nossos hoteis e restaurantes?
Será que algum imbecil concebe que se enterre mais um €uro para pompas que satisfaçam alguma vaidade provinciana e parola?
Será que já há negociatas á vista, para alem das que interessam ao país?
Será que vão tentar vender a ideia do esbulho como investimento?

Duas Notas

Ouvi esta manhã na rádio o director-geral da FIL - Feira Internacional de Lisboa.
Não tendo nada contra a contratação de cidadãos estrangeiros para o desempenho de funções em empresas nacionais, da mesma forma que para nós, Portugueses, o nosso mundo laboral é cada vez mais alargado, acho inadmissível que este senhor não pronuncie uma única palavra em Português. Se fosse um cidadão Português a desempenhar a mesma função na Feira de Madrid, acham que ele teria sido contratado sem que se pronunciasse de uma forma irrepreensível em Castelhano?

A propósito dos apoios estatais às PME's, uma das condições que é imposta às empresas é a manutenção dos postos de trabalho.
Se a actividade das empresas desceu o que desceu, os trabalhadores ficam lá a fazer o quê? E não é o nosso Estado que tem procurado reduzir de uma forma tão intensa o número de funcionários públicos?
Olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009


Ontem ao elaborar um trabalho e após uma crítica de alguém mais próximo apercebi-me que em nome da dita verdade científica, que tanto critico, estava a por em causa a minha “verdade ética.” Todo o meu erro girou à volta do conceito de preconceito. Na tentativa de me livrar dos ditos preconceitos que habitam o meu ser, inconscientemente, caí num território pantanoso. O preconceito sempre existiu e sempre existirá. É fruto da cultura, das diferenças que caracterizam o ser humano no espaço e no tempo em que está inserido, é baseado na prudência ou no instinto humano de autoprotecção. Na cultura ocidental, em nome da igualdade e do politicamente correcto, quem demonstra alguma forma de preconceito é sumariamente crucificado pelos restantes membros da sociedade, que não se apercebem que ao faze-lo estão a ser igualmente preconceituosos. Há que distinguir entre o “bom preconceito” e o”mau preconceito”; o primeiro é o que nos leva praticar a discriminação injusta e precipitada, contra o nosso próximo; o segundo é sinónimo de prevenção e de prudência e permite-nos fazer a separação entre o certo e o errado e o bem e o mal. Se desejamos combater o preconceito injusto e a discriminação indevida, a solução não é impor uma igualdade mascarada e fictícia. A solução é admitir e esclarecer as diferenças e perceber que situações e pessoas diferentes exigem tratamentos diferentes, até porque o suposto “tratamento igual” pode gerar muitas injustiças.


Tentar destruir preconceitos à força é cultivar um relativismo moral que nos impede de distinguir entre o certo e o errado. Livres de preconceitos não temos de nos comprometer e não necessitamos de prestar contas a ninguém.

O grande dia!


A nação espera o seu 44º Presidente. Era assim que o New York Times abria a sua edição de hoje. Sem o suspense do dia das eleições, mas com uma carga simbólica igualmente forte, este dia de tomada de posse ficará indelévelmente marcado na história. Poucos presidentes ao longo da história americana terão sido tão esperados e desejados. Obama é o fiel depositário das esperanças de milhões, o homem escolhido para os guiar num tempo sombrio, agreste e de grandes tribulações.
Sendo um Obamista desde o primeiro minuto, não perdi a lucidez e não tenho ilusões quanto às diculdades enormes que Obama enfrentará. Caberá a Obama enfrentar a grande recessão e relançar a economia, recuperar a credibilidade dos Estados Unidos na cena mundial, gerir guerras em curso e planear o afrontamento aos inimigos dos americanos, dar passos claros na agenda ambiental e na cooperação. Não é pouco. Resta saber se é humanamente possível.
Os sinais de moderação, o cuidado de temperar alguma ousadia com experiência sólida, a meticulosa gestão da sua intervenção sobre os grandes temas, deixam antever muito menos revolução do que alguns imaginaram. Obama é, acima de tudo, um homem de bom senso e de consensos, realista e pragmático, mantendo o sal de um certo idealismo, de uma ideia de justiça e sociedade que deveriam nortear toda a acção política. É, como lhe chamei aqui há uns tempos um "outstanding regular guy", não é um leviano nem um revolucionário latino-americano maluco.
Espero o melhor, consciente das dificuldades e, acima de tudo, consiente que será, em primeiro lugar e antes de tudo, o presidente do Estados Unidos e de todos os americanos.

Por fim, a emoção. Obama trouxe paixão á política, como já não nos lembrávamos. Quem gosta, como eu de política, tem muito que lhe agradecer.
Não escondo que o factor raça terá influenciado a minha adesão inicial e impulsiva à marcha de Obama, a solidez, a profundidade e a credibilidade vieram depois. Mas, assumo-o sem problemas, e confirmo-o hoje ao emocionar-me sem reservas a cada lagrima de cada negro que estando hoje em Washington, ou em qualquer canto da nação, tem na memória a escravidão dos seus avós e no presente um irmão seu no comando dos destinos da Nação. É assim que se constroi um grande país.

God bless America!

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

20 mil léguas...


Um ano e 20 mil visitas. Estamos de parabéns. Esperemos que a nossa aventura continue, sempre com a linha que nos caracteriza: a total liberdade para sermos irreverentes, loucos,quando nos apetece, ou politicamente incorrectos.




Conversinhas inclusivas

- Ai Cristiano, Cristiano, já podes casar com o Ronaldo e continuas a lamuriar-te por teres perdido o emprego!

Congresso VII


Deixei passar algum tempo antes de comentários, porque o efeito do discurso do Presidente do Partido, Paulo Portas, só é relevante quando "confrontado" com o país e não com o congresso.
Hoje, parece-me claro que a forma e a substância foram as que se esperavam, as que abrem perspectivas ao desejado crescimento do Partido através do estabelecimento de um pacto de identificação e confiança com o eleitorado.
Foi muito importante a explanação do plano de redução da carga fiscal e a interligação do mesmo com políticas sociais urgentes; o discurso foi bem mais abrangente do que a teoria inicial da classe média alvo; ainda bem. De notar que, Paulo Portas foi sensato e moderado ao admitir como desejável, investimento público em áreas de necessidade e estruturantes para o desenvolvimento nacional. Como pudemos já ver, Sócrates veio a reboque, desmentir Teixeira dos Santos e anunciar possíveis baixas de impostos; falta-lhe mudar a agulha dos investimentos públicos, do faraónico e desnecessário, para o útil e indispensável.
No plano da segurança, o ponto forte de Paulo Portas, o tema foi bem abordado, sem demagogia nem alarmismos irresponsáveis, com a proposta de medidas concretas e exequiveis para problemas recorrentes e potenciadores do laxismo e aumento da criminalidade.
A educação é outra área forte, a que não será estranha a experiência e conhecimento de Diogo Feyo, em que, sem populismo, foi feito um verdadeiro xeque-mate ao governo. Aqui também, houve preocupação social e não de segmento ou classe.
Gostaria de ter ouvido um pouco mais sobre saúde, porque os problemas não se esgotam numa vacina ou ditos de circunstância. Ainda há tempo de sobra e o partido terá de reunir gente competente, eu diria de excepção, dada a dimensão do problema e a importância do sector, para encontrar um discurso sobre saúde ao nível do que já tem sobre economia, segurança e educação. Não faltam bons quadros no partido ligados ao sector, bastará pô-los a trabalhar em conjunto.
Revi-me em absoluto nas palavras de António Pires de Lima quando denunciou a falta de um discurso para a justiça; eu próprio já o tinha reclamado junto do líder por mais de uma vez. Há que reconhecer, sem complexos, que o partido não tem um historial brilhante no sector, mas tal não pode impedir-nos de o abordar, dá-nos, aliás, uma obrigação acrescida de demonstrar aos portugueses que, nesta área central e estruturante da vida pública, sabemos o que queremos e como fazê-lo.

Uma última nota para referir a minha satisfação com o sublinhado da matriz democrata-cristã que atravessou todo o discurso final. Também, com o cuidado tido na abordagem de temas como a imigração que, sendo abordados com o melhor dos objectivos e escrupuloso respeito por todos, se prestam sempre a especulação e demagogia por sectores mal intencionados, com voz demasiadamente amplificada nos media portugueses.


Congresso VI


Não posso deixar de aqui enderaçar as felicitações devidas aos militantes de Aveiro que foram eleitos para cargos nacionais do Partido.
Angela Couto,
Maria José França,
Miguel Capão Filipe,
Manuel Correia,
Diogo Machado,
Oscar Amorim,
Mário Simão,
Miguel Paiva,
são do melhor que o Partido tem. São um valioso contributo para que possamos regressar ao lugar que é o nosso. Eu também lá estarei, de novo, com lealdade, empenho e a paixão que me agarra a esta causa há tantos anos.

Congresso V


Este congresso com promessas de tanta renovação, revelou também a renovação da oposição dentro CDS. Ar Novo no CDS era anunciado em outdoor ousado na entrada do congresso; uma ideia interessante, não fosse a maioria dos congressistas achar que se tratava de marketing institucional da direacção de Paulo Portas.
Lá dentro, liderados por Filipe Anacoreta Correia e Pedro Pestana Bastos, um grupo de congressistas lutava por uma moção, perdão Popes, elaborada com cuidado e com seriedade. A dinâmica do grupo é evidente e refletiu-se na boa articulação demonstrada. O grupo, denominado Alternativa e Responsabilidade, apoiou-se nalgumas intervenções bem estruturadas, com destaque para Gonçalo Maleitas Correia e Gonçalo Moita.
Como colectivo, passaram razoavelmente para um primeira actuação em maior escala. Contudo, ficou no ar aquele ideia de Pirandello das personagens à procura de um autor, neste caso de um líder. Se Filipe Anacoreta Correia foi o coordenador desta primeira prestação, também ficou claro que o grupo terá de encontrar um verdadeiro líder com potencial, se quer arriscar vôos mais ambiciosos.
Como todas as renovações ficam aquém do desejado, esta não resistiu a carregar alguns passivos do passado. Não tenho dúvidas que erros estratégicos, como a inclusão de Martim Borges de Freitas na lista do Conselho Nacional, foram decisivos para o mau resultado obtido. O caminho futuro, para ter viabilidade, terá de ser de maior abrangência por um lado, e de corte com modelos falidos por outro.
Para já, ajudaram a tornar mais interessante este congresso, são a oposição mais credível que a direcção tinha dificuldade em encontrar, mas falta ainda muito caminho a percorrer. O futuro dirá.

Congresso IV

No Sábado, almoçamos num restaurante familiar com o Carlos Martins. Não havia enguias na ementa, mas valeu pelo reencontro com este digno liberal desaparecido em combate!

Congresso III


Na blogosfera, com humor inteligente e cortante, o 31 da Armada fez a cobertura do Congresso do CDS. Vale a pena ir lá ver!

Congresso II


No final de cada congresso do CDS há um momento único em que se desvanecem as conquistas e se relativizam as derrotas. O que vem a seguir, nem sempre se sabe. Mas, no momento em que se canta o Hino Nacional, há na sala verdadeira emoção, sentimento de pertença e verdade em cada palavra cantada.
Pronto, chamem-me piegas, mas acreditem que é mesmo assim.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Congresso I


Passei o fim de semana em estado de congresso. É um estado algo estranho, em que, de repente, achamos que o mundo é uma sala azul. As leis por que nos regemos todos os dias transfiguram-se, os sorrisos, os apertos de mão, os beijinhos e os abraços têm cada um significado próprio, são medidos na duração e na intensidade, dizem nada ou muita coisa. Perdemos bons discursos em troca de conversas bacocas, stressamos por nada que valha a pena, tudo parece questão de vida ou de morte. Televisões perseguem congressistas e congressistas perseguem televisões. Vende-se a alma por um lugar que não se chega a ocupar, há zangas e pazes em grande abundância. Num certo sentido, os congressos são o grande souk onde se regateiam pequenas vaidades e ambições. Ah, e também se fala do país, pelo menos, o presidente, que é a pessoa que no congresso se sente incumbida de dar para fora uma ideia de normalidade, de respeitabilidade.
Mea culpa, padeço do vício, embora com intensidade moderada. Confesso que os congressos fazem parte da minha vida, queria-os mais emocionantes e disputados, imagino golpes que possam acabar com as malfadadas directas. Quase tenho pena de não fumar nestas alturas, porque congressista que fuma parece que leva mais a jogo. Tenho um prazer secreto em cumprimentar quem menos me agrada a seguir a um discurso inflamado e perguntar-lhe novas da terra ou pela família; sobre o discurso nem um piu.
No fim, todos dizemos com enorme hipocrisia: esperemos que não haja outro no próximo ano! Que seja daqui por dois como mandam os estatutos!
Agora é altura de arregaçar as mangas e fazer qualquer coisa, antes que os socialistas rebentem com isto de vez!

Cartoons da Semana









sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Medo! Muito Medo!


O ministrozinho Pinho veio hoje todo mauzão dizer que, se as petrolíferas continuarem a exagerar visivelmente no roubo, terão de ser admoestadas. Pelo meio, foi tratando de as desculpar, mas como estamos em ano de eleições, fez a ameaça pífia.
O governo, e este ministrozinho e o jamé muito em particular, vive vergado aos interesses e ao grande capital. Depois, perante escandalos impossiveis de esconder, fingem que falam grosso, mas sai-lhes um gritinho esganiçado e que não convence ninguém.

Vestido para matar


Por falta de tempo, não pude escrever antes sobre a prestação de Miguel Cadilhe ontem na Comissão de Inquérito do caso BPN. Pensei que ao escrever hoje, já o faria sobre Cadilhe e sobre a demissão de Victor Constâncio. Apesar do apego despudorado de Constâncio ao cargo, pensei que agora é que era, tal a gravidade indesculpável dos factos.
Se a visível irritação de Cadilhe deixa margens interpretativas no plano político, dando alguma possibilidade de argumentação a Teixeira dos Santos; no plano do cumprimento dos deveres do Banco de Portugal e do seu governador, a coisa foi gravíssima, letal.
Da parte de Constâncio, o dia de hoje só poderia trazer duas coisas: um desmentido formal, bem estruturado e inquestionável, ou, obviamente, a demissão e um pedido de desculpas aos portugueses. Não fez uma coisa, nem outra. Não desmentiu porque não pode, não se demite porque perdeu a vergonha minima. Quando anda o país a negociar ratings, quando a credibilidade é imprescindível, o Banco de Portugal é o albergue do pior que se vê na vida pública portuguesa.

Basta! Se não sai pelo próprio pé, empurrem-no!

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Xiao Bush


Na grande exposição de Beijing que comemora os 30 anos do restabelecimento do relacionamento diplomatico entre a China e os Estados Unidos, há um heroi improvável: George W. Bush.
"Xiao" Bush como é carinhosamente chamado, multiplica-se em fotografias e filmes de proporções gingantescas ao longo da exposição.
Os chineses creditam a Xiao Bush e ao "pai" Bush o clima de abertura económica e "free-trade" que foi decisivo para o milagre económico chinês dos últimos anos.
Como se vê, há gostos para tudo...

Respeito ou cumplicidade?


A notícia do dia foi a amplificação das declarações de S.E.R. D. José Policarpo.
Ouvi, logo pela manhã, as ditas frases e passei por dois estados de espirito em dois tempos diferentes.
Primeiro, perguntei-me como teria sido possível dizer tais coisas, sabendo das implicações e que viria a acontecer o que, de facto, aconteceu.
Num segundo tempo, irritei-me comigo próprio. Irritei-me por ter instintivamente alinhado com a brigada do politicamente correcto. Irritei-me por me ter irritado com a constatação de uma verdade. Irritei-me porque também já assumi a condição dos que devem estar prontos a acatar todas as agressões e a calar todas as opiniões com medo que alguem se ofenda.
É um facto que, do ponto de vista político, D. José Policarpo esteve menos bem, comprometeu a sua imagem de activista do dialogo inter-religioso. Mas, também é um facto que só referiu factos, não mentiu.
É uma verdade incontornável o papel humilhante e redutor a que o Islão remete a mulher; o que lá são deveres a observar, cá é violação de direitos. É um caso de ténue fronteira, mas o respeito pela religião pode coincidir frequentemente com a complacência face ao desprezo por direitos fundamentais. De facto, uma jovem europeia que se iluda com uma tonteria de amor e siga o seu amado para determinado tipo de comunidades islâmicas, pode enfrentar, depois da embriaguez da paixão, a ressaca da sua vida.
Escusado será dizer, que fora deste âmbito fica o islão moderado e mais secularizado, o que aprendeu a viver em harmonia com o seu próximo e respeita as diferenças. Registo também o equilibrio da reacção do Sheik Munir, testemunho que a maioria do Islão português pertence a esta facção moderada.

Fenómeno


Aquilo que o Instituto de Meteorologia prevê para amanhã em Aveiro é um fenómeno! Com temperaturas entre 8º e 11º, vai nevar.

OAmbassadors


Nunca tive dúvidas sobre o maior activo dos Estados Unidos: a sociedade civil. Desde os chamados "pais fundadores", há com naturalidade uma consciência cívica intrinseca que prepassa toda a sociedade americana.
Estava hoje a zappar e, uma breve paragem no programa da Oprah, fez-me ficar. A comunicadora de massas, figura incontornável política e social, lançou mais um interessante projecto: os OAmbassadors.
Um pouco à semelhança dos nossos Leigos para o Desenvolvimento, Oprah lança uma mega operação de mobilização de jovens e de captação de fundos para ajuda a comunidades sub-desenvolvidas em pontos críticos do globo.
O testemunho dos primeiros 12 OAmbassadors, que estiveram no Quénia a construir uma escola e a abrir um poço para uma pequena comunidade, foi revelador e tocante. É a receita perfeita porque todos dão a todos, todos crescem e melhoram com a experiência.
Francamente, não sei se ganhou mais o menino que tem uma escola nova, se o jovem a quem foi dada a oportunidade de apreender a vida de forma muito mais rica e completa. Por um lado, dar escolas a África é o modo mais sério e sustentável de apostar no desenvolvimento; por outro lado, levar jovens do dito primeiro mundo a tomar contacto com as diferentes realidades do mundo, abre horizontes e pode criar a mudança de mentalidade necessária para a tão almejada solidariedade norte-sul, um desenvolvimento mais harmonioso do mundo no seu todo. Entre os milhares de jovens americanos envolvidos neste mega-movimento, estarão muitos que ocuparão cargos de poder a diversos níveis, a intensidade desta experiência poderá fazer a diferença no futuro.
Para além das carencias urgentes conhecidas, África precisa deste investimento de raiz e a prazo, a tal aposta em dar a cana e ensinar a pescar. Neste sentido, trabalham também muitos jovens portugueses nos já mencionados LPD. Pena é que, apesar do razoável mediatismo do Pe. António Vaz Pinto, não haja uma divulgação correcta do excelente trabalho desenvolvido, o que certamente serviria de estímulo a muitos jovens que precisam de um "empurrãozinho". Ficariamos todos a ganhar. É que África precisa de ajuda, mas Portugal precisa desesperadamente de gente bem formada.

Salvem o Zé Povinho


Eu, que não sou dada a grande patriotismo, quando ouvi falar do eminente fecho das Faianças Artísticas Bordalo Pinheiro, corri a comprar algumas peças deste grande artista. Não as mais emblemáticas, até porque os sapos, lagostas e couves, não me convencem esteticamente. Fiquei-me por algumas peças, um pouco mais "soft". Não foi uma compra racional, mas afectiva: o desejo de possuir um pouco do nosso património cultural. Visitei por duas vezes o museu Bordalo Pinheiro e foi uma experiência inesquecível. O kitsch destas peças é esteticamente imponente.
Centenas de moldes centenários das peças de cerâmica de Rafael Bordalo Pinheiro estão guardados numa cave da Fábrica de Faiança das Caldas da Rainha. Com a fábrica em risco de fechar, o que irá acontecer à vespa, às rãs, aos golfinhos mitológicos e a toda a fauna e flora criados por Bordalo? Há quem apele ao Estado para que ajude a manter vivo este património.
Interrogado sobre o assunto, na sexta-feira, o ministro da Cultura, José António Pinto Ribeiro, disse à Rádio Renascença que considera muito importante conservar os moldes, mas que o mais importante é "manter aquela fábrica viva" e que isso não passa pelo seu ministério. "Ultrapassa-me completamente enquanto ministro da Cultura." Sabe-se que o governo de José Sócrates tem ajudado algumas empresas que consideram ter “viabilidade económica”. Talvez valesse a pena olhar com mais atenção para este caso porque o que está em causa não é só o aumento do número de desempregados mas a perda de um património nacional que poderá ser irrecuperável.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Hinos

Anda toda a gente excitada com o hino de campanha de Avelino Ferreira Torres que poderá ouvir aqui.
O Enguia Fresca vai mais longe, e revela em primeira mão a capa do LP que contém o hino do MEP!

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Dúvida

Alguem me esclareça, que não sendo eu entendido em futebol, começo a ficar baralhado. O tal Bruno Hilário, perdão Rudolfo Morgano, perdão Cristiano Ronaldo, já foi declarado melhor jogador do mundo ontem, ou será hoje, ou foi ontem e será hoje outra vez?
A avaliar pelos noticiários de ontem, seria uma coisa consumada. Fiquei satisfeito, pois, não sendo coisa de particular magnitude, no contexto madeirense, pode trazer alguma alegria aos nossos irmãos ilhéus.
Os noticiários de hoje diziam que, afinal há qualquer coisa hoje á noite nesse sentido e que a decisão final é expectável, mas não 100% garantida.
Por muito mal que corra, lá nunca faz tanto frio, os madeirenses já estão habituados ao Alberto João e não há noticia que o Padre Frederico queira voltar á ilha.
P.s.: Este post não quer, de modo algum, denegrir a imagem da Madeira. Sei que a Madeira tambem tem gente civilizada, paisagens lindíssimas, o Hotel Reids e o formidável Vinho da Madeira.

Surreal

Na entrevista da semana passada, o primeiro-ministro conjecturou sobre o possível calendário eleitoral deste ano.
Neste fim de semana, mantendo o clima de picardia Belem-S. Bento, o presidente diz que não falou com ninguem sobre o dito calendário.
Neste momento de profunda e justificada apreensão com a recessão que já aí está, foi esta a grande notícia de domingo.
Estará tudo doido?
Achará alguem que este é um tema de interesse para algum português normal?
Isto anda bem pior do que eu imaginava...

domingo, 11 de janeiro de 2009

Fugu fashion


Há uns anos diria que era apreciador de comida japonesa, hoje começo a cogitar com amigos se o sushi e o sashimi não serão um vicio. Gosto de comida de vários tipos, com uma especial predilecção pelo cru; sou fã de todo o tipo de carpaccios, perco-me com um bom tartaro, mas com o sashimi é diferente, é inebriante, aditivo.
Depois das mecas que é obrigatório visitar: o Nobu de Nova Yorque, o Sushi Leblon no Rio ou o Tomo em Amsterdão, há um desafio que todos os apreciadores temem vir a enfrentar, muitos dão o passo de enfrentar. Falo, obviamente, do Fugu.
Para quem não sabe, o Fugu é o peixe que só o mais experiente sushi-man pode preparar e, mesmo assim, há uma aura de risco que paira a cada deglutição. O Fugu tem em si um veneno chamado tetrodotoxina (nos orgãos internos e pele) que actua como bloquador dos terminais do sistema nervoso central, paraliza todos os musculos, enquanto a vitima em pleno estado de consciência evolui até á morte por asfixia. Não há antidoto conhecido.
Resta dizer que os japoneses conseguiram criar um fugu de viveiro nao venenoso; foi um desastre comercial.
No livro o "O Clube dos Anjos", Luis Fernando Veríssimo usa o fugu como ponto de partida para uma interessante história á volta dos prazeres do palato e da dicotomia gula-morte.
Pessoalmente, dada a minha natureza de homem de compromissos, acho que manterei o vício sem necessidade de chegar ao Fugu, ainda quero andar por cá uns tempos a confraternizar com os amigos á volta do sushi e do sashimi.
Vem isto tudo a propósito dos que se precipitam a comer o fugu sem fazerem ideia do que estão fazer, que se entregam nas mãos do primeiro sushi-man, quantas vezes um chinês que se faz passar por japonês... Metem-se no que não dominam e pagam caro.
Há também os outros que, dando-se ares, comem com aparato fugu de viveiro. São tigres de papelão.
Por fim, merecem o meu respeito, os que sabendo a natureza do fugu, estendem tranquilamente o guardanapo no colo, seguram os pauzinhos sem a mínima tremura, olham o sushi-man nos olhos e engolem decididos.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Cavacas

Ainda no seguimento do post anterior e antes que alguém publique por aí uma fotografia de um pastel de nata e lhe chame cavaca, aqui fica a imagem das verdadeiras cavacas, aquelas que são atiradas do varandim da capela.

imagem retirada daqui http://umaporrolo.blogspot.com/2005_02_01_archive.html

Aveirense de Gema

Já não é a primeira vez que me surpreendo com o conhecimento profundo que o nosso "conterrâneo" Jorge Ferreira demonstra acerca de Aveiro.
Mas este post é demais.
Só gostava que ele nos dissesse de onde é que as cavacas seriam atiradas se esta fosse a capela de S. Gonçalinho. Seria da torre soneira ou da varanda do Centro Paroquial?
Jorge Ferreira
Pare de vez de falar daquilo que não sabe. Se vier passar uma temporada a esta terra, será certamente bem recebido e ser-lhe-á útil para aprender alguma coisa.
Se não o fizer, fale apenas daquilo que sabe.
Os Aveirenses agradecem.
E, já agora, se ler este post, aproveite para ver a imagem da capela de S. Gonçalinho.


O frio


Há não sei quantos distritos em alerta laranja por causa do frio. Não faz sentido, quando o frio aperta deveriam accionar o alerta roxo, cor de frieiras e do Walt Disney depois de crionizado. O alerta laranja, por motivos óbvios, deveria ser reservado para as epidemias de gripe ou de escorbuto.
Pelo meu lado, fiquei em alerta verde por causa do meu Sporting. Filipe Soares Franco, o único Senhor do futebol português, anunciou a sua indisponibilidade para se recandidatar. Em bicos de pés, lá apareceu Rogério Alves, o eterno disponível para qualquer cargo. Fiquei roxo, de irritação, embora, condizendo com o tempo, Rogério deixa qualquer leão gelado.

P.s.: Será que ainda aí vem o Moita Flores????

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Primeiros sintomas

José Socrates anunciou-se em campanha para nova maioria absoluta. Nos tempos de crise que vivemos, apesar do desnorte do PSD, nada está seguro para o PS. Vai daí, seguindo a pior cartilha do oportunismo político, começa a cativar da pior forma as corporações e os poderes susceptíveis de garantir votos.
Tenho o maior respeito por todos os autarcas sérios do país, mas imaginamos que os há menos sérios e escrupulosos, suspeitamos que toda a legislação feita para assegurar transparência e rigor não foi feita por acaso ou sem razões.
Tendo isto em conta, não posso ficar tranquilo com o anúncio do governo de aumento da capacidade de contratação por adjudicação directa dos municipios. O valor de base das obras passíveis de ajudicação directa passa dos actuais 150 mil euros para 5 milhões de euros. Um aumento de 3300%!!!
Com esta medida, visa-se proporcionar arranque de obra rápido (estamos em ano eleitoral!) e dinamizar a economia.
Os autarcas agradecem. Os autarcas sérios até poderão fazer mais e melhor, mas preocupa-me este principio de rega-bofe e, perdoem-me a desconfiança eventualmente exagerada, suspeito que estão a abrir a porta a desmandos e danos ao interesse público e á transparência.
Vai ser assim de agora em diante, o vale tudo!

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Primeiras impressões

Preocupado com o futuro, A. resolve consultar um vidente de renome.
Ao chegar ao "consultório", toca a campaínha.

- Faz favor. Quem é?

- Ooops, começamos mal!

A boa disposição ainda é de borla

imagem retirada daqui http://www.designerblog.it/post/4490/un-sacchetto-irriverente

Em momentos de crise e apesar da diminuição brutal do consumo, ainda há quem tenha ideias engraçadas.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

A entrevista II

Muito rapidamente, alguns pontos a reter para reflexão sobre a entrevista de Sócrates ontem na SIC.
Com um enorme atraso, depois de afirmações ridículas e irresponsáveis, o primeiro-ministro assume que Portugal entrará em recessão. É oficial.
Como receita para a crise, o primeiro-ministro joga tudo no investimento público como forma de relançar a economia. Falou da rede escolar, da energia, mas todos sabemos que virá aí o TGV, o aeroporto, a ponte e auto-estradas que não precisamos, que nos endividarão e que não colmatarão a brecha especifica de desemprego que a recessão criará.
Disse que salvará todas as empresas realmente viáveis! As empresas viáveis são isso mesmo, não precisam de ser salvas! As que precisam de ajuda são as que atravessam dificuldades e precisam de planos de reestruturação e apoios que as tornem viáveis.
Não ouvimos planos concretos de incentivo à dinamização do tecido empresarial, à captação de mais investimento estrangeiro, ao reforço da competitividade.
Do ponto de vista político, os dois factos da noite foram o pedido da maioria absoluta e a intenção de manutenção da tensão política com Belém.
O pedido de maioria absoluta revela a fragilidade de Sócrates e a sua percepção clara de que já a perdeu.
A tensão com Belém revela uma tentativa de afirmação forte e potenciadora de factos que distraiam os portugueses do essencial. Resta saber se Cavaco alinhará no jogo. Para já, o jackpot das eleições antecipadas parece fora de causa.
Esta entrevista, ao contrário do seu objectivo, ainda nos deixou mais preocupados e apreensivos quanto ao futuro.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

A entrevista


O primeiro destaque para a entrevista-super-produção desta noite na SIC vai para Ricardo Costa. Todos conhecemos a habilidade de Sócrates para este tipo de performances, já assistimos no passado a fretes inenarráveis de jornalistas da nossa praça; hoje Ricardo Costa fez a diferença: estava bem preparado, não se deixou intimidar, obrigou o primeiro-ministro a aprofundar matérias, logo a atrapalhar-se e vacilar. Foi a vedeta da entrevista.

Ainda alguém acredita?

Já aqui falei da DUPLA; já aqui coloquei esta fotografia, certamente irónica, nos tempos que correm.
Repito-a porque uma dúvida me assalta: terão ainda hoje estes senhores a mesma boa disposição e vontadinha de sorrir?

É que eu, simples cidadão, depois de ler ISTO, a propósito do Orçamento de Estado para 2009, fico ABSOLUTAMENTE CHOCADO! Considero até que o Sr. PM e o Sr. MF deveriam ter a honestidade intelectual de alegarem inesperados problemas do foro intestinal e saír de cena, para longe, bem longe. Eles e a "entourage", para não lhes chamar "comandita" que a tudo diz sim, que com tudo concorda, para quem os fins justificam todos os meios; para começar, podiam levar o sinistro ministro (bonita cacofonia...) da Presidência, de braço dado com o dos Assuntos Parlamentares. E a dupla "Lino/Pino", já agora.

Não acredito em tanta desfaçatez, em tamanha falta de pudor político, não acredito que alguém, mesmo o PM Sócrates, sinta ou ache que a verdade se constrói ou depende do objectivo que se quer atingir; talvez mesmo só ele pense e aja dessa forma, ele e os seus. Porque já outros, talvez os BONS, tinham AVISADO PARA O EMBUSTE. E alertado para a falcatrua, a "engenharia financeira", a mentira, o enganar descaradamente.

Estou realmente chocado, com a DUPLA, com a COMANDITA e talvez com o nosso PR, cuja atitude me parece demasiado branda, para quem se empertigou tanto com questão tão importante como o Estatuto dos Açores...
Ao que parece, não terá ficado tão incomodado com a mentira descarada com que tentaram enganá-lo, quanto ao Orçamento de Estado para 2009. E vai daí, toca de pedir umas explicações para poder promulgar.

Resta a dúvida, cabal e pertinente aliás, se as alterações que foram produzidas não terão, elas próprias, produzido um novo OE, sujeito a nova apreciação em sede de Assembleia da República.

Manobras dignas de uma qualquer "democracia latino-americana", que isto do "diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és" nunca deixou de ser verdade.
Enfim, começam 2009 como acabaram 2008, sem crédito e, mais importante, sem qualquer tipo ou espécie de vergonha na cara.